O Miolo Lote 43 de 2012
Já está à venda a última edição do tinto ícone da vinícola gaúcha Miolo, o Lote 43 2012. Mescla de Merlot e Cabernet Sauvignon do Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, amadureceu por 12 meses no carvalho e estagiou mais dois anos na garrafa. Os cuidados se refletem na qualidade, confirmando que é realmente um dos melhores vinhos produzidos no Brasil. A família Miolo o apresentou em um grande evento realizado esta semana em São Paulo, comandado por Adriano Miolo, enólogo e superintendente do grupo. “A safra de 2012 foi uma das melhores dos últimos anos”, ressaltou ele. Vale lembrar que o Lote 43 só é elaborado em colheitas excepcionais. Em 17 anos, desde que surgiu, foram apenas sete versões – e algumas delas puderam ser provadas durante o encontro. Para Adriano, “o Lote 43 também é uma testemunha da evolução da vitivinicultura brasileira nas últimas duas décadas”.
O tinto top foi lançado em 2001, com uvas da grandiosa safra de 1999. Nasceu por acaso. Quando os vinhos daquela colheita ainda estagiavam na adega, a equipe da Miolo percebeu que uma determinada parcela se destacava das demais, pela estrutura e equilíbrio. Decidiu então engarrafá-la separadamente. Era preciso escolher um nome para aquele novo rótulo. Fábio Miolo, irmão de Adriano, lembra que pensaram inicialmente em Gran Reserva, pois em 1997 a família havia entregue o Miolo Reserva. Mas na época, outra empresa utilizou Gran Reserva e foi preciso buscar uma alternativa. “Lembramos então do nosso bisavô Giuseppe, que chegou da Itália em 1897”, conta Fábio. “Pesquisamos a escritura original das primeiras terras em nome dele, onde hoje é o Vale dos Vinhedos, e lá estava escrito o endereço Lote Rural 43”.
O Lote 43 1999 logo virou um sucesso de público. O problema veio depois. “O desafio era reproduzir aquele mesmo vinho nos anos seguintes”, destaca Adriano. O trabalho começa nos vinhedos, com manejo rigoroso e baixo rendimento. No caso, somente 1,5 kg de uva por planta. Mas o fator principal é mesmo o clima, normalmente chuvoso na Serra Gaúcha no período de maturação dos cachos. Das duas castas que entram no corte do tinto, a Merlot é bastante regular de colheita para colheita. A dificuldade está na Cabernet Sauvignon, que não amadurece bem em anos úmidos. “O nosso limitador é a Cabernet Sauvignon”, observa Adriano. “Por isso, fazemos o Lote 43 somente nas safras em que ela atinge a maturação desejada”.
Até agora, isso aconteceu apenas em 1999, 2002, 2004, 2005, 2008, 2011 e 2012. Em 2013, 14 e 15 o tinto não foi elaborado. Da última edição foram produzidas 90 mil garrafas. No evento organizado em São Paulo, a Miolo ofereceu aos convidados uma pequena degustação vertical do Lote 43, para mostrar como evolui com o tempo. Foi possível provar os vinhos das cinco colheitas mais recentes, com destaque para 2012, ainda jovem, e especialmente 2005, um tinto soberbo.
Miolo Lote 43 2012
Grupo Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 170 – Nota 91
A safra de 2012 foi marcante na Serra Gaúcha. Verão quente e seco. Choveu pouco, abaixo da média, e as plantas foram levadas a um ligeiro estresse hídrico. Com isso, a Cabernet Sauvignon (40% do corte) atingiu plena maturação vegetativa e fenólica, que se reflete no vinho. A Merlot (60%) também andou muito bem. Amadureceu por 12 meses em carvalho francês novo e usado, com tempero de carvalho americano. Na cor é rubi púrpura. Os aromas lembram eucalipto, ameixa, especiarias, tabaco, frutas secas. Tem bom corpo, é estruturado, untuoso, com boa acidez e frescor. Chama a atenção pelos taninos redondos, aveludados, um vinho com força e elegância. O rótulo traz a certificação D.O. Vale dos Vinhedos, primeira região do Brasil a receber o selo de Denominação de Origem (14%).
Miolo Lote 43 2011
Grupo Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 150 – Nota 90
Ano bom, seco, um pouco menos quente que 2012. Deu um tinto mais austero, igualmente equilibrado. Merlot e Cabernet Sauvignon entram na composição. Ao nariz mostra notas terrosas e florais, tabaco e especiarias, em base de fruta madura. Encorpado, taninos firmes, de boa qualidade, acidez agradável, tem persistência e elegância. Está mais pronto para beber (14%).
Miolo Lote 43 2008
Grupo Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – Nota 90
Neste ano o lote passou a ter predominância de Merlot sobre a Cabernet Sauvignon, para atender à legislação da D.O. Valedos Vinhedos, proporção que se mantém nas versões posteriores. Um tinto que evoluiu bem, com notas de couro e de trufas do envelhecimento. Cereja, ameixa, tabaco e especiarias também aparecem nos aromas. É menos encorpado, mas oferece taninos macios, equilíbrio e frescor.
Miolo Lote 43 2005
Grupo Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – Nota 91
A colheita de 2005 na Serra Gaúcha foi daquelas chamadas históricas, assim como tinham sido as de 1991 e 1999. A estiagem começou em meados de novembro do ano anterior e se estendeu até março. A pouca água e a abundância de luz solar favoreceu o acúmulo de açúcares e a completa maturação dos frutos. As noites com temperaturas amenas ajudaram a manter a acidez. Merlot e Cabernet Sauvignon, que na época entravam em partes iguais na composição do Lote 43, atingiram graduações bem mais elevadas que a média. Condições para um vinho equilibrado e com bom potencial para guarda, o que se confirma hoje. O 2005, ainda firme na cor, tem complexidade de aromas. Apresenta cereja e amoras, em meio a notas trufadas, de tabaco, especiarias e de frutas secas. Na boca é encorpado, untuoso, macio e equilibrado. Mantém acidez e frescor e envelhece lindamente (14%).
Miolo Lote 43 2004
Grupo Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – Nota 89
O mais austero do painel, com alguma rusticidade e a acidez forte que marca muitos tintos brasileiros. Mas ainda está bom de beber e se sai bem com comida. No nariz há notas de chocolate, florais, a violeta, de couro e de cereja. Tem taninos firmes e boa persistência final.
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