Os vinhos do tenor Andrea Bocelli

by José Maria Santana | 17/10/2016 15:53

 

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Andrea Bocelli (ao centro): vinhos para trazer felicidade

Na mesma semana em que o tenor italiano Andrea Bocelli encantou as plateias de São Paulo com sua voz aveludada, seu irmão Alberto apresentou os vinhos que ambos produzem na propriedade da família na Toscana. A prova aconteceu em um evento organizado pela importadora Italiamais, que distribui seus produtos em nosso país. Foram avaliados quatro rótulos, sendo um branco e três tintos, de grande qualidade. A produção de vinhos pelo grupo ganhou força com o sucesso de Andrea em todo o mundo, mas a paixão pelo vinho é anterior, pois a família Bocelli tem tradição agrícola de quase 300 anos. “A ideia é de que no Brasil as pessoas que bebam nosso vinho encontrem sempre motivo de felicidade”, disse Andrea em rápida e simpática passagem pelo evento.

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Os irmãos Andrea e Alberto

A história começou com Bartolomeu Bocelli, que em 1730 estabeleceu a pequena azienda agrícola Poggioncino em Lajatico, vilarejo de apenas 1.400 habitantes, perto de Pisa, 50 km a sudoeste de Florença. Durante muito tempo seus descendentes viveram no campo, cultivando grãos, criando gado, plantando oliveiras, colhendo mel, produzindo azeite e vinho para consumo próprio. Nos anos 1930, Alcide, avô de Andrea e Alberto, expandiu e modernizou a produção de vinho. Seu filho Alessandro seguiu o mesmo caminho, com apoio da mulher, Edi. A mamma ainda está ativa e atenta a tudo.

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A família Bocelli

Quando o pai, Alessandro, morreu, os filhos decidiram continuar seu trabalho e a manter viva a produção de vinhos, de que ele tanto se orgulhava. “Fazemos vinho por paixão e não para enriquecer”, disse Andrea certa vez. Assim como o irmão famoso, Alberto, que é arquiteto, tem outros afazeres. Mas ele e a mulher, Cinzia, administram a azienda, com ajuda do filho mais velho, Alessio, o único que se dedica exclusivamente à empresa. Andrea acompanha os negócios e quando termina suas longas tournées faz questão de sempre voltar para Lajatico, onde mora com a mulher, Veronica, e a filha, a pequena Virginia.

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A azienda Poggioncino, em Lajatico

A Bocelli Wines produz 400 mil garrafas por ano, sendo 40 mil em Poggioncino e 360 mil com uvas de outras regiões da Itália. Seus vinhedos próprios estão plantados com as uvas típicas da Toscana, como Sangiovese, Canaiolo, Colorino, Malvasia e Trebbiano. Algumas vinhas são especiais, com mais de 70 anos de idade. Há 10 anos, os irmãos iniciaram o cultivo de Cabernet Sauvignon. O manejo é cuidadoso, sustentável, sem uso de pesticidas ou de outros produtos químicos. Na vinificação são utilizadas apenas leveduras indígenas. Na cantina, a equipe é comandada pelo respeitado enólogo Paolo Caciorgna – que também ajudou o cantor Sting a desenvolver sua badalada vinícola na Toscana.

É interessante notar que a família Bocelli preserva antigas tradições dos viticultores toscanos. Nas vinhas destinadas ao Poggioncino, seu tinto ícone, as castas tintas e brancas são plantadas misturadas, como se fazia antes na zona do Chianti. Para a elaboração do tinto Sangiovese IGT, é usado o sistema de “governo”, outro método peculiar da região: na hora da colheita, 20% das uvas são separadas e colocadas a secar com ajuda de ventiladores. A parcela restante é fermentada normalmente. Ao final, junta-se o lote ligeiramente apassivado, portanto mais concentrado, e faz-se uma segunda fermentação. Com isso o vinho ganha estrutura e complexidade.

bocelli-vinhosO portfolio da Bocelli Wines é diversificado. Oferece um espumante Prosecco, feito, como se sabe, com uvas do Vêneto; um branco de Pinot Grigio; e os tintos Sangiovese IGT, Chianti, Tenor Red IGT, Poggioncino, Terre de Sandro IGT, Alcide IGT e In Canto IGT. Nenhum deles é vendido na Itália. A comercialização das garrafas no exterior é organizada por Antonio Sanguineti. De início, a importadora Italiamais, de Alexandro Paesani, trazia para o Brasil apenas o Sangiovese IGT, mas até o final do ano terá no estoque outros rótulos da vinícola.

 

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Alessio (à esq.) e o pai, Alberto: nomes com a letra A

Uma curiosidade

Para evitar confusão com os vizinhos, Alcide Bocelli, avô de Andrea e Alberto, começou a marcar seus bois e vacas na década de 1930 com as iniciais AB. Quando seu filho nasceu, resolveu dar-lhe o nome de Alessandro Bocelli, para que continuasse a usar no gado a mesma marca AB. E o mesmo fez Alessandro, que chamou seus filhos de Andrea, o mais velho, e Alberto, o caçula, para que mantivessem a tradição da marca AB. Foi nesse ambiente do campo que os garotos cresceram. Ainda hoje, em meio aos outros compromissos e o envolvimento de Andrea com a música, e de Alberto com a arquitetura, criam vacas e cavalos, cultivam trigo e produzem vinho. A propósito, o filho mais velho de Alberto, Alessio, segue a tradição da família de dar aos primogênitos nomes que comecem por A.

 

Vinhos

No evento realizado na semana passada em São Paulo, foram provados cinco vinhos de quatro rótulos diferentes. A Italiamais informa que os estoques são limitados.

 

bocelli-pinot-grigioBocelli Pinot Grigio IGT 2013

Bocelli Family Wines – Vêneto – Itália – Italiamais – R$ 159 – Nota 90

Para este branco delicado e bem feito, as uvas vêm de vinhas velhas, com mais de 30 anos, das Colli Euganei, no Vêneto, de baixo rendimento. Nos aromas há cítricos, notas florais, de erva-doce e algo salino, mineral. Mostra boa estrutura, acidez agradável e frescor. Um vinho seco, boa companhia para peixes, queijos e presuntos (12%).

 

Bocelli Sangiovese IGT 2013bocelli-sangiovese

Bocelli Family Wines – Toscana – Itália – Italiamais – R$ 169 – Nota 90

Os vinhedos ficam na zona do Morelino di Scansano, na Maremma, perto do mar, que influencia o clima local com as brisas frias à noite. A amplitude térmica ajuda a amadurecer bem a Sangiovese, casta de trato difícil, tardia e com propensão a desenvolver acidez elevada. O uso do antigo sistema de “governo”, em que 20% das uvas são levadas a desidratar e fazem uma segunda fermentação, também ajuda a amaciar o vinho. Um terço do lote amadurece por quatro meses em barricas usadas de carvalho francês. No 2013, os aromas lembram cereja, ameixa, champignon, ervas, tabaco e há um toque terroso. No paladar tem corpo médio, frescor, é equilibrado e elegante. Já está no ponto para beber (13%).

 

bocelli-sangiovese-2015Bocelli Sangiovese IGT 2015

Bocelli Family Wines – Toscana – Itália – Italiamais – R$ 169 – Nota 90

A última safra do Sangiovese IGT mostra um vinho com mais vivacidade e frescor, fruto de um ótimo ano para os vinhedos. Ao contrário de 2013, em que o calor excessivo levou as uvas à quase sobrematuração, 2015 foi equilibrado, seco, verão quente, mas com temperaturas amenas à noite. As condições climáticas ideais se traduzem em um tinto de bom corpo, mais estruturado, com grande frescor. Traz ao nariz notas florais, a violeta,  arruda e figo, em base de frutas vermelhas. Taninos firmes, maduros, e final longo. Ainda jovem, deve recompensar quem tiver paciência para deixá-lo repousar alguns anos na adega (13,5%).

 

bocelli-tenor-redBocelli Tenor Red IGT 2014

Bocelli Family Wines – Toscana – Itália – Italiamais – R$ 200 – Nota 90

Um supertoscano, que prefere a classificação básica IGT pois foge da receita clássica. No corte há 33% de Sangiovese e 33% de Merlot, ambas de vinhedos da zona do Morellino di Scansano, e 34% de Cabernet Sauvignon, da região de Bolgheri. Ou seja, vinhedos de áreas litorâneas. No caso, a Merlot é adotada para amaciar a Sangiovese. Uma pequena parte do lote (10%) envelheceu por oito meses em carvalho usado.  Encorpado, estruturado, apresenta muita fruta. Ao nariz, recorda cereja e cacau. Tem taninos maduros e boa acidez. Ainda jovem, tem perfil moderno (13,5%).

 

Bocelli Poggioncino IGT 2015bocelli-poggioncino-2

Bocelli Family Wines – Toscana – Itália – Italiamais – R$ 265 – Nota 91

O mais interessante do painel, elaborado com 60% Sangiovese, 20% Canaiolo, 10% Malvasia Bianca e 10% Colorino, das vinhas velhas da propriedade de Lajatico que lhe dá o nome. Metade do lote amadurece por 18 meses em barricas de carvalho francês de segundo uso. É um tinto mais aberto e com mais acidez, perfeito para acompanhar comida. Nos aromas há notas florais e minerais e algo vegetal, em base de fruta, a framboesa, morango e cereja. Em corpo médio, tem taninos firmes, maduros e final longo. Destaque para o frescor (13%).

 

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