Entrevista Ignacio Calvo – Diretor geral de Bodegas Macán
A Bodega Macán. situada na Rioja Alta, foi lançada oficialmente em 2013, depois de amadurecer por 10 anos e muitas pesquisas. Surgiu de uma parceria entre o casal Benjamin e Ariane de Rothschild e a família Álvarez, de Vega Sicilia, ícone da Espanha. O barão Benjamin, do ramo francês da família Rothschild, é banqueiro e homem de negócios, envolvido também com empresas vinícolas. Entre outras coisas, preside o Edmond de Rothschild Group, banco estabelecido por seu pai na Suíça. Ao visitar São Paulo esta semana, o gerente geral da Macán, Ignacio Calvo de Mora Brito Cunha deu entrevista ao Brasil Vinhos. Ele fala da implantação da vinícola, do uso da madeira nos vinhos e das características de seus tintos. Ignacio é espanhol, mas descende de uma família portuguesa por parte da mãe.
Como surgiu a Macán?
O projeto começou no princípio dos anos 2000, quando o barão Benjamin de Rothschild e Pablo Alvarez se conheceram, graças a amigos comuns. O barão Benjamin é banqueiro, mas também o maior acionista individual do Château Lafitte e comanda a companhia vinícola Edmond de Rothschild, dona do Château Clarke e Château des Laurets, em Bordeaux, da bodega Flechas de los Andes, na Argentina, e parceira de vinícolas na África do Sul e na Nova Zelândia. No encontro, o barão Benjamin perguntou a Don Pablo se estava com algum projeto novo. Ele disse que sempre teve ideia de dar um passo na Rioja. Todo espanhol vê a Rioja como a origem do vinho tinto no país. É a denominação mais antiga, tem um considerável potencial de terras e de vinhas e por isso atraía a família Álvarez. Então o barão Benjamin propôs que dessem esse passo conjuntamente.
E como evoluiu?
Don Pablo ressaltou que ao entrar em um projeto, a família Álvarez está habituada a pensar em algo sólido, de longo prazo, como foi feito com Alión e Pintia, duas outras vinícolas de Vega Sicilia. A rentabilidade imediata não é importante. O barão Benjamin respondeu que para ele isso também não é problema, que está acostumado a esperar duas gerações para um empreendimento se consolidar. Assim surgiu a parceria.
Quando foram comprados os primeiros vinhedos?
Em 2004. Para escolher as melhores terras fizemos uma seleção rigorosa e sigilosa, por meio de um escritório especializado. Toda gente queria saber quem estava por trás do negócio. A região da Rioja, Navarra e Alava têm, juntas, 48 mil hectares plantados com uvas e na época havia muitas vinhas disponíveis. Mas encontrar áreas com grandes dimensões era complicado. No final compramos 120 hectares na zona de San Vicente de la Soncierra, perto de Haro, na Rioja Alta, com um total de 90 ha. de vinhas. Depois construímos uma nova adega ali perto, em Samaniego, que ficou pronta no ano passado.
Quais as características do terroir?
Tem um microclima especial, com uma confluência atlântico-mediterrânea. Os vinhedos se situam a uma boa altitude, no sopé da Serra Cantábria, pois queríamos evitar os altos rendimentos que costumam ter os vinhedos situados à beira do rio Ebro. Predominam solos argilo-calcários. É uma região muito protegida ambientalmente e o projeto arquitetônico da adega precisou levar isso em conta. Está perfeitamente integrado à paisagem, parece uma continuação da montanha.
Quando foi lançado o primeiro vinho?
O primeiro Macán foi produzido em 2006, mas não foi comercializado. A primeira safra a sair ao mercado foi a de 2009.
E hoje, quais vinhos são produzidos?
Produzimos apenas dois tintos, no sistema bordalês de primeiro e segundo vinhos. O top é o Macán e o segundo, o Macán Clasico. A diferença entre eles é basicamente a seleção de uvas. O Macán Clasico é fermentado em tanques de inox e o Macán, em tonéis de carvalho. O padrão de qualidade é o mesmo que marca os vinhos Vega Sicilia. O Macán amadurece entre de 14 e 16 meses em barricas de carvalho francês.
Quantas garrafas são produzidas?
Nos primeiros anos, entre 90 mil e 100 mil garrafas no total. Em 2014 aumentamos a produção em 50% e para este ano a ideia é que saiam 200 mil garrafas. A capacidade máxima da adega atual é de 300 a 350 mil. Mas estamos mais preocupados com a qualidade do que com a quantidade. Queremos ser o Valbuena da Rioja, pois o Unico está em outro patamar, é realmente único.
Do início até agora, houve alguma mudança de estilo?
No começo utilizávamos 100% de madeira nova, mas ela marcava demasiado o vinho. Na Rioja, a Tempranillo tem expressão mais mineral. É mais delicada, tem a pele mais fina que a mesma uva na Ribera del Duero, que é mais complexa, ou em Toro, onde se apresenta mais robusta e rugosa. Por isso, Macán gradativamente aumentou a porcentagem de madeira usada.
De onde vem o nome Macán?
É uma referência ao apelido dado às pessoas nascidas em San Vicente de la Soncierra, onde ficam as nossas vinhas. São chamados de macanudos.
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