Chandon, referência em espumantes brasileiros de qualidade
Com mais de 40 anos de atividade no Brasil, a Chandon, de origem francesa, se mantém como referência de qualidade quando se trata da produção de espumantes, uma das vocações da vinicultura do nosso país. As estrelas da casa, como os rótulos Excellence Brut e Rosé, Chandon Brut e Passion, brilham o ano todo, mas têm lugar privilegiado nesta época das festas de Natal e Réveillon.
Nesta semana, Sergio Degese, diretor-geral da Chandon Brasil, reuniu a imprensa especializada em um evento em São Paulo para mostrar seus vinhos e falar do trabalho desenvolvido nos últimos anos pela equipe da casa, tendo à frente o excepcional enólogo francês Philippe Mével.
Entre os espumantes, uma novidade, uma edição exclusiva do Excellence Cuvée Prestige Brut da safra de 2009, apresentada apenas em garrafa Magnum, isto é, de 1,5 litro. Aqui Mével se superou. O projeto começou como experiência, para avaliar o potencial de desenvolvimento do espumante nacional ao longo do tempo. O lote não seria comercializado – tanto que as garrafas servidas aos jornalistas ainda estavam sem rótulo. Depois de dois anos em tanques de inox, em contato com as leveduras, e seis anos de garrafa, o resultado ficou tão bom que a empresa decidiu lançá-lo em breve ao mercado.
Grande potencial
Antes de analisar os vinhos, é interessante conhecer um pouco da história da vinícola. Em 1973, a Maison Moët & Chandon, ícone da região de Champagne, na França, decidiu apostar no potencial vitivinícola brasileiro e inaugurou a Chandon em Garibaldi, no Rio Grande do Sul. O investimento cresceu e se consolidou. Hoje, a empresa é líder no segmento de vinhos espumantes naturais de luxo.
Além do Brasil, a Moët & Chandon tem filiais na Austrália, Califórnia e Argentina e, mais recentemente, no Japão e na China. Todas integram o grupo Moët Hennessy, a divisão de vinhos e destilados do conglomerado francês de luxo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton).
Por que a escolha do Brasil? Uvas de qualidade são o principal pré-requisito para um bom vinho espumante natural. E os franceses acharam que o terroir da Serra Gaúcha tinha muito potencial para o desenvolvimento da matéria-prima que buscavam. Assim, compraram terras e instalaram a adega em Garibaldi, pequena cidade já com larga tradição na produção de vinhos borbulhantes, sede de vinícolas como Peterlongo e Georges Aubert.
Como se sabe, o espumante natural é aquele que ganha espuma e borbulhas quando o vinho base passa por uma segunda fermentação em ambiente fechado. Isso pode acontecer em autoclaves, tanques fechados de inox, método conhecido por Charmat, ou na própria garrafa, processo desenvolvido na região de Champagne, na França, chamado de Clássico ou Tradicional.
O clima da Serra Gaúcha, muito chuvoso, pode não ser ideal para os tintos e brancos normais, mas proporciona boas condições para as uvas que dão origem aos espumantes brasileiros – a tinta Pinot Noir e as brancas Chardonnay e Riesling Itálico.
O final do ciclo de maturação e o começo da vindima coincidem com o verão, normalmente tempo de chuvas, quando é arriscado deixar por mais tempo os cachos no pé. A colheita precoce resulta em bagas com menos açúcar e mais acidez. Se não é bom para os chamados vinhos tranquilos, é uma situação bastante favorável para os espumantes naturais. Por isso, a marca dos espumantes brasileiros é o frescor.
Evolução
Philippe Mével destaca que o microclima da Serra Gaúcha, temperado e com noites frescas, possibilita a lenta maturação e desenvolvimento de bons níveis de açúcar e de acidez da fruta. Estas características garantem a produção de um bom vinho base e, mais tarde, darão origem à fineza aromática e ao frescor dos espumantes.
Com 27 anos de atuação no país, Mével conhece bem as nuances da região. Francês da Bretagne, possui diploma de engenheiro agronômo pela Escola Nacional Superior de Agronomia de Rennes e de enólogo pela Escola de Enologia de Montpellier. Ele iniciou a carreira em 1987 ainda na França, na Maison Moët & Chandon. Por volta de 1988 foi mandado para Bodegas Chandon, na Argentina, e dois anos depois, convidado a trabalhar na Chandon Brasil.
“Pensava ficar apenas alguns meses por aqui e depois voltar para a França”, conta ele. Apaixonou-se pelo Brasil e está na Serra Gaúcha até hoje. Ali se casou e formou família, com a mulher e dois filhos. Na época, a Chandon produzia também tintos e brancos tranquilos. Philippe Mével achava que com o clima local seria difícil oferecer rótulos de nível superior e, em 1998 a direção da empresa decidiu se dedicar exclusivamente aos espumantes.
Além de aprimorar os clássicos Chandon Brut e Demi-Sec, o enólogo francês foi o responsável pela criação da linha especial Excellence Brut e Excellence Rosé, e contribuiu para outras inovações, como o meio-doce Chandon Passion e o Chandon Brut Rosé.
Ele também acompanhou de perto a evolução da vitivinicultura nacional nestas últimas décadas. Quando chegou à Serra Gaúcha, a maioria dos vinhedos ainda mantinha o sistema de latada, espécie de caramanchão. Poucos utilizavam a espaldeira, sistema de condução vertical, que permite maior insolação e amadurecimento dos cachos. “Houve um grande trabalho de convencimento dos agricultores de que para cultivarem uvas com maior qualidade o melhor seria reconverter os vinhedos”, conta Mével. “Demorou, mas agora finalmente isso ficou para trás e quase todos os produtores adotam a espaldeira”.
Nos anos 2000 a Chandon adquiriu terras em Encruzilhada do Sul, na chamada Serra do Sudeste, onde o clima é mais estável que o da Serra Gaúcha. Hoje a casa possui 109 hectares de vinhedos próprios nestas duas regiões do Rio Grande do Sul. Para completar a produção, também compra uvas de agricultores parceiros, aos quais dá assistência técnica e apoio.
Só uma coisa não mudou na Chandon em todo esse tempo: o uso do processo Charmat para elaborar seus espumantes. Ao contrário de outras vinícolas nacionais, que utilizam o método Tradicional nas cuvées especiais, a empresa francesa mantém a decisão de empregar apenas as autoclaves. Acredita que, pelo estilo do espumante brasileiro, frutado e fresco, é mais seguro promover a segunda fermentação em tanques fechados, e não na garrafa. Mas adota cuidados especiais, como tempo maior de permanência do vinho nas autoclaves em contato com as borras. É o chamado Charmat longo, que confere complexidade ao espumante.
Os vinhos
No evento desta semana em São Paulo, Philippe Mével surpreendeu os convidados com o Chandon Excellence Cuvée Prestige Brut, elaborado com Chardonnay e Pinot Noir da safra de 2009. Fez a segunda fermentação pelo método Charmat e permaneceu por 17 meses nos tanques, em contato com as borras. Depois da retirada dos sólidos, em 2011 foi colocado apenas em garrafas magnum, onde repousou por seis anos, até agora.
Complexo, volumoso, fino, tem aromas de pão tostado, frutas secas e cítricos. É amplo, cremoso, persistente, com muito boa acidez. Seco, mas sem agressividade (8 gramas de açúcar residual por litro), macio no ataque, mostra interessante tensão na boca e final refrescante. Sem dúvida terá lugar entre os melhores espumantes nacionais (92/100).
Chandon Excellence Cuvée Prestige Rosé
Chandon Brasil – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 205 – Nota 91
Vem de Chardonnay e Pinot Noir de vinhedos próprios, com seleção das melhores parcelas. A bela cor rosada de intensidade média é dada pela mistura de uma pequena parte da Pinot Noir vinificada como vinho tinto (o restante, como acontece em todos os espumantes que agregam castas tintas, é fermentado sem as cascas, como um branco). Permanece bom período nas autoclaves em contato com as borras e depois, 18 meses na garrafa. Ao nariz lembra morangos e framboesa, em meio a notas de pão e especiarias. Estruturado, untuoso e macio, oferece boa acidez e frescor. Seco (9 gramas de açúcar residual por litro), delicioso para beber sozinho, é bastante versátil à mesa. Por exemplo, acompanha leitão e pratos gordurosos, que pedem a companhia de vinhos com boa acidez.
Chandon Riche Demi-Sec
Chandon Brasil – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 81 – Nota 89
Um bom espumante para acompanhar sobremesas não muito doces, bolos de frutas e panetone. É feito pelo método Charmat com Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. Nos aromas há notas de figo, doce de laranja, mel e leve toque de frutas secas. Cremoso, equilibrado, macio e refrescante, é meio doce, sem exageros – tem 35 gramas de açúcar por litro, bem menos que o limite de 60 gramas estabelecido pela legislação brasileira para demi-secs.
Saiba mais sobre Phillipe Mével e o espumante brasileiro.
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