A Adega Alentejana completa 20 anos, com novos vinhos no catálogo

by José Maria Santana | 21/04/2018 20:01

A sede da importadora: estilo aletejano

Em maio, a Adega Alentejana, do casal Manuel Chicau e Rosely Ferreira dos Santos, completa 20 anos de atividades e se consolida como uma das maiores e melhores importadoras de vinhos do país. Para comemorar a data, a empresa realizou seu 10º Passeio Enogastronômico por 11 cidades de vários Estados brasileiros, permitindo aos visitantes provar mais de 120 vinhos de 25 vinícolas diferentes.

Portugal continua a ser o maior fornecedor da importadora, mas ao crescer, a Adega Alentejana se diversificou e agora traz também tintos e brancos da Espanha, Chile e Itália. “No segundo semestre teremos ainda rótulos de dois produtores da França, um do Languedoc-Roussillon e outro de Bordeaux”, conta Manuel Chicau. Segundo ele, a importação de azeites é atualmente outro ponto forte do portfólio e já representa quase 20% de seu faturamento.

As marcas alentejanas que deram fama à casa permanecem até hoje no catálogo. Nessa lista, brilham nomes como Herdade do Mouchão, Pêra Manca/Fundação Eugénio de Almeida, Cortes de Cima, Adega de Borba, Monte do Pintor, Monte dos Cabaços, Tiago Cabaços, Roquevale e Paulo Laureano Vinus. A eles juntam-se atualmente estrelas de outras regiões portuguesas, como Quinta do Noval, Quinta do Passadouro, Wine & Soul, Quinta de La Rosa e Poeira, do Douro; Quinta da Alorna, no Tejo; e Quinta de Chocapalha, na região Lisboa.

 

O início, em uma casa alugada

Manuel Chicau e Rosely

Manuel Chicau, 59 anos, nasceu em Beja, no Alentejo, e foi criado na aldeia de Montoito, um pouco acima de Évora. Em busca de oportunidades, seus pais vieram para o Brasil depois da Revolução dos Cravos, de 1974. Logo retornaram a Portugal. Manuel e o irmão José decidiram ficar aqui. Engenheiro civil por formação, Manuel trabalhou por muito tempo na construção civil, em São Paulo. Já gostava de vinho e percebeu que em nosso mercado os rótulos portugueses tinham boa presença, mas não os alentejanos. Nasceu aí a ideia de importar os vinhos de sua terra.

O projeto foi concretizado por Manuel e sua mulher, Rosely, em 8 de maio de 1998. Começou em uma casa alugada no Brooklin, que ele pretendia ser um pedaço do Alentejo em São Paulo. Manuel reformou a construção e reproduziu a paisagem alentejana com objetos, fotos, slides, revistas, livros e até com uma réplica da lareira existente na casa de seu avô.

No primeiro ano, a empresa tinha somente duas pessoas trabalhando em tempo integral e trouxe de Portugal apenas três containers de vinhos. Os rótulos pioneiros eram de duas vinícolas estreantes por aqui – Adega Cooperativa de Borba e Roquevale. Mas desde o início a nova importadora tinha um diferencial: todas as garrafas eram mantidas em depósito climatizado, implantado na sede da empresa.

Na época, Manuel conciliava a atividade de importador com o trabalho em uma grande firma da construção civil. Aos poucos a Adega Alentejana se consolidou e ele passou por fim a dedicar-se apenas ao mundo dos vinhos.

O novo centro logístico da importadora

A sede da empresa foi mudada para imóveis próprios no Brooklin, sempre preservando o estilo alentejano. Ali, Manuel e Rosely enfrentaram com otimismo todas as crises que marcaram a economia brasileira nos últimos anos e venceram. Pouco a pouco, a Adega Alentejana tornou-se a maior importadora de vinhos portugueses no Brasil. Recentemente, a família construiu um grande e moderno centro logístico, para estocagem e distribuição de seus produtos, na cidade de Mauá, no ABC, região metropolitana de São Paulo.

Hoje, contando com a participação dos filhos Pedro e André na administração da empresa, a Adega Alentejana mantém 102 funcionários diretos e importa vinhos de 31 vinícolas de Portugal, duas da Espanha, uma do Chile e duas da Itália. Também oferece azeites, embutidos e alimentos especiais e louças portuguesas. “Pretendemos continuar crescendo”, diz Manuel Chicau, apostando que a economia do país poderá finalmente sair da crise.

Para marcar a linha do tempo da Adega Alentejana nesses 20 anos de funcionamento, mostramos aqui quatro vinhos oferecidos em seu catálogo e que representam diferentes momentos da empresa, desde o início até os dias atuais.

 

Os vinhos

Redondo 2015

Roquevale – Alentejo – Portugal – Adega Alentejana – R$ 46,90 – Nota 88

A família de Carlos Roque do Vale, com vinhedos na sub-região de Redondo, de início vendia uvas à cooperativa local. Em 1989, ele e a mulher, a engenheira Clara, construíram uma adega e decidiram produzir os próprios vinhos. Alguns anos depois, a filha Joana, formada em Enologia, incorporou-se à Roquevale. A empresa tem 200 hectares de vinhas. Hoje Carlos e Clara estão em outro projeto pessoal, mas Joana continua à frente da vinícola original. No portfólio há tintos de gama alta, como o Tinto da Talha Grande Escolha (R$ 108,80) e o Roquevale Reserva (R$ 134,60). Para mostrar o potencial da casa, destaque para um tinto da linha de entrada e preço bem acessível, o Redondo 2015. Produzido com as castas típicas Castelão, Trincadeira, Aragonez e Moreto, provenientes de vinhas com mais de 40 anos da Herdade da Madeira Nova de Cima, não tem passagem por barricas de carvalho. É pura fruta, guloso, macio, com agradável acidez e frescor. Um tinto para a mesa de todo dia (13%).

 

Paulo Laureano Reserve 2014

Paulo Laureano Vinus – Alentejo – Portugal – Adega Alentejana – R$ 130,90 – Nota 91

Paulo Laureano é um dos melhores enólogos em atividade em Portugal. Além do talento, alia simpatia e espírito aberto. Presta serviços para casas de renome, como a Herdade do Mouchão. Em 1999 criou sua própria vinícola, com uma pequena vinha perto de Évora. O projeto evoluiu e adquiriu nova feição empresarial com a compra de 75 hectares em um terroir especial da sub-região alentejana da Vidigueira. Todas as suas vinhas seguem os princípios da chamada Proteção Integrada e parte já está em Produção Biológica. Seu tinto é lote de Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, com estágio de 18 meses em carvalho francês novo. Fino de aromas, traz notas de ameixa, amora, pimenta e alguns toques balsâmicos. Destaque para a boca impecável, em que se mostra untuoso, redondo e muito elegante (14,5%).

 

Liburna Nero D’Avola 2016

Cantina Birgi – Sicília – Itália – Adega Alentejana – R$ 67,60 – Nota 90

Belo tinto para esta faixa de preço. A siciliana Cantina Birgi, fundada em 1960, tem vinhedos na parte oeste da grande ilha situada no extremo sul da Itália, entre as cidades de Trapani e Marsala. Nas zonas litorâneas o clima favorece as castas brancas. O interior montanhoso é ideal para as tintas, como a Nero D’Avola, que costuma dar vinhos encorpados, densos na cor, com taninos elevados e boa acidez. Aqui, o enólogo Giuseppe Figlioli apresenta um tinto bem feito, concentrado, aberto, que traz ao nariz chocolate e notas florais, em base de frutas vermelhas, como cassis. Um vinho frutado, com taninos firmes, maduros e um conjunto equilibrado, sedutor. A propósito, o nome faz referência aos pequenos barcos de guerra romanos chamados liburna, com uma fila de remos e uma vela, inspirados pelas embarcações usadas pelos piratas da Libúrnia, no Mar Adriático. Depois, na Idade Média, serviam para transportar mercadorias. Foram populares na região de Marsala, para carregar sal (13%).

 

Izadi Crianza 2014

Artevino – Rioja – Espanha – Adega Alentejana – R$ 140,40 – Nota 90

A Bodega Izadi foi criada pela família basca Antón em 1987, na Rioja Alavesa. Tem 200 hectares de vinhedos, espalhados por 300 fincas diferentes, com uma boa parcela de vinhas velhas. Em 2000, com entrada de nova geração, a empresa familiar se expandiu para outras regiões espanholas. Hoje, o grupo Artevino possui mais três bodegas fora da Rioja – nas apelações Ribera del Duero, Toro e Orben. Seu tinto gostoso, 100% Tempranillo, é originário de vinhedos com idade média de 45 anos. Foi afinado por 14 meses em barricas de carvalho americano (73%) e francês (27%), sendo 20% novas. De perfil clássico, combina nos aromas fruta vermelha, baunilha e tabaco. Em corpo médio, é estruturado, suculento, com taninos firmes, maduros e final persistente. Expressa bem os Crianza da Rioja, que mantêm a fruta, são amaciados pela madeira e preservam a força, sem perder a elegância (14%).

 

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