Malbecs argentinos de diversos estilos e tendências
A Wines of Argentina promoveu na semana passada em 100 cidades de 60 países seu Malbec Day, evento dedicado a celebrar os vinhos feitos com esta uva que se tornou símbolo da vinicultura local. Em São Paulo a comemoração teve a presença de representantes de várias vinícolas argentinas, ótima oportunidade para provar Malbecs de diferentes terroirs.
Com 40,4 mil hectares de vinhedos, a Malbec representa 35% das variedades tintas plantadas na Argentina, responde por 18% da produção total de vinhos no país e por 56% das exportações feitas pelo setor. Por isso, nos últimos 20 anos firmou-se como a uva emblemática de nossos vizinhos.
Mas nem sempre foi assim. A casta, de origem francesa, foi trazida pelos imigrantes europeus que chegaram à região de Mendoza no século XIX. Deu-se muito bem por lá. Chegou a ocupar área de 60 mil hectares. Até a década de 1970 o consumo de vinhos no país era um dos maiores do mundo, atingindo a incrível marca de 91 litros anuais por habitante, embora sem nenhuma preocupação com a qualidade.
Para atender à imensa clientela, muitas vinícolas procuraram a todo custo aumentar a produção e decidiram replantar os vinhedos com uvas de grande rendimento, embora sem expressão. É o que conta o saudoso Saul Galvão em seu belo livro “Tintos & Brancos” (Editora Conex – São Paulo – 2006): “Para matar a sede de consumidores pouco exigentes, os produtores imediatistas arrancaram milhares de hectares da principal e melhor cepa argentina, a Malbec”. No lugar, colocaram as comuns Criolla e Cereza. Na época, sobraram apenas 10 mil hectares de Malbec.
Felizmente, esse tempo ficou para trás. Nos anos 1990, produtores de visão, como Nicolás Catena, começaram a apostar na Malbec para vinhos de qualidade. A área plantada voltou a crescer, agora com mudas selecionadas. O esforço foi recompensado com o surgimento de tintos que logo alcançaram fama no mercado mundial. A Argentina passou a representar uma referência para a Malbec, até mesmo para a zona de Cahors, no Sudoeste da França, onde ela nasceu.
Nos últimos anos foi dado novo passo, com pesquisas para aperfeiçoar o desenvolvimento da casta. Houve bem sucedidas experiências com a Malbec em vinhedos de alturas elevadas. E mais recentemente, estudos para entender como a variedade se comporta em diferentes terroirs.
No Malbec Day organizado na semana passada por Wines of Argentina foi possível provar tintos de vários estilos e tendências. Destacamos alguns aqui.
Os vinhos
Alto Las Hormigas Malbec Classico 2016
Altos Las Hormigas – Mendoza – Argentina – World Wine – R$ 77 – Nota 89
Tinto suculento, com muita fruta, fácil de beber. As uvas vêm da tradicional zona de Luján de Cuyo, de clima mais quente, com pequena porcentagem do temperado Vale de Uco. É fermentado em tanques de inox, com leveduras nativas, e estagiado por 12 meses em cubas de concreto. Nos aromas e na boca aparecem notas florais e de especiarias, em base de cereja e framboesa. Corpo médio, estruturado, tem taninos maduros e bom frescor final (13,5%).
Salentein Reserve Malbec 2016
Bodegas Salentein – Mendoza – Argentina – Zahil – R$ 109 – Nota 90
O Vale de Uco, onde a Salentein tem seus vinhedos, é considerado uma das zonas mais promissoras da Argentina. Ali, a equipe comandada pelo respeitado enólogo José “Pepe” Galante estuda cada parcela do terreno, para encontrar o melhor desenvolvimento para a Malbec. Mesmo nas séries de gama média, como a deste tinto, se nota um cuidado especial. Discreto, mas equilibrado e elegante, mostra um toque de eucalipto e leve floral. Taninos maduros e a boa acidez completam o conjunto (13,5%).
Las Moras Black Label Malbec 2015
Finca Las Moras – San Juan – Argentina – Decanter – R$ 99 – Nota 91
O grupo Peñaflor, um dos maiores da Argentina (Bodegas Trapiche, Suter, El Esteco) tem raízes em Mendoza, mas mantém na província vizinha de San Juan a vinícola Las Moras, com quase 1.000 hectares de vinhedos. Dali saem vinhos muito interessantes, como este tinto untuoso e fino. Amadurecido por 15 meses em barricas novas de carvalho francês e americano, traz ao nariz notas de especiarias, tabaco, cacau e figo. É estruturado e macio, com final persistente. A madeira está presente, junto com a fruta (14,5%).
Cadus Blend de Alturas Malbec 2014
Cadus Wines – Mendoza – Argentina – Casa Flora/Porto a Porto – R$ 220 – Nota 92
Cadus era a linha mais importante da Nieto Senetiner e, recentemente, o grupo a tornou vinícola independente. Conta com vinhedos de altitude nas melhores parcelas do Vale de Uco, daí a menção no rótulo. Seu tinto, concentrado, oferece boa carga de fruta e taninos maduros, no estilo que consagrou a Malbec junto ao público. A ideia aqui não é apresentar algo diferente, inovador, e sim um vinho já conhecido, sem surpresas. Nos aromas há notas de figo e ameixa, em meio a coco e tabaco. Tem bom corpo e equilíbrio agradável (14,5%).
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