Os elegantes Pinot Noir e Chardonnay da francesa Drouhin no Oregon americano
Com seus Pinot Noir e Chardonnay de grande classe produzidos no Oregon, a casa francesa Joseph Drouhin, uma das mais conhecidas da Borgonha, ajudou a colocar aquela região do Noroeste dos Estados Unidos no mapa vinícola mundial. Para promover os vinhos do Domaine Drouhin Oregon (DDO), esteve esta semana em São Paulo o diretor comercial de todo o grupo, Christophe Thomas, em visita organizada pela Mistral. A importadora de Ciro Lilla também distribui com exclusividade em nosso país os rótulos da matriz Joseph Drouhin.
Fundada em 1880, a maison pertence até hoje à família Drouhin e produz clássicos em diferentes apelações da Borgonha. O investimento no Oregon foi o primeiro do grupo, e até agora o único, fora da França. Robert Drouhin, da terceira geração da família, conheceu o Estado americano ao fazer uma viagem de turismo, em 1961. O Oregon, situado na costa do Pacífico, perto da fronteira com o Canadá, tem clima semelhante ao da Borgonha, favorável às uvas que se dão bem em climas frios, como Pinot Noir e Chardonnay. Mas Robert só tomou a decisão de implantar uma vinícola ali mais de 25 anos depois de sua primeira visita.
A história é interessante e foi contada pelo experiente jornalista e crítico Guilherme Veloso, em reportagem para a extinta revista Wine Style. Em 1979, lembrou Guilherme, a revista francesa de gastronomia Gault Millau promoveu em Paris as “Olimpíadas do Vinho”, uma série de degustações de rótulos de todo o mundo. Foi algo parecido com a prova organizada em 1976 pelo especialista inglês Steven Spurrier, que consagrou brancos e tintos da Califórnia ao baterem monstros sagrados franceses no que se tornou conhecido como “O Julgamento de Paris”.
Pois bem, na parte do painel da Gault Millau destinada aos Pinot Noir, um tinto do então desconhecido Oregon, o South Block Pinot Noir 1975, produzido pela Eyrie Vineyards no Willamette Valley, ficou em 3º e em 10º lugares entre os 10 melhores, em duas provas. Robert Drouhin, que tinha seus vinhos na disputa, achou que a Borgonha não fora representada adequadamente. Por isso, no ano seguinte organizou uma espécie de revanche em Beaune, na Borgonha, reunindo os Pinot Noirs de outros países mais bem classificados nas Olimpíadas e uma seleção de tintos da Maison Drouhin. Desta vez, o South Block ficou em segundo lugar, só perdendo para o Chambolle Musigny 1959 da Drouhin, e à frente de monumentos como o Drouhin Chambertin “Clos de Bèze” 1961.
O resultado abriu os olhos de Robert para o potencial do Oregon na produção de Pinot Noir. Em 1986, ele sugeriu à sua filha Véronique, recém-formada na Faculdade de Enologia de Dijon e com trabalhos em Bordeaux, fazer estágio em vinícolas daquela região americana. Véronique trabalhou nas safras de três empresas locais – primeiro na própria Eyrie, da família Lett, depois na Bethel Heights, da família Casteel, e na Adelsheim Vineyard.
No ano seguinte o grupo Drouhin comprou suas primeiras terras no Oregon, em Dundee Hills, no Willamette Valley, e implantou o DDO. Sob o comando de Véronique e de seu irmão Philippe, a ligação da família com o Oregon se fortaleceu com o tempo e já é um caso de sucesso no universo dos vinhos, incorporando o melhor do Velho e do Novo Mundo.
Clima frio
O Oregon se estende pela costa do Pacífico, entre a Califórnia e o pequeno Estado de Washington, que faz divisa com o Canadá. As primeiras uvas viníferas foram plantadas ali somente no início da década de 1960 e o sucesso de seus vinhos é recente, bem depois dos californianos. Hoje tem perto de 4 mil hectares de vinhedos – 2% da superfície de vinhas da Califórnia – metade deles ocupados com Pinot Noir.
Há três regiões distintas no Oregon, com diferentes AVAs – American Viticultural Areas – como são chamadas as denominações de origem nos EUA. A zona mais importante fica ao norte. É o Willamette Valley, próximo de Portland, a capital do Estado, onde está a maior parte de suas vinícolas. Há milhares de anos foi um mar interior e tem solos de origem vulcânica, ricos em óxido de ferro. Suas duas AVAs de maior prestígio são Ribbon Ridge e Dundee Hills.
Enquanto na Califórnia o clima mais quente favorece variedades que precisam de sol, como a Cabernet Sauvignon, no Oregon a influência das correntes geladas do Pacífico proporciona ótimo desenvolvimento para Pinot Noir, Chardonnay, Pinot Gris, Riesling e outras castas que gostam de um frio.
Nos últimos anos, os vinhos do Oregon deram um salto de qualidade. Contribuíram para isso algumas medidas importantes adotadas por suas vinícolas. Entre elas, a importação de clones da França e o plantio de vinhas em encostas, permitindo boa drenagem e maior exposição solar às uvas.
Semelhanças e diferenças
Quando a família Drouhin comprou suas primeiras terras no Estado, em Dundee Hills, em 1987, havia no local apenas pinheiros e uma plantação de trigo. Os primeiros vinhos da DDO foram produzidos no ano seguinte, com uvas compradas de terceiros, pois seus vinhedos ainda estavam em desenvolvimento.
Em 1989 foi construída a adega, com quatro andares, a primeira inteiramente por gravidade na região. Em Dundee Hills o grupo possui 60 hectares de vinhas. Em 2013, a empresa comprou uma nova propriedade, Roserock, em Eola-Amity Hills, também no Willamettte Valley, com outros 60 hectares. O manejo dos vinhedos segue os preceitos da agricultura sustentável, que favorece as práticas naturais. Na adega são utilizadas apenas leveduras indígenas. A empresa tem equipe para receber visitantes.
Robert Drouhin, hoje com 83 anos, deixa o comando do grupo fundado por seu avô Joseph para os quatro filhos, a quarta geração da família. A enóloga Véronique Drouhin-Boss continua morando em Beaune, na Borgonha, sede da maison, mas vem seguidamente ao Oregon e acompanha tudo de perto. O irmão Philippe responde pela viticultura, como faz nos vinhedos da Borgonha.
Os vinhos que produzem no Novo Mundo guardam o estilo francês, que busca o equilíbrio e a elegância, sem perder a personalidade local. Segundo Véronique, Borgonha e Oregon têm clima semelhante, frio e úmido. As diferenças aparecem mais nos solos – na Borgonha, calcários, e no Oregon, vulcânicos, com manchas de basalto.
Isso traz semelhanças e diferenças entre os tintos feitos com Pinot Noir nas duas regiões. Os tintos da Borgonha são mais claros na cor, lembram frutas vermelhas nos aromas e mesclam estrutura tânica e finesse. Já os Pinot Noir do Oregon são pouco mais carregados na cor, mostram mais estrutura tânica e trazem ao nariz nuances de frutos negros e especiarias.
No evento da Mistral, com a presença do diretor comercial Christophe Thomas, foram provados seis vinhos, sendo dois brancos e quatro tintos. Destacamos aqui quatro deles, que mostram bem o patamar de qualidade alcançado pelo Domaine Drouhin Oregon.
Os vinhos
Cloudline Pinot Gris 2014
Domaine Drouhin Oregon – Oregon – EUA – Mistral – R$ 153,20 – Nota 91
Um branco delicado, delicioso, mais expressivo que boa parte dos Pinot Gris leves e frutados existentes no mercado. Aqui há fineza e vivacidade, com aromas que lembram cítricos, limão, em meio a notas de ervas e minerais. Um vinho macio, sedoso, equilibrado, com muito boa acidez e frescor. Pode ser bebido sozinho, como aperitivo, e também acompanha frutos do mar, peixes com molho e pratos mais leves da cozinha asiática (13,4%).
Chardonnay Arthur 2015
Domaine Drouhin Oregon – Oregon – EUA – Mistral – R$ 305,20 – Nota 93
Branco notável, instigante, bem balanceado, proveniente de uma vinha plantada em 1992, com clones trazidos da Borgonha. Metade do lote foi fermentado e amadurecido em barricas de carvalho francês (30% novas), proporcionando mais complexidade, sem que a madeira seja marcante. Os aromas mostram fruta madura, como abacaxi, e cítricos, com notas de alecrim e um gostoso toque mineral. Na boca é estruturado, redondo, com bom volume, acidez presente e frescor final. Elegante e muito expressivo, é par perfeito para aves, peixes, camarão, lagosta e massas com molho branco. Com foie gras fica ótimo. A propósito, o nome faz referência a Arthur, o caçula dos três filhos da enóloga Véronique Drouhin-Boss (14,1%).
Cloudline Pinot Noir 2015
Domaine Drouhin Oregon – Oregon – EUA – Mistral – R$ 190 – Nota 90
Leve, delicado, um tinto da gama de entrada feito para agradar, sem perder qualidade. O estágio em barricas usadas deixa espaço para aparecer a fruta vermelha madura, limpa e fresca. O corpo é médio, com estrutura e boa acidez. Macio, jovial, mantém o frescor até o fim de boca. É um vinho gastronômico, que faz companhia agradável a aves, coelho e carne de porco (13%).
Laurène Pinot Noir 2013
Domaine Drouhin Oregon – Oregon – EUA – Mistral – R$ 573,90 – Nota 93
Temos aqui um tinto da gama alta, harmonioso, elegante, que lembra um grande vinho da Borgonha. Fermenta em barricas de carvalho francês (20% novas), onde depois amadurece por vários meses. No final o vinho das melhores barricas é selecionado para compor esta cuvée especial. Ao nariz traz pitanga, com notas de carne e de especiarias. Tem mais estrutura e complexidade, taninos maduros, é macio, fino e muito persistente. Sem dúvida, um grande vinho. Pode escoltar pato e carnes de sabor intenso. Uma curiosidade: o nome faz referência a Laurène, o filho mais velho da enóloga Véronique Drouhin-Boss, que nasceu em 1992, quando ela produziu o primeiro vinho com 100% de uvas da propriedade da família em Dundee Hills (13,9%).
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