Mistral mostra novidades de sete países

Mistral mostra novidades de sete países

A importadora Mistral, de Ciro Lilla, apresentou no início de outubro 21 vinhos, entre espumantes, brancos, rosés, tintos e fortificados, que foram incorporados recentemente a seu catálogo. São rótulos da Argentina, Brasil, Chile, Espanha, Itália, Portugal e Uruguai.

Entre eles, vinhos muito interessantes, como o branco chileno Montes Alpha Special Cuvée Sauvignon Blanc 2018 (R$ 234,90) e o espanhol Gotim Blanc 2017, da vinícola Castell del Remei (R$ 117,70). Muito bom também o rosado italiano “J” Rosé 2018, que a casa Biondi Santi produz em seu projeto Castello di Montepò (R$ 252).

Na ala tinta, destaque para o novo e bem feito tinto da vinícola gaúcha Vallontano, do talentoso enólogo Luís Henrique Zanini (R$ 127,90). Outras boas novidades são o chileno Boya Cabernet Franc 2018, de Viña Garcez Silva; o espanhol Garnatxa de Cérvoles 2017, da vinícola Celler de Cérvoles (R$ 200); e o italiano Kompá Negroamaro Salento Rosso 2015, da empresa Cosimo Taurino, da Puglia (R$ 149,30). No meio de tantas coisas boas, avaliamos aqui cinco vinhos que nos chamaram a atenção na prova, realizada no dia 3 passado.

 

DV Catena Chardonnay-Chardonnay 2017

Catena Zapata – Mendoza – Argentina – Mistral – R$ 157,90 – Nota 91

Branco amplo, untuoso, com muita fruta e equilíbrio. Curiosamente, o rótulo indica que é feito com Chardonnay e Chardonnay. Trata-se da mesma casta, claro, mas a referência se dá porque é um blend de uvas de diferentes vinhas da família de Nicolás Catena em Mendoza. Parte do lote vem do vinhedo La Pirámide, que recebe este nome por rodear a adega construída em forma de pirâmide maia. Fica em Agrelo, região de Luján de Cuyo, a 950 m de altitude, com solos argilo-arenosos. Plantado em 1983, suas uvas aportam ao vinho aromas de abacaxi, pêssego e outras frutas maduras. O restante dos cachos de Chardonnay sai do vinhedo Domingo, que leva o nome do pai de Nicolás e se localiza nas alturas de Tupungato, no vale de Uco, 1.120 m acima do nível do mar. Os solos apresentam areia, limo, argila, calcário e muitos pedregulhos na superfície. Plantado em 1992, o campo agrega ao conjunto aromas cítricos e mineralidade. Na boca, o novo branco de Catena Zapata mostra bom volume, acidez gostosa, elegância e frescor final. Não tem a mesma complexidade dos rótulos originários do espetacular vinhedo Adrianna, mas entrega o que promete e faz jus ao berço onde nasce (13,5%).

 

Soalheiro Rosé 2018

Quinta do Soalheiro – Minho – Portugal – Mistral – R$ 213 – Nota 92

Soalheiro é um dos grandes nomes da vinicultura portuguesa. A propriedade da família Cerdeira localiza-se em Melgaço, no Alto Minho, norte de Portugal. É zona dos Vinhos Verdes, mas os vinhos Soalheiro não têm nada a ver com aqueles brancos leves, adocicados e ligeiramente borbulhantes que predominavam na região no passado. Teve sempre como base a Alvarinho, uma das castas portuguesas mais importantes. A vinícola foi fundada por João António Cerdeira, que em 1974 plantou a primeira vinha contínua de Alvarinho do concelho de Melgaço. Em 1982 apresentou ao mercado seu primeiro vinho, o Soalheiro Alvarinho, e logo alcançou sucesso. João António, simpático e gentil, cercou de muitos cuidados a propriedade, que hoje tem modo de produção inteiramente biológico e sustentável. Protegidos por montanhas, os vinhedos crescem em solos graníticos, com boa exposição solar – daí o nome Soalheiro. Nos anos 1990 João António, que tinha a assessoria do experiente enólogo Anselmo Mendes, passou a contar com o reforço do filho, o também enólogo António Luís Cerdeira. Depois da morte do pai, em 2015, Luís assumiu o comando efetivo da vinícola, com a irmã Maria João. O rosé foi lançado pela nova geração há dois anos. A base é a Alvarinho, responsável por 70% do lote, completada por Pinot Noir. De um rosado claro, mescla nos aromas morango, cereja e um toque cítrico. Delicado, mas com estrutura, mostra ótima acidez e fineza. Mineralidade e frescor dão o delicioso tom final (12,5%).

 

Serps Negre 2015

Terra de Falanis/Anima Negra – Ilha de Maiorca – Espanha – Mistral – R$ 203,30 – Nota 91

Depois de consolidarem o sucesso de sua vinícola Anima Negra, na pequena ilha de Maiorca, os irrequietos Miguel Angel Cerdá e seu sócio Pere Obrador iniciaram o projeto Terra de Falanis, para produzir vinhos em diferentes microclimas mediterrâneos, que tenham presença da cultura catalã e influência marítima. Com uvas próprias ou de pequenos produtores familiares, donos de vinhas entre 50 e 85 anos de idade, eles oferecem vinhos joviais, modernos, fáceis de beber, com rótulos alegres, expressando terroirs variados da ilha de Maiorca e de outras denominações da Espanha continental. O Serps Negre é novidade desta linha, em um patamar acima dos anteriores. Entram no corte Tempranillo, Syrah e Cabernet Franc, de uvas plantadas no vale Matallonga, em La Garriga, perto de Barcelona, na apelação Costers del Segre. Amadurecido por seis meses em carvalho usado, lembra ao nariz especiarias, pimenta, cacau e cogumelo, além de fruta a ameixa. Encorpado, com taninos maduros e boa acidez, é daqueles tintos equilibrados na faixa de cima, mas sem excessos (14%).

 

Gotim Bru 2016

Castell del Remei – Catalunha – Espanha – Mistral – R$ 153,60 – Nota 90

Castell del Remei é uma vinícola centenária que ocupa uma propriedade histórica na D.O. Costers del Segre, com 162 hectares de vinhedos. Suas edificações, construídas no final do século XIX, lembram um castelo no estilo do classicismo italiano. O tinto, porta de entrada do catálogo da casa, é um blend de seis uvas – Tempranillo (35%), Garnacha (30%), Cabernet Sauvignon (20%), Merlot (10%) e Syrah (5%) – amadurecido por 10 meses em barricas de carvalho americano e francês. Rico de aromas, traz notas de cacau, especiarias e tabaco, além de ameixa. Em corpo médio, apresenta taninos maduros, boa acidez e final longo. Um vinho mais delicado, fácil de gostar. É chamado de vegano, pois nenhum ingrediente animal foi usado em sua elaboração (14%).

 

Blandy’s Madeira 5 Years Old Verdelho

Blandy’s – Ilha da Madeira – Portugal – Mistral – R$ 326,30 – Nota 93

Apesar do tamanho diminuto, Portugal tem um inigualável patrimônio vinícola e uma preciosidade raramente vista em outros países, os vinhos fortificados. Porto, Moscatel de Setúbal e o Vinho Madeira têm em comum o fato de receberem adição de aguardente vínica, que interrompe a fermentação, preservando o caráter das uvas. Nesse trio, o Madeira possui características próprias, como a bela ilha em que nasce, situada nas costas da África, na altura do Marrocos. Na época dos grandes descobrimentos, por volta de 1500, os navios que levavam mercadorias para o Novo Mundo, recém descoberto, paravam ali para abastecer. O vinho local era um dos itens embarcados. De início era um vinho normal, depois passou a receber adição de aguardente, para suportar as agruras da viagem. Alguns barris, não consumidos, voltavam inteiros e os produtores percebiam que muitas vezes estavam melhores, apesar de terem passado meses no porão dos barcos, sofrendo o calor dos trópicos. Com o tempo, o comércio mudou, as caravelas desapareceram e os produtores da ilha procuraram uma solução alternativa para chegar aos mesmos resultados. Passaram então a colocar o vinho em estufas aquecidas (estufagem). Outro método era deixar os barris inicialmente no sótão dos depósitos, debaixo das telhas, o local mais quente do prédio, descendo depois para os pisos mais baixos e frescos, para completar o amadurecimento (processo de canteiro). Assim se consolidou o estilo do Madeira, como o conhecemos: um vinho fortificado, com notas marcantes de oxidação. Pode ser doce ou seco. O Sercial é seco; o Verdelho, meio seco; o Bual, meio doce; e o Malmsey. bem doce. Entre as casas produtoras, a Blandy’s se destaca. Fundada em 1811 por John Blandy, inglês que havia chegado à ilha da Madeira três anos antes, é comandada até hoje por seus descendentes. O Verdelho, meio seco, mostra a qualidade dos produtos da empresa. As uvas vêm de vinhas situadas nas encostas de Ponta Delgada e São Vicente, na costa norte da ilha. Fermenta com leveduras indígenas, processo interrompido após quatro dias pela adição de álcool vínico. A seguir, amadurece por 5 anos em cascos de carvalho americano, pelo sistema tradicional de canteiro. O resultado é um branco complexo, de cor topázio, com nariz marcado por notas de frutas secas, especiarias, mel e o fumado típico. A boca é um espetáculo. Rico, amplo, untuoso, nada enjoativo, pois a sensação de doçura é leve e ainda compensada pela ótima acidez. Como todo Madeira, deve durar muitos anos ainda (19%).

 

 

 

 


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