Provino 2019 abre novo espaço para o relacionamento entre os profissionais do vinho no Brasil
Público qualificado, mais de 120 vinícolas de 12 países diferentes, 200 marcas expositoras, 43 estandes, palestras interessantes, negócios à vista. A Provino 2019 – Feira Profissional de Vinhos e Destilados, realizada esta semana, em São Paulo, abre novo espaço para o relacionamento entre os profissionais do mundo do vinho no país.
os três dias do evento, encerrado ontem, também foi possível provar brancos, tintos e espumantes de bom nível, conversar com importadores e conhecer vários produtores, que vieram ao Brasil para promover seus rótulos.
A feira de negócios teve 2.600 visitantes, promovendo o contato entre importadores e produtores do Brasil e de mais 11 países com distribuidores, varejistas e profissionais do setor vindos de diversos Estados brasileiros e de países da América Latina. Foi uma oportunidade de ouro para os expositores fazerem lançamentos, apresentarem vinhos, acessórios e serviços ao trade.
A Provino, que aconteceu no espaço do Transamérica Expo Center, foi idealizada por Rico Azeredo e Malu Sevieri, que representam aqui a Messe Düsseldorf, empresa organizadora da consagrada feira alemã ProWein, e Christian Burgos, presidente do grupo Inner, que edita a revista Adega.
O resultado parece ter superado expectativas, tanto que a Provino 2020 já está marcada: segundo o diretor Rico Azeredo, será de 20 a 22 de outubro do ano que vem, no mesmo Transamérica Expo Center.
Foco nos negócios
Como se trata de uma feira exclusiva para profissionais do setor, a Provino 2019 não foi aberta ao público geral. Vários expositores destacaram esse aspecto. Sem a presença do consumidor final, às vezes mais interessado em beber do que conhecer o vinho oferecido, foi possível mostrar os rótulos de maneira mais completa, conversar, iniciar negócios.
A propósito, a comparação é inevitável com a Expovinis, a mega feira vinícola antes realizada em São Paulo, que teve 21 edições e chegou ao fim em 2017. Segundo muitos expositores e participantes, a Expovinis teve grande importância no desenvolvimento das atividades vinícolas no Brasil, mas nos últimos anos enfrentava uma espécie de crise de identidade.
Havia um conflito de interesses entre importadores, produtores estrangeiros em busca de representação aqui, vinícolas nacionais, profissionais do setor e a imensa massa de consumidores que acorria aos estandes nos três dias do evento. Agora, ao destinar a Provino apenas ao trade, seus organizadores deixam claro que o foco da nova feira é abrir espaço para o relacionamento profissional e a realização de negócios. Enfim, ser um ponto de encontro da indústria do vinho.
Palestras
Nos últimos três dias, a formação cultural também teve destaque, com salas destinadas ao Fórum Provino e ao Fórum Eno Cultura, sempre com sessões lotadas. Uma das palestrantes foi a inglesa Lydia Harrison, 36 anos, recentemente aprovada no Master of Wine, especialista em educação sobre vinhos. Luís Osório e Rodrigo Lanari, da Wine Intelligence, abordaram as tendências e perspectivas futuras do mercado de vinho.
Outro painel de sucesso foi o Women Wine Talks, em que mulheres líderes em seus segmentos, como Luciana Salton, da vinícola Salton, Ana Paula de Oliveira, da Bodega Garzón, Fabiana Bracco, da BraccoBosca, e Juciane Casagrande e Andreia Gentilini Milan, de Espumantes Amitié, falaram sobre a atuação feminina no mercado de vinhos.
Vinhos e lançamentos
Diretamente, ou por meio de seus distribuidores, 123 vinícolas divulgaram seus produtos na Provino 2019. A lista inclui empresas do Brasil, Argentina, Austrália, Áustria, Bolívia, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Portugal e Uruguai.
As oportunidades de novos negócios foram um destaque. “A Provino nos proporcionou o contato com um público excelente, para o qual mostramos o trabalho que estamos realizando no Uruguai”, ressaltou Martín López, da Uruguay Wine.
Algumas importadoras e produtores aproveitaram o espaço da feira para apresentar lançamentos ou novidades. A Cantu, por exemplo, anunciou a parceria com a marca francesa Rosé Piscine. A Lenz Moser trouxe vinhos da Austria, ainda pouco divulgados aqui. A Bolívia também mostrou que faz vinhos, oferecendo rótulos das vinícolas La Concepción e La Cabaña.
Da ala brasileira, o grupo Famiglia Valduga, sempre inovador, apresentou vinhos sem adição de SO2 (dióxido de enxofre), o branco Chardonnay Era e o espumante Ponto Nero SO2 Free. A Miolo, por sua vez, fez o lançamento de seu novo espumante top, o Íride Miolo Sur Lie Nature 2019, homenagem à matriarca da família nos 30 anos da empresa. Outra novidade foram os Espumantes Amitié, de Juciane Casagrande e Andreia Gentilini Milan.
Como não é possível avaliar tudo em um único artigo, Brasil Vinhos chama a atenção para alguns tintos e brancos especiais provados na feira, que agradam pela qualidade e cuidado na elaboração.
Ombú Moscatel de Hamburgo 2019
BraccoBosca – Atlántida, Canelones – Uruguai – Domno – R$ 89 – Nota 90
Fabiana Bracco participou do desenvolvimento de várias vinícolas uruguaias, até que em 2016, com o marido Edison Viroga, assumiu o comando da vinícola criada por seus pais. A BraccoBosca tem 9 hectares de vinhedos em Piedra del Toro, na região de Atlántida, ao sul do departamento de Canelones, a 45 km de Montevidéu. A vinha, de manejo orgânico, sofre a influência de brisas frias, pois fica a 8 km do Atlântico, no ponto em que as águas do Rio de la Plata começam a se misturar às do oceano. Antes, a família produzia vinhos simples, vendidos em garrafão. Com Fabiana, o foco mudou, em busca de produtos de qualidade, como este branco produzido com Moscatel de Hamburgo, vindo de vinhas velhas. Nesta família de uvas, a mais conhecida é a Moscatel de Alexandria, que proporciona brancos leves, florais e muito aromáticos, que passam a sensação de doçura. Já aqui, o que chama a atenção é o fato de o vinho ter os aromas perfumados da Moscatel, mas na boca se revelar bastante seco. É leve, com estrutura e volume, untuoso e mostra boa acidez e frescor. Uma curiosidade é a cor. A Moscatel de Hamburgo tem mais matéria corante que as demais do grupo. Por isso, na taça o vinho apresenta cor de casca de cebola, e não branco palha (12%).
Domno – Garibaldi, RS – Tel.: (54) 2105-3122 – www.domno.com.br.
Ana Cristina Pinot Noir 2017
Villaggio Bassetti – São Joaquim, SC – Brasil – R$ 119 – Nota 90
A vinícola foi criada em 2005 pelo engenheiro químico José Eduardo Pioli Bassetti e seus irmãos Marco Aurélio, engenheiro agrônomo, e César Juliano, engenheiro mecânico. Eles descendem de duas famílias de imigrantes italianos, os Pioli e os Bassetti, que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Possuem 8 hectares de vinhedos nas terras altas de São Joaquim, entre 1.230 m e 1.300 m acima do nível do mar. Clima frio, mas com boa insolação e um regime de chuvas favorável, concentrado entre junho e novembro, fora do período de maturação dos cachos. Ali a Pinot Noir se dá bem. O tinto, amadurecido por 12 meses em barricas novas e usadas de carvalho, traz ao nariz fruta vermelha, como pitanga, e notas de eucalipto. Em corpo médio, tem boa acidez, taninos macios e gostoso equilíbrio (13,5%).
Villaggio Bassetti – São Joaquim, SC – Tel.: (49) 99182-8862 – www.villaggiobassetti.com.br.
Ella Syrah 2017
Las Niñas – Vale de Apalta – Chile – Wine Sommelier 4U – R$ 120 – Nota 90
A vinícola Las Niñas surgiu em 1997, da sociedade formada pelos franceses Bernard Dauré, Jean Pierre Cayard e Claude Florensa. Donos de vinhedos na França e na Espanha, eles e suas famílias se apaixonaram pelo sul do Chile. Hoje possuem 200 hectares em Apalta, um dos vales mais promissores do país, na região de Colchagua. Boa parte de seus vinhos vem de vinhas orgânicas, como neste tinto que mostra bem o potencial da Syrah no local. Amadurecido por 10 meses em carvalho usado, apresenta ao nariz notas especiadas, a pimenta, de eucalipto e algo terroso, mineral, em base de fruta que lembra cereja e groselha. Na boca tem corpo médio, acidez firme, boa fruta madura e taninos macios. Fácil de beber (13,5%).
Wine Sommelier4U – São Paulo/SP – (11) 94125-7570 – Instagram: @winesommelier4u.
Pispi Blend de Tintas 2016
Mosquita Muerta – Mendoza – Argentina – Optimus – R$ 140 – Nota 92
Pispi é o sujeito controvertido, que desperta amor e ódio, mas nunca passa desapercebido. E Mosquita Muerta, claro, é o mesmo em português. José Millán, que criou a vinícola em 2010, tem um humor fino, mas não brinca em serviço. Seus vinhos são ótimos. Embora sua família já tivesse comprado em 2002 a tradicional bodega Armando, renomeada como Los Toneles, a concorrência achava que ele não entendia nada de vinhos, não ia incomodar, era uma mosca morta. Ele incorporou o mote e surpreendeu a todos com produtos de alto nível, com ajuda do enólogo Bernardo Bossi Bonilla. O tinto, como diz o rótulo, é um blend de 40% Malbec, 20% Petit Verdot, 20% Bonarda, 10% Cabernet Franc e 10% Merlot. Amadurece por 14 meses em barricas novas e usadas de carvalho francês. Lembra fruta doce, algo de geleia de cereja, com notas florais e de grafite. Estruturado, com bom corpo, tem taninos firmes e equilíbrio, mantendo o frescor (14,2%).
Optimus Importadora – Santo André, SP – Tel.: (11) 4902-5112 – www.optimusimportadora.com.br.
Marqués de Murrieta Reserva 2014
Marqués de Murrieta – Rioja – Espanha – World Wine – R$ 284 – Nota 93
Marqués de Murrieta é a vinícola familiar mais antiga em atividade na Rioja. Em 1852, Don Luciano Murrieta, que virou marquês, produziu o primeiro vinho da região. Depois de conhecer o que se fazia na França, ele adotou em sua Finca Ygay, em Logroño, na Rioja Alta, o modelo dos châteaux de Bordeaux. A bela propriedade tem 300 hectares e um castelo rodeado de vinhedos. Em 1983 o controle da empresa passou para a família Cebrián-Sagarriga, que recuperou o prestígio dos vinhos da casa e, em 2007, iniciou a restauração completa da histórica sede, o Castillo Igay, terminada sete anos mais tarde. Seus vinhos gozam da fama de equilibrados e bem feitos, o que se sente neste Reserva, produzido com 84% Tempranillo, 9% Graciano, 5% Mazuelo e 2% Garnacha. Tem crianza de 19 meses em barricas novas e seminovas de carvalho americano e afinamento de 2 anos em garrafa. Nos aromas aparecem notas de frutas secas, figo, coco, especiarias, anis e alcaçuz. Tem bom corpo, é maduro, macio, sem perder o frescor. Delicioso, um clássico (14%).
World Wine – São Paulo, SP – Tel.: (11) 4003-9463 – www.worldwine.com.br.
Tapada do Chaves Reserva 2013
Tapada do Chaves – Alentejo – Portugal – Adega Alentejana – R$ 419 – Nota 93
A Tapada do Chaves é uma das vinícolas mais emblemáticas do Alentejo e de Portugal, com mais de 100 anos de história. Localizada junto à cidade de Portalegre, seus 32 hectares de vinhedos se assentam sobre um maciço de granito, nas encostas da Serra de São Mamede. A altitude acima da média da região permite a maturação lenta e plena das uvas, proporcionando vinhos com grande frescor. A empresa possui duas das vinhas mais velhas ainda em produção no país, uma de 1901, com predominâncias de castas tintas misturadas, e a outra em 1903, conhecida como vinha velha branca. Ao longo do tempo passou por diversas mãos e pertence agora à Fundação Eugénio de Almeida, outra empresa tradicional, que produz o Pêra Manca. A FEA resgatou o prestígio da Tapada do Chaves, como se nota neste tinto saboroso, mescla das castas alentejanas Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e português e afinamento por mais 2 anos na garrafa. Há nos aromas fruta evoluída, amora e ameixa, com notas de especiarias e da madeira. Encorpado, complexo, tem boa acidez e fina elegância. Álcool e fruta estão bem integrados. Um vinho realmente encantador. Na cultura local, tapada é uma propriedade murada, com mata e caça. Os rótulos da casa já foram distribuídos aqui pela Adega Alentejana e voltam agora ao catálogo da importadora (15%).
Adega Alentejana – São Paulo, SP – Tel.: (11) 5094-5760 – www.alentejana.com.br.
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