Lusovini lança o Pedra Cancela Intemporal, um branco maduro espetacular, para celebrar os 20 anos da marca

by José Maria Santana | 27/10/2020 11:43

No lançamento, uma live uniu Portugal e Brasil

Sete anos de garrafa antes de sair ao mercado. Em sua maioria, os vinhos brancos são elaborados para serem bebidos jovens, quando mantêm fruta, acidez e frescor. Mas alguns exemplares, com estrutura e complexidade, ganham com a passagem do tempo.

É o caso do branco português Pedra Cancela Intemporal, produzido no Dão, na safra de 2012, com Encruzado, Malvasia Fina e Cerceal Branco. Foi engarrafado em 2013 e lançado somente agora pela empresa Lusovini, para comemorar os 20 anos da marca. Melhorou com a idade e mostra acidez fina, volume, untuosidade e equilíbrio estupendo.

Em tempos de pandemia, o Pedra Cancela Intemporal foi apresentado à imprensa especializada brasileira na semana passada, em uma live a partir de Portugal, comandada pela enóloga Sónia Martins, presidente da Lusovini, e pelo experiente jornalista Luís Ramos Lopes, ex-diretor da Revista de Vinhos e agora da publicação Vinho Grandes Escolhas.

A Adega Pedra Cancela, em Nelas, no Dão

Para o evento, organizado com capricho pela importadora TDP, de Tiago dal Pizzol, cada participante recebeu em casa uma garrafa do vinho e um prato bem português, de bacalhau, preparado pelo ótimo restaurante paulistano Tasca do Zé e da Maria. A assessoria Ch2a cuidou da comunicação. Assim todos puderam degustar juntos, mesmo à distância.

A Lusovini – Vinhos de Portugal surgiu em 2009, criada por um grupo de sócios com famílias há muito ligadas ao mundo vinícola do país. Partiu do Dão e logo se expandiu para Bairrada, Douro, Alentejo e Vinho Verde. Desde o começo apostou nos mercados internacionais. Tem vinhedos próprios, administra marcas já existentes, que desenvolveu e modernizou, e faz parceria com conhecidos enólogos e produtores, como Anselmo Mendes. No Dão, tem sede em um amplo conjunto arquitetônico em Nelas, a Adega Pedra Cancela, onde há grande centro de distribuição dos produtos do grupo.

 

Ver o que ia dar

O grupo tem vinhedos no Dão

Algumas das atuais marcas geridas pelo grupo eram bastante conhecidas, como a Andresen, de Vinho do Porto, e a Pedra Cancela, iniciada no Dão, em 2000, pela família do enólogo e pesquisador João Paulo Gouveia. Sónia Martins ressalta que, ao assumir a Pedra Cancela, a Lusovini ampliou e atualizou o projeto.

Um dos vinhos mais bem sucedidos da série Pedra Cancela é o Reserva Branco, feito com Encruzado e Malvasia-Fina. Segundo Sónia, na colheita de 2012 a equipe de enologia preparou um lote especial, acrescentando Cerceal Branco à dupla anterior, mas achou que o vinho diferia do Reserva e poderia ter alguma dificuldade de apreciação pelo consumidor. “Engarrafamos em 2013 e decidimos não lançar de imediato, deixar na cave e ver o que se poderia fazer depois”, diz ela.

Em 2019, quando a Lusovini começou a planejar a celebração dos 20 anos da marca Pedra Cancela, a equipe fez várias sugestões. Ganhou o branco engarrafado sete anos antes e que, agora, está espetacular. Depois da fermentação, apenas parte do lote passou por barricas de carvalho, todas usadas. O jornalista Luís Lopes diz que o segredo então está claramente no tempo de garrafa, e foi isso que tornou o Intemporal tão diferenciado.

O nome escolhido busca passar a mensagem de que Portugal, onde os grandes vinhos sempre eram associados a tintos, também produz brancos maduros de gama alta, que nada ficam a dever aos principais rótulos do mundo.

 

As três castas

Encruzado

Luís Lopes lembra que a colheita de 2012 sucedeu à lendária safra de 2011, considerada excepcional em quase todas as regiões do país. Não se imaginaria duas vindimas de exceção seguidas, mas 2012 manteve padrão elevado. Foi um ano seco e teve verão ameno, o que ajudou as uvas a amadurecer lenta e completamente. Deu brancos finos e elegantes, ainda que menos estruturados que os 2011.

Aliás, a própria geografia do Dão, no centro do país, favorece a maturação plena das castas brancas. A região é conformada por um planalto rodeado de montanhas. As altitudes são maiores que a média do país e há grande amplitude térmica – a diferença de temperatura, na época da maturação, entre os dias quentes e as noites frias. Isso favorece o completo desenvolvimento dos cachos, sem perder a acidez.

No caso do Intemporal, três uvas bancas entraram na composição – Encruzado, Malvasia-Fina e Cerceal Branco. Ao falar sobre elas, Luís Lopes deu uma verdadeira aula. Encruzado é a grande casta branca do Dão, comparável às melhores de Portugal, ao lado da Arinto e da Alvarinho. Completas, são uvas que proporcionam aos vinhos bom teor alcoólico, volume, acidez, nervo e tensão.

Malvasia-Fina

O jornalista português observa que, ao contrário de castas brancas conhecidas, como a Chardonnay, registrada há séculos na França, a Encruzado só começou a ser mencionada nos anos 1940. Antes, a grande variedade branca do Dão era a Malvasia-Fina, casta aromática.

A par de suas qualidades, explica Luís Lopes, a Encruzado leva certa desvantagem inicial: quando jovem, o vinho por ela produzido geralmente é fraco de aromas. A solução adotada pelos enólogos é fermentá-lo em barricas de carvalho; deixá-lo mais tempo na madeira; ou reforçar o lote com a perfumada Malvasia-Fina.

A família das Malvasias está presente em várias regiões portuguesas. No Dão, a Malvasia-Fina, sozinha, normalmente gera vinhos com acidez e persistência medianas, mas no corte pode agregar álcool e untuosidade.

Já a Cerceal tem trajetória curiosa no país. Há três diferentes tipos de uva com nome parecido, embora com grafia distinta – a Sercial, da Ilha da Madeira; a Cercial, da Bairrada; e a Cerceal, do Dão. Esta última costuma dar origem a brancos com pouco álcool, mas com muita acidez.

Cerceal Branco

Assim, na receita do Pedra Cancela Intemporal de 2012, Encruzado e Cerceal Branco aportam acidez, enquanto a Malvasia-Fina oferece untuosidade e equilibra o conjunto. A acidez é um dos componentes essenciais para permitir vida longa ao vinho, mas sem equilíbrio a qualidade seria prejudicada.

A Lusovini tinha em estoque apenas 1.200 garrafas do que veio a ser o Pedra Cancela Intemporal, escolhido para celebrar os 20 anos da marca. Pelo sucesso do produto, no entanto, pretende manter este estilo de branco em seu portfólio. Sónia Martins, enóloga e presidente da empresa, conta que vinhos de outras colheitas já estão engarrafados e em repouso nas caves, para lançamento nos próximos anos. A propósito, brancos maduros de altíssimo nível começam a ganhar fama também em outras regiões portuguesas, prova de que têm espaço e todas as condições para fazer sucesso.

 

Pedra Cancela Intemporal 2012

Lusovini – Dão – Portugal – TDP/Total Vinhos – R$ 999 – Nota 94

Branco delicioso, lançado pela Lusovini para comemorar os 20 anos de existência da marca Pedra Cancela. Vem da boa colheita de 2012 e permaneceu sete anos em garrafa nas adegas da empresa, antes de vir ao mercado. No lote há 60% de Encruzado, 30% de Malvasia-Fina e 10% de Cerceal Branco. Somente pequena parte da Encruzado (20%) estagiou em barricas de carvalho, usadas. Sem influência da madeira, o longo tempo de garrafa é que fez a diferença no resultado final. A cor amarelo dourado poderia sugerir um vinho mais evoluído. Não é o caso. Os aromas são limpos e no paladar o frescor se mantém. Traz ao nariz cítricos, como tangerina, pêssego, frutas secas, gengibre, mel e erva-doce, com gostosa mineralidade, que lembra pedra raspada. Na boca é amplo, largo, intenso, com acidez vibrante, compensada pela untuosidade. Aparecem mais notas aromáticas, a exemplo de guaraná e manga. Elegante, fino, mostra persistência e grande vivacidade. Ótimo para beber já, tem estrutura para brilhar por muitos anos mais (14%).

TDP/Total Vinhos – São Paulo/SP – (11) 4963-1142 – (11) 95069-0950 – www.totalvinhos.com.br.

 

 

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