Ventisquero apresenta o Obliqua, seu primeiro Carmenère premium

by José Maria Santana | 16/12/2020 17:04

Tosso (à dir.) e Hormazabal apresentam o Obliqua

Ao completar 20 anos de existência, a Ventisquero, uma das principais vinícolas do Chile, está lançando um tinto de alta gama, o Obliqua 2017, um Carmenère produzido com uvas de uma parcela especial de seus vinhedos no vale de Apalta, um dos mais promissores do país. A apresentação mundial foi feita na semana passada, em uma degustação virtual para jornalistas brasileiros, organizada pela importadora Cantu, que distribui os vinhos Ventisquero em nosso país.

O evento, pela Internet, foi conduzido por Felipe Tosso, enólogo chefe da empresa, e pelo viticultor-chefe da vinícola, Sergio Hormazabal, que estavam no Chile. Além do Obliqua, o primeiro varietal Carmenère premium da casa, eles promoveram também o Grey Garnacha-Cariñena-Mataro 2018, outro tinto expressivo produzido com uvas do mesmo vinhedo La Roblería, em Apalta. Os jornalistas haviam recebido os dois vinhos em casa e puderam provar em conjunto.

A Ventisquero foi idealizada em 1996 pelo mega empresário Gonzalo Vial, do grupo Agrosuper. O passo inicial foi pesquisar os melhores locais para plantar uvas. A primeira vinha surgiu dois anos depois, no campo Trinidad, no Maipo Costa, onde também foi construída a adega. Em 2000 se realizou a primeira vindima, já sob o comando de Felipe Tosso. E no ano seguinte saíram ao mercado os primeiros vinhos Ventisquero. O nome faz referência aos glaciares encontrados no extremo sul do país.

Do Maipo Costa a nova empresa se expandiu para as principais regiões vinícolas chilenas, como Colchagua (onde também fica o vale de Apalta), Casablanca, Leyda e, mais recentemente, Huasco, no deserto de Atacama, o mais seco e árido do mundo.

Ventisquero: 1,8 mil ha. de vinhedos

O grupo possui cerca de 1,8 mil hectares de vinhedos e produz 14 milhões de garrafas por ano, sendo suas marcas principais Ventisquero, Kalfu, Ramirana, Yali e Root:1. Desde 2004, a vinícola conta com a consultoria do renomado enólogo australiano John Duval, ex-Penfolds.

Alguns dos vinhedos da Ventisquero são muito especiais, como Logomilla (9,8 hectares) e Nicolasa (3,6 ha.), situados no vale de Huasco, em pleno deserto do Atacama, onde a vida é considerada um milagre. Lá são produzidos três vinhos espetaculares, com os rótulos Tara, um branco de Chardonnay, e dois tintos, de Pinot Noir e Syrah. Outra região de destaque é Apalta.

Em suas diferentes marcas, o grupo oferece rótulos bastante conhecidos por aqui, importados pela Cantu. Na gama média, por exemplo, fazem sucesso os Ventisquero Reserva, a linha Queulat e a ótima série Grey. Na Ramirana há bons Syrah.

Mas brilham mesmo no portfólio os vinhos topo de gama. São eles o Heru (Pinot Noir), de Casablanca; o icônico Enclave (Cabernet Sauvignon), do Maipo; a série Tara; o Vertice (Carmenère/Syrah), o Pangea (Syrah), e, agora, o Obliqua (Carmenère), os três de Apalta.

 

Agricultura de precisão

Em Apalta, a vinha é dividida em parcelas

Apalta fica no vale de Colchagua, 160 km ao sul de Santiago, e hoje é classificada como denominação de origem. É um anfiteatro natural, rodeado de montanhas que chegam a 1.500 m acima do nível do mar. Tem clima seco, invernos rigorosos, verões quentes e proteção natural contra os ventos frios do Pacífico. O índice de chuvas, em média 750 mm por ano, é um pouco mais alto do que nas partes baixas de Colchagua.

A Vestisquero comprou terras lá em 1998 e possui 66 hectares no Viñedo La Roblería, em altitudes que variam de 200 m a 485 m. Também têm presença nesta pequena D.O. algumas das vinícolas mais prestigiadas do Chile, como Viña Montes, Casa Lapostolle, Viña Carmem e Valdivieso.

Apalta teve papel importante na moderna viticultura chilena, com o desenvolvimento da chamada agricultura de precisão. Um bom exemplo é o da própria Ventisquero, que entre 2006 e 2007 mapeou minuciosamente todo o vinhedo, plantado na encosta da montanha, com solos muito diversos.

Um aparelho especial mediu a condutividade eletromagnética de cada metro de solo, para saber sua composição. Basicamente, isto registra a quantidade de argila presente no terreno. Então, para ter um mapa de cores dos locais onde há menos ou mais argila, foram feitos buracos de 2 metros de profundidade e uma descrição dos solos. Um posterior mapeamento por satélite completou a análise da estrutura do terreno, declives e drenagem.

A colheita é feita por quartel, no momento certo

Depois, fotografias aéreas identificaram, pelas cores, o vigor das plantas. Foram analisados os parâmetros de sucessivas colheitas, como ph, acidez total, quantidade de açúcar, medição de polifenóis e degustação das uvas, para verificar a maturação dos componentes. Assim enólogos e agrônomos definiram as melhores zonas para cada casta e dividiram a vinha por quartéis ou parcelas.

Em Apalta, a equipe da Ventisquero identificou 28 parcelas diferentes no vinhedo La Roblería – cujo nome faz referência a bosques de carvalho, roble em espanhol. As observações passaram a ser levadas em conta em todas as safras. Esses parâmetros ajudam a tomar decisões sobre o momento ideal de colheita de cada quartel, com o máximo potencial de qualidade.

Ao analisar as parcelas, a equipe viu as uvas que se davam melhor e desenvolveu vinhos com cada uma delas. Nasceram assim alguns dos tintos ícones da casa. Por exemplo, no Vertice a Carmenère que entra no corte vem do quartel 23, enquanto a Syrah sai da parcela 25, ambas plantadas a uma altitude de 485 metros. Já no sedutor e elegante Pangea, a soberana Syrah é colhida no quartel 15, que tem solos granítico-argilosos não muito profundos. Hoje todo o vinhedo La Roblería tem manejo orgânico.

 

Obliqua Carmenère

A Carmenère, uva francesa que hoje existe praticamente apenas no Chile, se desenvolve bastante bem em Apalta. Antes era confundida no país com a Merlot, até que foi redescoberta em 1994. A casta prefere climas quentes e com um pouco de umidade – não mostra bom desempenho em locais muito secos. Os chilenos ainda estão aprendendo a trabalhá-la. Se não atinge a maturação perfeita, costuma dar tintos herbáceos, pelo excesso de pirazina.

A Ventisquero conseguiu bons resultados com a Carmenère em Apalta, na Parcela 23, plantada na parte mais alta de La Roblería, a 475 m de altitude, onde os solos são pedregosos. Como dito acima, dali saem as uvas que entram no corte do icônico Vertice. Mas o Vertice é loteado com Syrah. A vinícola não tinha um Carmenère 100%, embora a variedade tenha se tornado preciosa no país, pelo fato de ser o único a dispor dela.

Na live da semana passada, Sergio Hormazabal, viticultor-chefe da Ventisquero, contou que a partir de 2013 o comportamento da Carmenère plantada em um pedaço específico de 1,5 hectare da Parcela 23 começou a chamar a atenção da equipe, pela qualidade das uvas que produzia. A vinha foi plantada em 2001 em pé franco, diretamente no solo, sem uso de porta-enxerto.

A Carmenère: só no Chile

Segundo Hormazabal, é uma porção diferenciada do terreno, quase uma ilha no meio da Parcela 23, com solos de argila vermelha, profundos, e grande quantidade de pedras de origem coluvial, isto é, que caem dos taludes pelo efeito da gravidade. A argila é ainda mesclada com areia e granito.

Nesta porção do terreno a Carmenère vem em cachos menores que o habitual e amadurece plenamente. Os rendimentos são naturalmente baixos, apenas 800 gr por planta, ou seja, menos de 1 kg por pé. É diferente da Carmenère que entra na composição do Vertice.

Ano após ano, Felipe Tosso e John Duval perceberam que dali poderia surgir um varietal Carmenère de nível superior. Poderia ter sido em 2016, mas o ano muito frio desencorajou o lançamento, que aconteceu por fim com o vinho de 2017. O ano, bastante quente – 2017 foi marcado pelos incêndios florestais no Chile – teve rendimentos menores, embora com vinhos de grande qualidade. Essa é a origem do Obliqua 2017, apresentado agora pela Ventisquero ao mercado brasileiro.

 

Obliqua 2017

Viña Ventisquero – Vale de Apalta – Chile – Cantu – R$ 449 – Nota 94

Novo tinto premium da Ventisquero, com predominância de Carmenère de uma gleba especial da Parcela 23 do vinhedo La Roblería, localizado em Apalta, área de Colchagua. É um vinho com estrutura e frescor, e bastante capacidade para guarda. No lote há 94% Carmenère, 4% Cabernet Sauvignon e 2% Petit Verdot. Segundo o enólogo Felipe Tosso, estas duas últimas uvas agregam acidez e estrutura, além de dar tempero ao conjunto, como sal e pimenta. O amadurecimento foi feito por 22 meses no carvalho francês, sendo 70% em barricas de 300 litros, com um ano de uso, e 30% em foudres, tonéis grandes. Os aromas lembram cassis e framboesa, com algo de canela, pimenta e balsâmico. No copo também aparecem toques florais. Não há notas herbáceas verdes, indicando que a Carmenère teve maturação adequada. Na boca mostra bom corpo, estrutura e muito equilíbrio. É um vinho macio, elegante, redondo. Chama a atenção a boa acidez. A casta nem sempre apresenta esse frescor, mas no caso, o Obliqua foi favorecido pelo fato de as uvas virem da parte mais alta e fria do vinhedo, a 475 m de altitude. Outra particularidade é a presença ali de um carvalho solitário, que parece uma sentinela protegendo todo o vale abaixo. É da espécie Nothofagus obliqua, também conhecido como carvalho da Patagônia. Daí veio a inspiração para o nome do novo Carmenère premium da Ventisquero (14%).

 

Grey Single Block GCM – Garnacha-Cariñena-Mataro 2018

Viña Ventisquero – Vale de Apalta – Chile – Cantu – R$ 159 – Nota 92

A mescla bem sucedida nas regiões do Mediterrâneo ganha leitura especial nas mãos dos enólogos Felipe Tosso e John Duval. As uvas vêm de uma colina do vinhedo La Roblería, em Apalta, especificamente a Parcela 28. Ali a equipe da Ventisquero tentou inicialmente Cabernet Sauvignon, que não se deu bem. Por que então não plantar as castas de tradição espanhola que se desenvolvem tão bem nas zonas quentes do país? As três variedades são cultivadas em terraços no alto do morro, no ponto onde o vinhedo termina. Deu certo, especialmente na safra de 2018, ano muito bom no Chile, equilibrado, depois do frio e chuvoso 2016 e do difícil e caloroso 2017. O tinto traz 58% de Garnacha, que agrega fruta vermelha; 27% de Cariñena, que aporta estrutura; e 15% de Mataro, que lhe dá um toque animal. A Mataro também é chamada de Monastrell na Espanha e, na França, Mourvèdre. Com um ano de repouso em foudres de 2.500 l., o vinho mostra ao nariz framboesa, morango e cassis, em meio a notas florais, de especiarias e algo terroso. Em corpo médio, tem taninos firmes, maduros, boa acidez, persistência e frescor final. Bem feito, versátil, já está ótimo para beber (14%).

 

Cantu Importadora – Atendimento em São Paulo: (11) 2144-4455 – cantuimportadora.com.br.

 

 

 

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