by José Maria Santana | 06/01/2021 13:02
Nada melhor do que brindar a chegada do novo ano com um espumante de classe. É o caso do Lírica Crua 84 Meses, mais recente lançamento da Vinícola Hermann, de Adolar e Edson Hermann, pai e filho donos também da importadora Decanter. A cuvée é duplamente especial. Ficou 84 meses, ou sete anos, em contato com as leveduras, ganhando em volume e complexidade.
Além disso, recebe no rótulo o complemento Crua porque não passou pelo dégorgement, isto é, a retirada dos sólidos deixados pelas leveduras. Çorte de 80% Chardonnay, 10% Gouveio e 10% Pinot Noir, esta Lírica espetacular fez a segunda fermentação na própria garrafa, pelo método clássico, e só chegou ao mercado no finalzinho do ano passado, ao atingir seu auge.
Adolar, apaixonado por vinhos, criou a Decanter em 1997, depois de trabalhar por 38 anos como executivo de um grupo têxtil catarinense. A família mora em Blumenau, Santa Catarina, e no Estado ele realizou antigo projeto de se tornar produtor de tintos e brancos. Em 1999 ele, o filho Edson e dois amigos fundaram a Quinta da Neve, em São Joaquim e foram os primeiros a apostar na elaboração de vinhos finos em vinhedos de altitudes elevadas.
O sonho se ampliou no Rio Grande do Sul em 2009, quando a família Hermann comprou um vinhedo em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste, plantado alguns anos antes por Dorina e Thomas Lindemann, casal de alemães radicados no Alentejo, em Portugal, onde eram donos da Quinta do Plansel e de uma das maiores empresas viveiristas portuguesas, iniciada pelo pai dela, Jorge Böhm.
Com a morte precoce do marido, Dorina não teve mais como tocar o vinhedo gaúcho, que ficou praticamente abandonado até ser comprado por Adolar e seu filho Edson, que eram amigos do casal – a Decanter importa os vinhos Quinta do Plansel/Dorina Lindemann.
Desde o início a Vinícola Hermann conta com a assessoria do brilhante enólogo português Anselmo Mendes, que atua principalmente no Minho, na região dos Vinhos Verdes dedicada à incrível casta branca Alvarinho. Em Pinheiro Machado a família mantém equipe chefiada pelo talentoso enólogo Átila Zavarizze, conhecido pela atuação em vinícolas catarinenses.
A propriedade na Serra do Sudeste tem 100 hectares, sendo 21,2 ha. com vinhedos, localizados a 430 m de altitude. Próxima da Campanha Gaúcha, a região tem clima subtropical fresco, apresentando verões moderados e invernos frios, com ocorrência de geadas. O índice de chuvas é relativamente alto (média de 1.380 mm por ano), mas bem espalhado, de modo a não prejudicar a colheita. O solo areno-argiloso, com afloração de rochas, tem boa drenagem e favorece a adaptação da videira.
Aos poucos, os antigos vinhedos foram recuperados e confirmaram o potencial do lugar para originar vinhos de qualidade. A vinha original, por orientação dos antigos donos, foi plantada com castas portuguesas, como Touriga Nacional, Aragonês, Alvarinho e Gouveio. O encepamento é completado por variedades internacionais, a exemplo de Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Syrah.
Sem adega própria em Pinheiro Machado, a Hermann elabora seus produtos em cantinas de vinícolas parceiras, como Cave Geisse e Quinta Don Bonifácio. Produz assim as linhas de espumantes Bossa e Lírica, e uma série de tintos e brancos varietais chamada Matiz.
Desde 2013
Da Serra do Sudeste vem igualmente a cuvée de prestígio Lírica Crua 84 Meses. Adolar conta que o primeiro espumante do tipo feito pela família, isto é, sem a retirada dos sólidos depositados com a morte das leveduras, ocorreu em 2013. Chegou ao mercado no final de 2015.
O vinho tinha muita estrutura e, na época, a equipe decidiu deixar parte do lote na cave, sem oferecer à venda. De tempos em tempos uma garrafa era aberta, para verificar sua evolução. No final de 2020, sete anos depois, chegou-se à conclusão de que o ápice havia sido atingido e finalmente a Lírica Crua 84 Meses foi apresentada ao consumidor.
O champagne e outros bons espumantes produzidos pelo método clássico geralmente permanecem na garrafa em contato com as lias (borras finas) por uns 3 anos. Os especiais, as chamadas cuvées de prestígio, ficam em média 5 anos e, em alguns casos, mais que isso.
As leveduras que atuam no processo de tomada de espuma cessam sua atividade quando consomem todo o açúcar presente no líquido. Se os sólidos resultantes são deixados na garrafa, provocam ao longo dos anos diversas transformações químicas e enzimáticas, trazendo novos aromas e sabores ao vinho.
O início é sempre o mesmo. Um vinho base vai para a garrafa, que recebe o licor de tiragem, com carga doce e novas leveduras, que vão transformar o açúcar em álcool e formar as bolhinhas. O gargalo é fechado com uma pequena proteção de plástico (bidule) e uma tampinha metálica, parecida com as de cerveja.
No final do processo, as garrafas são gradativamente inclinadas, de modo que as borras se concentrem no gargalo. A ponta é então congelada e a garrafa é aberta, expelindo o toquinho de gelo, ao qual estão grudados os sólidos deixados pelas leveduras mortas. É o dégorgement, processo desenvolvido na região de Champagne, na França – por isso era conhecido por champenoise.
Como um pouco do líquido sempre sai junto com o gelo, completa-se a garrafa com o licor de expedição, em que se adiciona certa quantidade de açúcar para chegar ao estilo pretendido – extra-brut, brut, demi-sec ou doce. Aí se colocam a rolha especial e a gaiola de arame.
No caso da série Lírica Crua, como se viu, a retirada dos sólidos não acontece. Como não há o dégorgement, a garrafa é apresentada da forma em que estava na adega da vinícola, ou seja, com a tampinha metálica e, por baixo dela, o bidule. Mas o design da embalagem é diferenciado e recebe elegantes toques dourados na gargantilha e na tampinha metálica, para indicar que se trata de um vinho especial.
Lírica Crua 84 meses
Vinícola Hermann – Pinheiro Machado, Serra do Sudeste, RS – Brasil – Importadora Decanter – R$ 129,10 – Nota 93
A cuvée de prestígio da vinícola da família Hermann, mantida na adega por sete anos, vem de um corte de 80% de Chardonnay, 10% Gouveio – casta branca típica de Portugal – e 10% da tinta Pinot Noir. As uvas foram selecionadas das parcelas mais antigas do vinhedo de Pinheiro Machado. Depois da preparação do vinho base, a segunda fermentação foi feita na própria garrafa, pelo método tradicional ou clássico. Terminada esta etapa, a equipe decidiu preservar parte do lote, deixando o vinho sobre as borras desde 05 de setembro de 2013, provando-o de tempos em tempos enquanto envelhecia. Agora, 84 meses mais tarde, concluiu que o espumante atingiu o auge e o lançou. De coloração amarelo dourada, mostra ligeira turvação, pois não foi feito o dégorgement, a retirada dos sólidos (lias) deixados pelas leveduras. Por isso o rótulo indica Lírica Crua. Os aromas lembram pera, damasco e cítricos, em meio a notas florais, minerais, de frutas secas, pão e brioche. Sem o dégorgement, não recebeu o chamado licor de expedição, que poderia adicionar doçura. No estilo ‘nature’, é seco, mas o contato com as lias aportou certa maciez na boca. Volumoso, cremoso, com acidez vibrante, tem frescor e persistência. Mostra complexidade e elegância. Tudo muito natural, sem adição de SO2. O Lírica Crua 84 Meses foi elaborado para a família Hermann nas instalações da Cave Geisse, de Mario Geisse. Foram produzidas apenas 1.400 garrafas. Um espumante gostoso para beber já, mas com estrutura para vários anos pela frente. Recomenda-se beber frio, em taças grandes, para melhor apreciar sua qualidade (11,8%).
Importadora Decanter – Atendimento Geral: (47) 99983-2961 – E-commerce: (47) 3038-8875 – www.decanter.com.br[1].
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