No réveillon, um brinde com espumantes brasileiros
Jovial, frutado e fresco, o espumante brasileiro segue em alta aqui e no exterior e, no réveillon, nada melhor do que saudar a virada do ano com as borbulhas nacionais. Com qualidade consistente, e preços normalmente mais acessíveis do que os importados, o produto local tem tudo para fazer a festa de despedida deste controverso 2016 e a chegada de 2017. Apresentamos abaixo 10 sugestões de espumantes nacionais entre os melhores produzidos no país, sendo oito brancos e dois rosés.
O espumante é sem dúvida o único vinho brasileiro que faz frente aos importados. O sucesso é resultado de um conjunto de ações. Nos últimos anos, nossas vinícolas investiram em equipamentos e tecnologia, passaram a conhecer melhor a área em que atuam e a contar com profissionais mais bem preparados.
Como se sabe, o espumante parte de um vinho base que sofre uma segunda fermentação, que acontece em ambiente fechado, onde o anidrido carbônico fica retido. É ele o responsável pela formação da espuma, das borbulhas e da pressão que faz a rolha estourar. Basicamente há dois processos de produção. No método tradicional ou clássico, desenvolvido na região francesa de Champagne, a segunda fermentação ocorre na própria garrafa. No outro método, conhecido como Charmat, a segunda fermentação acontece em grandes tanques de aço inox fechados, as autoclaves.
Boas condições
Produzem bons espumantes o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o Nordeste e, mais recentemente, Minas Gerais. Mas a Serra Gaúcha ainda é a grande fornecedora, de onde saem 90% de todas as borbulhas brasileiras. A região tem uma vocação natural para esse tipo de vinho. Nunca é demais lembrar que o clima da Serra Gaúcha, muito chuvoso, dificulta o trabalho dos enólogos na elaboração de tintos e brancos normais. Por outro lado, oferece boas condições de desenvolvimento para as uvas que vão dar origem aos espumantes.
O final do ciclo de maturação das uvas e o começo da vindima coincidem com o verão, época de chuvas fortes na região Sul. É um risco para o viticultor deixar os cachos no parreiral para amadurecerem completamente. No caso das borbulhas, não é um problema. A colheita precoce resulta em cachos com menos açúcar e mais acidez. Por isso, muitos especialistas dizem até que a Serra Gaúcha, apesar das dificuldades climáticas, é uma das melhores zonas do mundo para a produção de espumantes. Boa acidez e aromas finos são componentes essenciais da qualidade do espumante nacional.
Um bom vinho só se faz com uvas de qualidade. As castas que normalmente dão origem a vinhos base de nível superior e, consequentemente, a bons espumantes, são Pinot Noir, Chardonnay, Riesling Itálico e Moscatel.
De modo geral, a safra de 2016 no Brasil teve restrições de quantidade – choveu muito no período de floração e houve geadas tardias –, mas terminou boa para as variedades de maturação precoce, como aquelas que entram na composição dos vinhos base para espumantes. A produção anual chegou a 11,5 milhão de litros, bem menor do que nas últimas colheitas. O mercado interno registrou queda de 11,6%. As exportações, ao contrário, aumentaram 36,6% em relação ao ano anterior, com 153,3 mil litros vendidos no exterior.
Os espumantes sugeridos
Adolfo Lona Nature – Pas Dosé
Adolfo Lona – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 95 – Nota 91
O argentino Adolfo Lona, radicado em Garibaldi e inspiração de toda uma geração de enólogos, oferece este delicioso espumante criado a partir de Chardonnay, Merlot e Pinot Noir, pelo método clássico. O rótulo remete ao fato de que após a segunda fermentação na garrafa não teve adição de licor de expedição, em que se faz a dosagem de açúcar. No caso, apresenta apenas a taxa de açúcar residual da uva, que a legislação destinada a Nature, ou Pas Dosé, estabelece em até 3 gr. por litro. Permaneceu por 18 meses em contato com as borras. Nos aromas, lembra frutas secas, pão, leve fumado, com notas minerais em base de cítricos e damasco. É complexo, estruturado, macio, nada agressivo, bem equilibrado. Um grande vinho.
Cave Geisse Brut
Cave Geisse – Pinto Bandeira, RS – Brasil – R$ 88 – Nota 90
Espumante equilibrado e fino produzido pela vinícola do enólogo chileno Mario Geisse, que se tornou referência na elaboração de vinhos borbulhantes na Serra Gaúcha. Vem de 70% Chardonnay e 30% Pinot Noir, feito pelo método tradicional, com permanência de pelo menos 24 meses com as borras. Notas de pão, cítricos, maçã e melão aparecem ao nariz. Não muito seco, fácil, cremoso, com boa acidez e frescor. Gostoso de beber.
Miolo Millésime Brut 2012
Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 109,40 – Nota 90
A safra de 2012 está entre as melhores dos últimos anos no Brasil para castas de maturação precoce e deu vinhos de excelente qualidade, como este espumante da Miolo, elaborado pelo método tradicional. Vem de Chardonnay e Pinot Noir de vinhedos da empresa em São Gabriel, município de Garibaldi, na D.O. Vale dos Vinhedos, a primeira a merecer proteção de origem no país. Nos aromas há notas de pêssego, de flores e minerais. Bem estruturado, macio, mostra frescor e equilíbrio.
Casa Valduga 130 Brut
Casa Valduga – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 114 – Nota 90
Nos últimos anos a casa Valduga passou a oferecer variações do Brut 130, uma com 100% Pinot Noir (vinificada como um branco), outra de apenas uvas brancas. Aqui sugerimos a versão original, bem feita e confiável, mescla de Chardonnay e Pinot Noir. Com a permanência de 36 meses sobre as borras na garrafa ganha complexidade e elegância. O nome é homenagem à chegada da família de imigrantes ao Brasil, há mais de um século.
Aurora Pinto Bandeira Extra Brut 24 meses
Vinícola Aurora – Pinto Bandeira, RS – Brasil – R$ 96 – Nota 90
O município de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha, a segunda região demarcada a conquistar Indicação de Procedência (IP) no Brasil, se consolida como região ideal para Chardonnay e Pinot Noir. Aqui, estas uvas são completadas por 10% de Riesling Itálico. Bem feito, traz nos aromas fruta madura, cítricos, tostados, algo de flores e um toque mineral. Na boca é cremoso, com boa acidez e estrutura. Frutado e frescor são as boas qualidades. A classificação Extra Brut indica que é seco, fica entre o Nature e o Brut, podendo ter de 3 a 8 gr de açúcar por litro. Feito pelo método clássico, passou 24 meses na garrafa em contato com as leveduras, o que dá volume e complexidade.
Luiz Argenta Brut 48 meses
Luiz Argenta – Flores da Cunha, RS – Brasil – R$ 99 – Nota 90
A família Argenta comprou em 1999 os históricos vinhedos da vinícola Riograndense, em Flores da Cunha, e ali produz seus vinhos. O espumante, com uvas da safra de 2010, é 100% Chardonnay. Surpreende pela fruta limpa, estrutura, acidez e frescor. Traz um toque cítrico e mineral. É seco, cremoso e ganhou complexidade com o tempo de contato com as borras, os 48 meses mencionados no rótulo.
Pizzato Brut Rosé 2015
Pizzato – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 85 – Nota 90
A família de Plínio Pizzato produz bons espumantes. Seu rosé é blend de 80% Pinot Noir e 20% Chardonnay, com 8 gr. de açúcar por litro. Portanto, seco. Nos aromas lembra cereja madura, com notas minerais. Cremoso e fresco, é amplo e versátil, o que o torna bom companheiro à mesa.
Gran Legado Brut Champenoise
Gran Legado – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 73,90 – Nota 89
Um espumante com história. Em 1998, a família Estefenon, dona da Tecnovin-Suvalan, fabricante de suco integral de uva e de outras frutas, comprou os vinhedos e instalações da antiga Forestier, da multinacional Pernod-Ricard. Ficam na D.O. Vale dos Vinhedos. Ali passou a produzir os rótulos Gran Legado e, mais recentemente, Forestier. Seu Brut, assinado pelo enólogo Christian Bernardi, que utiliza o método tradicional, é mistura de Chardonnay e Pinot Noir, com 24 meses em presença das borras. Leva 8 gramas de açúcar por litro, é macio, gostoso, fácil de beber. Notas de brioche, panetone, maçã e caju aparecem ao nariz. Na boca é amplo, mostra bom volume, cremosidade e agradável acidez.
Chandon Excellence Rosé Brut
Chandon – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 135 – Nota 89
O experiente enólogo francês Philippe Mevel é um especialista em espumantes e responde por alguns dos melhores rótulos do país, produzidos pelo método Charmat. Por exemplo, o Excellence Brut. Aqui sugerimos outra versão do Excellence, o rosé, 100% Pinot Noir. No nariz recorda frutas vermelhas, como morango e framboesa, além de notas de pão. Na boca é estruturado, macio, persistente e com bom frescor final.
Salton Évidence Brut
Salton – Serra Gaúcha, RS – Brasil – R$ 71,50 – Nota 89
A tradicional vinícola familiar instalada no distrito de Tuiuty, Bento Gonçalves, elabora este espumante pelo método clássico. Mescla de Chardonnay e Pinot Noir. Parte do vinho base (20%) foi fermentada em carvalho francês, onde repousou por 6 meses. Após a segunda fermentação, o vinho permaneceu por 24 meses na garrafa, junto com as borras. Gostoso e fácil de beber, traz ao nariz frutas maduras, tostados, notas cítricas e florais. Cremoso, tem boa estrutura e frescor.
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