Casa Verrone Speciale Syrah, um tinto paulista de classe
Amplo, bem feito, aveludado, o tinto Casa Verrone Speciale Syrah 2015 atrai pela fruta madura, pelos taninos sedosos, pela boa integração com a madeira e pelo agradável final. Vem de Itobi, no interior paulista, de um vinhedo situado a 840 metros de altitude. Ganhou o Top Ten da Expovinis 2017, ao ser considerado o melhor Tinto Brasileiro na feira.
Não é mais surpresa saber que um vinho com esta qualidade nasce nas proximidades da Serra da Mantiqueira. A área montanhosa entre São Paulo e Minas Gerais, tradicional produtora de café, já mostrou que também é um grande terroir para vinhos finos. A marca de quase todas as vinícolas locais é a reversão da safra. Aqui, ao contrário do Rio Grande do Sul, a vindima acontece no inverno, mais seco, e não no verão, período sujeito a chuvas fortes.
O engenheiro agrônomo e empresário Márcio Verrone tomou contato com o mundo dos vinhos no início dos anos 2000 e logo se apaixonou. Criou a vinícola que leva seu nome de família e plantou os primeiros vinhedos em 2009. Hoje tem 20 hectares em Divinolândia e Itobi, ocupados com as uvas tintas Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, além das brancas Chardonnay, Viognier e Sauvignon Blanc.
Verrone seguiu a trilha aberta por vinícolas jovens como a paulista Guaspari e as mineiras Maria Maria, Luiz Porto e Casa Geraldo, e adotou em parte o método de inversão de safra desenvolvido na região pelo pesquisador mineiro Murillo de Albuquerque Regina, da Epamig, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. Murillo fez mestrado e doutorado em viticultura e enologia em Bordeaux, na França, nos anos 1990, e completou a formação com estágio em um centro de vitivinicultura ligado ao Instituto Francês da Vinha e do Vinho.
Desta experiência ele trouxe para o Sudeste do Brasil a técnica chamada de poda invertida, que tenta evitar o problema do excesso de chuvas no período de maturação e colheita das uvas, normalmente concentrado no início do ano. Assim, no verão, enquanto a safra começa no Rio Grande do Sul, as vinícolas do Sudeste que adotam o método invertido fazem uma poda radical dos cachos para, digamos, enganar a parreira.
Depois a videira segue seu ciclo vegetativo, que vai terminar com a maturação e colheita no inverno. Em julho e agosto o clima é mais seco, com risco menor de prejuízo para os viticultores. Além disso, a diferença de temperatura entre os dias quentes e as noites frias favorece o pleno amadurecimento das uvas. Murillo Regina testou o processo na fazenda de um amigo, o médico Marcos Arruda Vieira, na cidade mineira de Três Corações. Hoje são sócios da vinícola Estrada Real, que produz o muito bom tinto Primeira Estrada Syrah.
No caso da vinícola Verrone, a adoção da técnica de poda invertida é parcial. Os dois vinhedos da empresa ficam em municípios próximos, mas com características diferentes. Em Divinolândia são 12 hectares, a 1.300 metros de altitude, onde o clima é bastante fresco no final do ano. Por isso, Márcio não considera necessário fazer a inversão de safra. Dali sai o premiado Chardonnay da vinícola.
O procedimento é realizado apenas no vinhedo de Itobi, entre São José do Rio Pardo e Casa Branca, origem do Speciale Syrah. Na área o clima é do tipo semitropical e os solos, argilo-arenoso-pedregosos. O rendimento é baixo, somente 1,2 kg de uva por planta. A colheita, manual, acontece no inverno, entre junho e julho.
A Verrone lançou o primeiro rótulo em 2010. Por enquanto, vinifica seus vinhos na adega da Epamig, em Poços de Caldas. São apenas 10 mil garrafas por ano.
Casa Verrone Speciale Syrah 2015
Casa Verrone – Divinolândia/Itobi, São Paulo – Brasil – R$ 94 – Nota 90
Tinto 100% Syrah, com passagem de 12 meses por barricas de carvalho francês de segundo uso. Os aromas lembram cassis e amora, com notas florais. Na boca mostra bom corpo, é equilibrado e macio, sem nada que agride e tem boa persistência. Um vinho agradável, que se bebe com prazer (14%). Em São Paulo, pode ser encontrado no Red Buteco, da Vila Madalena.
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