Portugal investe, ganha espaço e se mantém em segundo lugar no mercado brasileiro
Grandes eventos realizados nos últimos dias mostraram que, mesmo com as dificuldades da economia brasileira, altas seguidas do dólar, carga de impostos e burocracia, as vinícolas portuguesas continuam investindo em nosso mercado. A aposta começa a dar frutos. Portugal passou a Argentina e é o segundo maior fornecedor de vinhos importados pelo Brasil, perdendo apenas para o Chile. Em 2017, segundo informações coletadas pelo Ibravin, as empresas lusas venderam aqui 16,6 milhões de litros de vinho, contra 10,9 milhões no ano anterior. Ou seja, um salto expressivo de 52,2% por cento.
Na quinta-feira passada, dia 7, um grupo de produtores da Península de Setúbal promoveu seus vinhos em São Paulo. Participaram da mostra nomes representativos da região, como o simpático e experiente enólogo Jaime Quendera, da Adega de Pegões e de outras casas; Joana Freitas, filha de Leonor Freitas, da vinícola Ermelinda Freitas; e António Saramago Filho que, como o nome indica, é filho do grande enólogo António Saramago.
E neste último fim de semana, milhares de pessoas participaram do evento Vinhos de Portugal, realizado pela segunda vez em São Paulo, por iniciativa dos jornais O Globo e Valor Econômico, do português Público e da Revista Época, em parceria com a ViniPortugal. No fim de semana passado a mesma prova tinha acontecido no Rio de Janeiro. Na edição paulistana, 85 empresas estavam presentes, oferecendo 600 vinhos para degustação.
Vinícolas bastante conhecidas, das principais regiões portuguesas, apresentaram seus rótulos, como Luís Pato, Niepoort, Cartuxa-Fundação Eugénio de Almeida, Cortes de Cima, Dona Maria-Julio Bastos, Grupo Carmim, Esporão, Herdade da Malhadinha Nova, Herdade De Coelheiros, J. Portugal Ramos, José Maria da Fonseca, Lusovini, Sogrape, Anselmo Mendes, Lima & Smith, Wine & Soul, Adriano Ramos Pinto, Jorge Moreira, Poças Júnior, Quinta da Romaneira, Real Companhia Velha, Quinta do Vallado, Symington, Quinta do Crasto e Domingos Alves de Souza.
Sónia Vieira, da ViniPortugal, destaca a importância do Brasil para os vinhos portugueses. “Este é cada vez mais um mercado onde queremos estar, com as melhores referências, os melhores produtores, mostrando a diversidade que Portugal pode oferecer”. Até então, na estrutura de Marketing da ViniPortugal Sónia respondia pelo mercado de Portugal e do Brasil. Nesta última visita a São Paulo ela informou que assumiu a coordenação de todos os mercados, apresentando Inês Pinto como sua sucessora nas ações voltadas para nosso país.
Selecionamos aqui alguns vinhos provados nos dois grandes eventos da semana passada. Mostram que os tintos e brancos de Portugal fazem sucesso pela personalidade própria, equilíbrio e, principalmente, qualidade.
Vinho Verde Quinta da Companhia 2016
Quinta da Companhia – Vinhos Verdes – Portugal – Cork – R$ 80 – Nota 90
Vinho Verde gostoso e bem feito, produzido no Vale de Cambra, com uma história interessante. Em 2015, o antigo dono da vinícola, António Fonseca Brandão, já não tinha interesse em tocar o negócio e pretendia fechar a empresa. Mas um industrial vizinho, João Paulo Martins, propôs comprar a propriedade, oferecendo sociedade a um primo brasileiro, José Antonio Fernandes. Este último convenceu então a irmã, Fátima Ferreira, a abrir uma importadora para distribuir os vinhos aqui. Martins e Fernandes modernizaram a vinícola e mantiveram o enólogo Fernando Moura. A pequena Quinta da Companhia, com sede em Algeriz, na sub-região de Paiva, tem 4,5 hectares de vinhedos e produz 25 mil garrafas por ano. Seu vinho, lote de Loureiro, Arinto e Trajadura, mostra um toque herbáceo, notas florais, em base de fruta como pera e cítricos. É seco, vivaz, com muito boa acidez e frescor. Não tem a agulha que marcava a boca dos Vinhos Verdes no passado. De perfil moderno, é delicado, mas com estrutura e bom volume (12%).
Cork – www.quintadacompanhia.com.br – Tel. (11) 99496-4218
Manoella Branco 2017
Wine & Soul – Douro – Portugal – Adega Alentejana – R$ 184 – Nota 92
Novidade apresentada pelo jovem casal de enólogos Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, um branco magnífico que completa a família iniciada pelo Manoella Tinto. Vem de Gouveio e Códega do Larinho provenientes de vinhas velhas, com mais de 40 anos, da Quinta da Manoella, plantadas em altitude no vale do Rio Pinhão, em encostas situadas 500 metros acima do nível do mar e solo granítico. Pequena parte do lote (10%) estagia em barricas usadas de carvalho, sem marcar, apenas para dar harmonia ao conjunto. Complexo de aromas, lembra cítricos, lima, em meio a notas florais. Nota-se a mineralidade no nariz e na boca, onde é volumoso, seco, elegante e longo. A exemplo do Pintas e do Guru, mais um vinho delicioso de Sandra e Jorge (12%).
Adega Alentejana – www.adeaalentejana.com.br – Tel. (11) 5094-5760
António Saramago Reserva Tinto 2014
António Saramago – DO Palmela/Península de Setúbal – Portugal – Viníssimo – R$ 239 – Nota 92
A Península de Setúbal (na verdade, a bela região tem duas penínsulas, formadas pelos estuários dos rios Tejo e Sado) fica logo abaixo de Lisboa e é famosa pelo fortificado e doce Moscatel de Setúbal. Mas também produz brancos e tintos de categoria. Em 1989, a legislação separou as duas famílias. A Denominação de Origem Setúbal foi destinada aos vinhos generosos (fortificados), enquanto a DO Palmela abriga os vinhos tranquilos, como este excelente Reserva assinado por António Saramago, um dos pioneiros da moderna enologia lusa. Na receita, predominância da Castelão (85%), a uva mais típica da região, temperada por 10% de Touriga Nacional e 5% de Alicante Bouschet. Amadureceu por 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Lembra ao nariz ameixa e frutas pretas, com notas de tabaco, tostadas e leve floral. Tem bom corpo, é equilibrado, macio, longo e muito elegante, um vinho que não cansa e se bebe com prazer (14,5%).
Viníssimo – www.vinissimostore.com.br – Tel. (11) 4195-5554 41
Dona Ermelinda Tinto Reserva 2015
Casa Ermelinda Freitas – DO Palmela/Península de Setúbal – Orion – R$ 75 – Nota 91
A vinícola familiar comandada pela dinâmica Leonor Freitas, com a ajuda da filha Joana e assessoria do enólogo Jaime Quendera, começou pequena, cresceu e hoje é um dos bons nomes da região. Possui 440 hectares de vinhedos em Fernando Pó, concelho de Palmela, onde os solos arenosos são muito propícios para o desenvolvimento da Castelão (antiga Periquita). Seu tinto parte de 70% Castelão, 10% Touriga Nacional, 10% Trincadeira e 10% Cabernet Sauvignon, com estágio de 12 meses no carvalho francês. Nos aromas há frutas maduras, como ameixa, tabaco, café e especiarias. Destaque para a boca, onde é encorpado, equilibrado, com taninos presentes e finos. Madeira e fruta estão bem integradas, tornando o vinho elegante e sedutor (14,5%).
Orion – www.orionvinhos.com.br – Tel. (11) 2362-8441
Vale de Cavalos Tinto 2015
Poças Júnior – Douro – Portugal – Cantu – R$ 80 – Nota 90
A casa fundada em 1918 por Manoel Domingues Poças Júnior continua até hoje em mãos de seus descendentes e completa 100 anos agora em agosto. Possui 86,5 hectares de vinhas no Douro, em três propriedades, a saber, Quinta das Quartas, Quinta de Santa Bárbara e Quinta de Vale de Cavalos, onde nasce este tinto bem feito e fácil de beber. Produzido com 50% Touriga Nacional, 20% Touriga Franca, 20% Tinta Roriz e 10% Tinta Barroca, tem ligeira passagem por madeira (20% do lote repousam por 3 meses em barricas usadas de carvalho), mantendo toda a expressão da fruta. Notas florais e de framboesa aparecem ao nariz, além de leve especiaria. Na boca se percebe que tem bom corpo, estrutura, taninos maduros e grande frescor. Versátil, acompanha bem comida (13,5%).
Cantu – www.cantuimportadora.com.br – Tel. SP. (11) 2144-4450
Marias da Malhadinha 2013
Herdade da Malhadinha Nova – Alentejo – Portugal – Barrinhas – R$ 690 – Nota 94
A Herdade da Malhadinha Nova tem tintos e brancos muito bem feitos e a preços mais apetecíveis, como as linhas Monte da Peceguina e Malhadinha. Mas nada como o monumental tinto Marias da Malhadinha para mostrar todo o potencial desta vinícola tipicamente familiar, com apenas 20 anos de existência. A propriedade de Albernoa, no Baixo Alentejo, foi comprada em 1998 pela família Soares, que ganhou dinheiro no comércio de bebidas no Algarve. Na época, havia no local apenas uma construção em ruínas, algumas oliveiras e terras abandonadas. Sob o comando dos irmãos João e Paulo Soares, o projeto começou do zero, de modo planejado, moderno e sustentável. Além dos vinhos, inclui criação de animais de raça autóctones, produção de azeite e um charmoso hotel rural. A parte vitivinícola teve orientação do experiente enólogo Luís Duarte. A adega, com tecnologia de ponta, foi inaugurada em 2003. Os primeiros vinhos logo chamaram a atenção de todos para a nova casa. O Marias da Malhadinha surgiu de uma aposta de Luís Duarte. Ele percebeu que um lote da safra de 2004 era muito especial e resolveu deixá-lo mais tempo nas caves. Deu tão certo que foi incorporado ao portfólio da vinícola. Mas em 15 anos, foi editado apenas quatro vezes, em colheitas excepcionais. Esta, de 2013, tem predomínio de Alicante Bouschet, com tempero de Tinta Miúda e Cabernet Sauvignon e estágio de 26 meses em barricas novas de carvalho francês. Não há nada em excesso, é tudo equilibrado, de uma elegância marcante. De perfil clássico, mostra mais aromas terciários, do amadurecimento, do que os da fruta jovem. Envolvente, macio, é realmente um tinto grandioso, do qual foram extraídas somente 3.500 garrafas. O rótulo tem traços infantis, já que é tradição da casa reproduzir desenhos dos filhos de João e Paulo. E o nome faz referência às muitas Marias presentes na família Soares (15%).
Barrinhas – www.barrinhas.com.br – Tel. (21) 2131-0021
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