Chile mostra bons vinhos em todas as faixas de preço
O tinto Santa Carolina Cabernet Sauvignon sai por R$ 30 nos supermercados e lojas de vinhos; San José de Apalta Carmenère Reserva 2017, R$ 53; o Casas del Toqui Barrel Series Cabernet Sauvignon, R$ 68; o Odfjell Armador Cabernet Sauvignon, R$ 84; o Casa Silva Quinta Generacione 2015, R$ 180; o El Principal Memorias 2014, R$ 320; e o novo Enclave 2011, de Viña Ventisquero, R$ 860.
Em todas as faixas de preço o Chile oferece bons e ótimos vinhos, o que ajuda a explicar o sucesso dos tintos e brancos daquele país em nosso mercado, onde é líder disparado entre os importados. “O Brasil já é o quarto mercado mundial para os vinhos chilenos”, afirmou Mario Pablo Silva, presidente da Wines of Chile, na abertura do 8º Tasting Wines of Chile em São Paulo, na semana passada. O evento anual, que desta vez reuniu 36 produtores, deu um panorama do que a vinicultura local produz de melhor atualmente.
A presença dos vinhos chilenos por aqui tem aumentado a cada ano. O país lidera o ranking de vinhos importados há 16 anos e fechou 2017 detendo, em volume, perto de 50% do nosso mercado – mais do que o dobro do segundo e terceiro colocados somados, Portugal e Argentina. Vende atualmente no Brasil 60 milhões de garrafas de vinho por ano.
Além da qualidade de seus rótulos, o Chile se destaca pela grande variedade de produtos que oferece, resultado da sua diversidade de vales e terroirs, onde se desenvolvem plenamente as principais uvas que fazem sucesso no mercado internacional. Junte-se a isso o fato de que nos últimos anos as vinícolas locais investiram bastante na tecnologia das adegas e, principalmente, na pesquisa de campo, a chamada agricultura de precisão, que busca apontar as melhores parcelas de seus vinhedos e quais castas se saem melhor em cada uma delas.
A propósito, na Master Class para jornalista especializados que abriu o 8º Tasting Wines of Chile em São Paulo o experiente sommelier chileno Hector Riquelme lembrou que, além dos terroirs conhecidos e consagrados, seu país apresenta quatro denominações de origem oficiais novas – Lo Abarca, no vale de San António, junto às águas frias do Pacífico; Apalta, zona privilegiada no vale de Colchagua; Los Lingues, no Alto Colchagua, junto aos Andes; e Licantén, um pouco mais ao sul em relação a Santiago, área de Curicó costa.
É interessante notar ainda que a indústria chilena se sai bem ao produzir em grandes quantidades tintos e brancos de apelo popular e, ao mesmo tempo, consegue explorar nichos de mercado, em que brilham vinhos premium de produção reduzida e altíssima qualidade.
No grande evento organizado por Wines of Chile – associação responsável por divulgar os vinhos chilenos em todo o mundo – os jornalistas e consumidores puderam provar os vinhos de 36 vinícolas. A saber: Alto Quilipin, Casas del Toqui, Chilean Wines Company, Cousiño Macul, Dos Almas, Encierra, J. A. Jofré Wines, Odfjell, Viña Bisquertt, Viña Carmen, Viña Casa Silva, Viña Casablanca, Viña Concha y Toro, Viña Cono Sur, Viña Echeverria, Viña El Principal, Viña Emiliana, Viña Gandolini, Viña Indómita, Viña La Rosa, Viña Las Niñas, Viña Leyda, Viña Montes, Viña Pérez Cruz, Viña Requingua, Viña San Esteban, Viña San José de Apalta, Viña San Pedro, Viña San Pedro Tarapacá, Viña Santa Rita, Viña Siegel, Viña Tres Palacios, Viña Valdivieso, Viña Ventisquero, Viñedos Marchigüe e Viñedos Veramonte.
Entre os tintos e brancos degustados, destacamos aqui quatro que traduzem com perfeição o bom momento vivido pela vinicultura chilena.
Pérez Cruz Gran Reserva Syrah 2016
Viña Pérez Cruz – Maipo Andes – Chile – Importadora Folks Wines – R$ 110 – Nota 91
A vinícola familiar começou a produzir os próprios vinhos em 2002, mas tinha vinhedos desde 1994, quando vendia as uvas a terceiros. Possui atualmente 250 hectares de vinhas no Alto Maipo, plantadas exclusivamente com variedades tintas. Seu enólogo é German Lyon, que tem influência francesa, como mostra neste tinto equilibrado, maduro, macio e ao mesmo tempo com grande frescor. O vinho (que no mercado chileno sai com o rótulo Limited Edition) estagia por 14 meses no carvalho francês novo e usado. Traz ao nariz frutas vermelhas, algo de cassis, especiarias e notas florais. Tem taninos resolvidos, acidez agradável e profundidade, mas sem nenhuma complicação (14%).
Marqués de Casa Concha Etiqueta Negra 2016
Concha y Toro – Maipo Alto – Chile – VCT – R$ 230 – Nota 92
Belo trabalho do enólogo Marcelo Papa para a gigante Concha y Toro. Traduz a riqueza do terroir de Peunte Alto, com uvas do vinhedo El Mariscal, plantado a 700 m de altitude, com solos de pedras e manchas de areia, em que há excelente drenagem. É o mesmo terroir dos ícones Almaviva e Don Melchor. O tinto mescla 60% de Cabernet Sauvignon de vinhas com 35 anos de idade, 32% de Cabernet Franc e 8% de Petit Verdot, com repouso de 16 meses em barricas de carvalho francês (metade novas). De perfil clássico, lembra nos aromas mentol, cereja, tabaco, especiarias e algo de grafite. Na boca é macio, equilibrado, muito elegante e bastante agradável (14%).
Montes Alpha Special Cuvée Chardonnay 2015
Viña Montes – Vale de Casablanca – Chile – Mistral – R$ 248 – Nota 92
A série Special Cuvée vem aprimorar a linha Montes Alpha, uma das estrelas da vinícola localizada no vale de Apalta e que tem como sócio o respeitado enólogo Aurelio Montes. Abriga dois tintos, um Pinot Noir e um ótimo Cabernet Sauvignon, e dois brancos, um Sauvignon Blanc e este magnífico Chardonnay. Produzido com uvas de Casablanca, de clima mais frio, é macio e consistente. Parte do lote (40%) amadurece por 12 meses em barricas de carvalho francês, para ganhar complexidade. Nos aromas aparecem notas de abacaxi e pêssego, bem como um amendoado interessante. Na boca é delicado no acabamento. mas apresenta bom volume. Madeira e fruta estão integradas e há frescor final. Um vinho branco delicioso que já está à venda na importadora (13,5%).
Enclave Cabernet Sauvignon 2011
Viña Ventisquero – Pirque, Maipo – Chile – Cantu – R$ 860 – Nota 94
Tinto opulento, o novo ícone de Viña Ventisquero chega enfim ao Brasil, depois de já fazer sucesso no Chile e em outros países. É mais um excepcional resultado da parceria do enólogo Felipe Tosso com o winemaker australiano John Duval. É vinho de corte, com 87% de Cabernet Sauvignon, temperada por 6% de Petit Verdot, 5% Carmenère e 3% de Cabernet Franc. A Cabernet Sauvignon vem de dois vinhedos especiais, um a quase mil metros de altitude, em San Juan de Pirque, e o outro a 750 m, na zona de El Principal de Pirque. Passou 18 meses em barricas de carvalho francês, metade de primeiro uso. Apresenta muita fruta, lembrando ameixa e cassis. Macio, equilibrado, destaca-se pela grande elegância. Nada aqui é agressivo ou contundente. Ao contrário, é redondo e fino, sem perder o frescor (13,8%).
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