Riesling, uma das grandes uvas brancas do mundo, tem longa tradição na Alemanha

Riesling, uma das grandes uvas brancas do mundo, tem longa tradição na Alemanha

Vinhos da Semana Riesling, na Vin D’Ame

Aromas intensos, acidez destacada, muita fruta, bom volume de boca e frescor. Estas características, quando bem trabalhadas, fazem da Riesling uma das grandes uvas brancas do mundo. A variedade aparece em diferentes países, mas sem dúvida sua maior expressão acontece na Alemanha (junto com a Alsácia francesa, do outro lado da fronteira). Entre os enófilos, é conhecida por uma particularidade – o aroma de derivados de petróleo, como querosene, ou de sílex, a chamada pedra de isqueiro.

Sem a mesma popularidade que Chardonnay e Sauvignon Blanc, a Riesling é uma uva que vale conhecer. Por aqui, a importadora que mais se dedica aos vinhos alemães feitos com a casta é a paulista Vin D’Ame, do casal Ana Cristina Lins e Michael Schütte, que em outubro realizou sua espetacular Semana Riesling, com apresentação de mais de 50 vinhos de primeira linha.

O consumidor brasileiro mais exigente andou desconfiado dos vinhos alemães, por causa daqueles vinhos brancos leves de garrafa azul, docinhos e algo enjoativos, que fizeram sucesso aqui há alguns anos. Esqueçam aquilo. Nada a ver com o vinho alemão tradicional, que tem muita qualidade.

A Alemanha produz brancos de alta gama com outras cepas, como Gewürztraminer, Silvaner e Pinot Blanc, mas a uva mais importante do país é sem dúvida a Riesling. Ela dá origem a vinhos secos, meio doces ou bem doces. Podem ser leves, para se beber logo, ou também complexos, com grande capacidade de envelhecimento, pela estrutura e acidez.

Internacionalmente, a variedade é conhecida como Riesling Renana, por ter-se desenvolvido historicamente nos vales ao longo do rio Reno. Não deve ser confundida com a chamada Riesling Itálica, de menor expressão, comum no Sul do Brasil.

 

Vinhedos nas encostas junto aos rios

Longa tradição

Na Alemanha, a Riesling tem uma longa trajetória. Há registros sobre ela desde o século XV. O mais antigo é de 1435, quando em Rüsselsheim, uma pequena cidade do Estado de Hessen, no centro-oeste do país, foi mencionada na propriedade de um nobre local a presença de uma uva chamada Rieslingen. O nome aparece depois em outros documentos da época em Rheinhessen e no Palatinado (Pfalz), até que em 1552 surgiu a denominação atual da variedade, Riesling.

Hoje, a casta é cultivada em praticamente todas as regiões alemãs, com um total de quase 23 mil hectares plantados, tendo no Mosel-Saar-Ruwer e no Rheingau (o Vale do Reno, de onde se diz ser originária), suas áreas mais expressivas. Outras zonas com vinhedos importantes de Riesling são o Palatinado, Rheinhessen e Württemberg.

É uma uva com cachos de coloração verde amarelada, de tamanho médio, compactos e delicados. Tem ciclo longo e amadurecimento lento. Normalmente se dá melhor nas zonas ao norte da Alemanha, onde amadurece perfeitamente em temperaturas moderadas, quando há dias secos e longos períodos de sol no verão. Já em regiões habitualmente quentes sua maturação se acelera e origina vinhos menos significativos.

A Riesling, compacta

A esse respeito, a grande especialista Jancis Robinson observa em seu “Guia de Castas” (Edições Cotovia – Lisboa – 2000), que do ponto de vista vitícola “a Riesling distingue-se pela rijeza de seu tronco, o que ajuda a fazer dela uma videira especialmente resistente ao frio”. Isso, continua ela, “a torna uma escolha possível para regiões vinícolas relativamente frias, ainda que precise de locais mais favorecidos, mais abrigados, para amadurecer plenamente e ser rentável economicamente”.

Esse é um ponto importante. Michael Schütte, da Vin D’Ame, ressalta que a Riesling depende muito da localização do vinhedo. Os melhores lugares de plantio são as encostas íngremes, com boa exposição ao sol e em que o solo rochoso ou as águas retêm e depois irradiam o calor para as plantas. Assim ela obtém as condições para amadurecer lenta e plenamente, mantendo a acidez.

Ao longo dos rios, os vinhedos formam belas paisagens. Uma peculiaridade: poucas uvas expressam tão bem o terroir como a Riesling. A Chardonnay, por exemplo, pode dar origem a vinhos bastante parecidos entre si. Já a Riesling traduz com perfeição as nuances de cada terreno em que é cultivada.

 

As vinhas formam belas paisagens

Os diferentes estilos

De modo geral, os vinhos feitos com Riesling são vinificados em tanques de inox, para preservar a fruta. Quando querem mais complexidade, muitos produtores utilizam tonéis de carvalho usado, que não deixam marcas da madeira e apenas permitem a micro-oxigenação. Na maior parte das vezes a gradação alcoólica é baixa, mas com extrato elevado e fineza.

Os aromas típicos trazem pêssego e maçã, toques florais e mel. Se a uva provém de solos de ardósia, o vinho poderá mostrar as notas de pedra de isqueiro. O amadurecimento e a idade ajudam a transmitir os aromas a querosene.

Quanto ao estilo, seguem o modelo tradicional alemão, que indica no rótulo os níveis de qualidade e o estágio de maturação das uvas. Os melhores são identificados com a sigla QmP, Qualitätswein mit Prädikat, ou seja, vinhos de qualidade com predicados. Podem ser secos, meio secos ou doces. A palavra Trocken quer dizer seco. Halbtrocken é meio seco. No caso dos doces, há exemplares feitos com colheita tardia e, nos melhores, com uvas atacadas pela chamada podridão nobre (Botrytis Cinerea). Há ainda o interessante Eiswein, o Vinho do Gelo, elaborado com uvas deixadas a congelar no pé.

A ordem crescente dos QmP começa com o Kabinett, seco ou doce. A seguir, Spätlese, de colheita tardia, que também pode ser doce ou seco. Auslese nomeia vinhos de colheita tardia, com seleção de cachos, que podem estar parcialmente botritizados. Em geral é um branco doce e untuoso, embora também possa ser produzido em estilo seco. Beerenauslese, igualmente de colheita tardia, apenas com grãos  botritizados. E Trockenbeerenauslese, elaborado a partir de uma rigorosa seleção de uvas totalmente botritizadas. É o mais doce e untuoso da lista.

Nos últimos anos, um grupo de produtores influentes, incomodado com a referência à maturação das uvas como indicador de qualidade, criou seu próprio sistema de classificação. A VDP, Verband Deutscher Prädikaswinegüter – Associação Alemã de Produtores de Vinhos de Qualidade – inspirou-se na Borgonha francesa para estabelecer quatro níveis de denominação: Regional (Gutswein), Village (Ortswein) e, os provenientes dos melhores vinhedos, como Premier Cru (Erste Lage) e Grand Cru (Grosse Lage). Há outras minúcias, que não cabe aqui comentar.

Seja qual for o estilo, os Riesling têm seu papel para acompanhar comida. Os secos vão bem com peixes, frutos do mar, carne de frango e porco preparada com molhos leves. Os meio secos (Halbtrocken) combinam com pratos da cozinha oriental, especialmente os agridoces. Já os grandes brancos doces podem ser escalados para sobremesas, a exemplo do Strudel de maçã, e queijos. Mas pela complexidade merecem mais serem apreciados sozinhos. Seu diferencial é a ótima acidez, que equilibra a doçura.

Destacamos alguns vinhos provados na Semana Riesling da Vin D’Ame, de diferentes estilos e faixas de preço, todos com ótimo nível. A propósito, a importadora trabalha também com vinhos de outros países, como França, Itália e Espanha, mas os rótulos da Alemanha são um dos pontos mais fortes do catálogo.

 

Riesling Baron K Kabinett 2013

Baron Knyphausen – Rheingau – Alemanha – Vin D’Ame – R$ 109 – Nota 90

História é o que não falta. A vinícola, criada originalmente em 1141 por monges do monastério Eberbach, foi comprada em 1818 pela família do barão Knyphausen, que sempre esteve ao serviço do rei da Prússia. Hoje ali se busca intervenção mínima, sem uso de agrotóxicos nos vinhedos e sem químicos na adega. No nariz, lembra petrolato, em meio a cítricos. Na boca é seco, com alguma sensação de doçura, balanceada pela boa acidez. Sutil, com agradável frescor final (10,5%)

 

Riesling RK Trocken 2014

Kesselstatt – Mosel – Alemanha – Vin D’Ame – R$ 139 – Nota 91

A vinícola Reichsgraf von Kesselstatt (Conde de Kesselstatt) começou a produzir vinhos em 1349. Hoje a casa possui 36 hectares, sendo 12 ha em cada um dos três vales da região do Mosel – Mosel, Saar e Ruwer. Seus vinhedos, plantados em encostas íngremes, são manejados sem agrotóxicos. Também não são utilizados químicos sintéticos na adega. O Riesling RK Trocken, da gama de entrada, é um vinho seco, como o nome indica. Traz ao nariz notas de pedra de isqueiro, cítricos, pêssego e leve defumado. Tem mais estrutura, acidez firme, boa concentração de fruta, equilíbrio e final refrescante (10%).

 

Riesling Trocken Gutswein 2015

Dr. Bürklin-Wolf – Palatinado – Alemanha – Vin D’Ame – R$ 179 – Nota 92

A vinícola Dr. Bürklin-Wolf tem grande reputação como produtora de vinhos secos feitos com Riesling. Sua história foi iniciada em 1597 pela família Wolf, na propriedade localizada em Wachenhein, no distrito de Mittelhaardt, no Palatinado, uma das mais celebradas da Alemanha. Em 1875 uma herdeira Wolf casa-se com o vereador local Dr. Albert Bürklin de Karlsruhe-Durlach, lançando as bases da empresa como é conhecida hoje. A proprietária atual, Bettina Bürklin-von Guradze, herdou a propriedade de seus pais em 1990 e desde então vem promovendo grande renovação, buscando produzir vinhos de qualidade em harmonia com a natureza. Implantou nos 85 hectares de vinhedos e na adega métodos orgânicos e biodinâmicos, recebendo a certificação oficial em 2005. Seu branco mostra nos aromas notas de petrolato, de maçã, pêssego e algo cítrico. Estruturado, macio, tem ótima acidez, é equilibrado e fino, com muita vivacidade. O rótulo, além de indicar que é seco (trocken), informa que é um VDP Guswein, ou seja, um vinho regional, que pode ser feito com uvas de toda a região (12,5%).

 

Riesling Erdener Treppchen Auslese 2010

S.A. Prüm – Mosel – Alemanha – Vin D’Ame – R$ 629 – Nota 94

A família Prüm possui vinhas no vale do Mosel desde 1156. Todas plantadas em encostas com grande grau de inclinação (de 50 até 80%), em solo de ardósia do período devoniano. O clima é fresco e a ótima exposição solar permite o lento e completo amadurecimento das uvas. Neste Riesling, o vinhedo é especial, considerado Premier Cru (VDP Erste Lage), no qual a maioria das videiras é muito antiga, ainda pré-filoxera. Seu vinho é classificado como Auslese, categoria que indica vinhos de colheita selecionada de uvas sobremaduras, que podem estar parcialmente botritizadas. Maturado em grandes toneis de madeira e com bela cor dourada, apresenta aromas de pêssego, cítricos, de mel e doce de laranja. Doce, balanceado pela excelente acidez, é amplo, redondo, persistente. Em resumo, delicioso (7%).

Vin D’Ame Importadora: São Paulo/SP – Tel.: (11) 2384-6946 ou (11) 2384-6952. Site: https://www.vindame.com.br.

 

 


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