Importadora se especializa em vinhos naturais de pequenos produtores de Chile e Argentina
No concorrido mercado de vinhos importados no Brasil, é importante oferecer produtos de qualidade e que, de alguma forma se destaquem da grande massa de tintos e brancos comerciais que inundam as prateleiras. É o que está fazendo a nova importadora paulista Wine Sommelier4U, comandada por Vanessa Vasconcelos e seu sócio Rudá Serra, especializada principalmente em vinhos naturais de pequenos produtores do Chile e da Argentina. O 4U do nome, claro, é uma brincadeira com a expressão inglesa “for you”.
O portfólio da empresa oferece preciosidades como os rótulos da minúscula vinícola Las Payas e da MTB, ambas argentinas, ou da chilena Villalobos Viñedos Silvestres. Distribuem alguns vinhos, digamos, convencionais, mas a maioria do catálogo é formada por vinhos orgânicos, naturebas, com pouca ou nenhuma intervenção, ou das chamadas vinícolas boutique.
Mais para frente, os sócios pretendem garimpar também tintos e brancos do Velho Mundo, com a mesma pegada. Para escolher um vinho, sem exceção, eles visitam o produtor, procuram conhecer todos os processos, da colheita à vinificação, e mantém contatos frequentes com proprietários e enólogos.
O que assusta muitas importadoras – por exemplo, espumantes sem degorgement (ou seja, com presença da massa de leveduras) ou tintos algo turvos, sem filtração – para a Wine Sommelier4U é um prato, ou copo, cheio – desde que seja um vinho de qualidade. No contato do consumidor com a importadora, só uma dificuldade: a empresa não vende diretamente para pessoa física. Mas seus produtos já estão presentes em diversos restaurantes. A propósito, os valores apresentados abaixo se referem aos preços sugeridos para a carta dos restaurantes onde são encontrados. Provamos vários rótulos e avaliamos aqui alguns deles.
Pie Grande Blend de Blancs 2017
Pie Grande – Mendoza – Argentina – Wine Sommelier4U – R$ 160 – Nota 91
Um branco intrigante, parte do novo projeto do jovem enólogo Sebastian Bisole, em busca de vinhos orgânicos e naturais, com alguma ousadia. Basta ver as uvas por ele empregadas, algumas não muito usuais, e o sistema de vinificação adotado. O Blend de Blancs é composto por 40% Chardonnay, 25% Sauvignon Blanc, 20% Torrontés (Sanjuanina, e não de Salta), 10% Criolla Chica e 5% Pedro Ximenez. No caso, Sauvignon Blanc, Criolla Chica e Pedro Ximenez foram cofermentadas (isto é, fermentadas juntas) em tanques de aço, onde permaneceram em contato com as peles durante 5 horas – provavelmente por isso o vinho apresente bela cor amarela. Depois da descuba, repousaram em ovo de concreto. Já Chardonnay e Torrontés foram vinificadas separadamente em barricas com mais de 4 anos de uso e por fim misturadas ao vinho que estava no ovo de concreto. Para a perfeita integração, a mescla ali permaneceu por mais 4 meses antes do engarrafamento. O resultado é um branco intenso, que traz ao nariz cítricos, damasco e gostosa nota mineral. Na boca é volumoso, bem seco, tenso, cortante mesmo, sempre com muito equilíbrio e boa presença. Dele, Sebastian Bisole produziu apenas 1.200 garrafas. Segundo ele, o nome Pie Grande faz referência às longas raízes das vinhas velhas de onde nascem seus vinhos, muitas com mais de 3 metros de cumprimento (13%).
Lomas del Valle Rosé 2017
Loma Larga – Vale de Casablanca – Chile – Wine Sommelier4U – R$ 110 – Nota 90
Pelo tamanho, a vinícola Loma Larga difere um pouco dos pequenos empreendimentos artesanais que predominam no portfólio da Wine Sommelier4U. A empresa foi criada em 1996 pela tradicional família Díaz nos 711 hectares do fundo (propriedade) Loma Larga, na região de Casablanca, um dos vales mais temperados do Chile, pois recebe as brisas frias do oceano Pacífico. Fica no sub-vale Lo Ovalle. Apesar da extensão de terras, a produção da Loma Larga não passa de 300 mil garrafas por ano, o que a torna uma vinícola de porte médio, com produtos muito bem cuidados. Note-se que apenas depois de vários anos de estudos e pesquisas de solo a família plantou os atuais 148 hectares de vinhedos da propriedade. E com uma particularidade. A região é conhecida por favorecer as uvas que se dão bem em climas frios, especialmente as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc. Em Loma Larga, ao contrário, há maior concentração de uvas tintas. Esta espécie de rebeldia é assumida pelos donos, que se orgulham do lema “la viña líder en tintos de clima frío en Chile”. Desde 2016 a equipe técnica da casa é comandada pela experiente enóloga Tamara Baeremaecker (ex-Concha y Toro, onde se destacou em projetos importantes, como Amelia, Terrunyo e Don Melchor). A vinícola oferece duas linhas, Loma Larga, mais complexa, e Lomas del Valle, série de entrada, de onde vem este rosé versátil e bastante gastronômico, elaborado 100% com Cabernet Franc. Aliás, foi preparado já no vinhedo para ser rosé. Buscou-se proteger os cachos, para evitar a sobrematuração, e as uvas foram colhidas mais cedo do que seria usual, para preservar a acidez. Na vinificação, o mosto permaneceu algumas horas em contato com as cascas, somente para dar a bonita coloração âmbar. O frescor da fruta aparece nos aromas, lembrando cereja e cassis. Seco, mostra leve sensação de doçura, que o torna fácil de beber, tudo balanceado pela boa acidez. Tem estrutura, sem ser pesado, e vai bem no nosso verão (13%).
MTB Mike Tango Bravo 2012
Costa Flores Organic Vineyard – Mendoza – Argentina – Wine Sommelier4U – R$ 170 – Nota 92
MTB é uma pequena vinícola criada por Mike Barrow, um americano que trabalhava com Informática e na década de 1990 se mudou para Mendoza, disposto a aprender e a produzir vinho. Logo comprou um vinhedo de 4 hectares em Perdriel, uma das melhores zonas de Luján de Cuyo e lançou-se à aventura, no final muito bem sucedida, dada a qualidade dos vinhos atuais. Adota métodos da agricultura sustentável em seu vinhedo orgânico, onde vive e trabalha uma família de bolivianos. Sempre antenado, em 2018 ele lançou o Openvino, a primeira criptomoeda do mundo respaldada por uma garrafa de vinho. Seu tinto equilibrado e delicioso é corte de 55% Malbec, 35% Petit Verdot e 10% Cabernet Sauvignon, as três uvas que cultiva. Mike e o enólogo Patricio Santos usam leveduras indígenas e pouquíssimo sulfito. Pequena parcela (20%) estagia por 12 meses em barricas de carvalho usadas. No mais, prevalece a fruta madura, suculenta, lembrando amora e jabuticaba, com notas de especiarias e um toquezinho de alcatrão. Tem corpo médio, taninos macios, boa acidez e final longo, ou seja, tudo o que um bom tinto deve oferecer. O contrarrótulo assusta um pouco, ao indicar 15% de álcool, mas na boca de modo algum se sente isso, pelo conjunto redondo e muito bem balanceado.
Las Payas Malllevado
Las Payas – Mendoza – Argentina – Wine Sommelier4U – R$ 380 – Nota 93
Santiago Salgado saiu do mundo do rádio e do teatro para o do vinho em 2004. Abalado pela crise de alguns anos antes, que afetou a economia argentina, resolveu mudar-se para San Rafael, ao sul de Mendoza, onde poderia instalar a família e criar melhor as filhas. Hoje feliz, barbudo, de bermuda, trabalha numa adega precária, cheia de bombonas de plástico. Mas que vinhos produz! São brancos (é o rei da Moscatel di Cardinale) e tintos de quantidades pequenas (no total, umas 8 mil garrafas) e altíssima qualidade. Sua minúscula Finca Las Payas, criada em 2005, é considerada a primeira vinícola totalmente artesanal de Mendoza. Só elabora vinhos naturais, com métodos e receitas digamos, exóticos. São tão espontâneos, que às vezes não dá para reproduzir o mesmo vinho de um ano para outro. Um bom exemplo é o tinto Malllevado (isso mesmo, com 3 “l”), corte de 55% Pinot Noir, da safra de 2015; 30% de Chardonnay, vinificado como vinho laranja, e 15% de Cabernet Franc, ambos de 2017. Vendo assim, parece uma receita normal. Não nas mãos de Santiago. Ele conta que tinha decidido usar suas barricas, todas velhas, apenas como móveis e decoração da casa. No final sobrou uma barrica de um triste Pinot Noir, que ele misturou com um alegre Cabernet Franc, elaborado por maceração carbônica (em que os grãos são colocados a vinificar inteiros). Não satisfeito com o resultado, no dia seguinte, provando outras de suas misturebas, encontrou o ingrediente que faltava – um Chardonnay fermentado com as cascas e sementes, como um vinho laranja. O rótulo, simpático e bem humorado, reflete o espírito do tinto. Não há indicação do ano, pois a mistura foi feita com vinhos de diferentes colheitas. Mas não se trata de uma brincadeira. É um vinho de pouca cor, delicado, com estrutura, delicioso. Nos aromas há lembrança de rosas, bem como de pitanga e doce de casca de laranja. Tem corpo médio, acidez firme, é macio e persistente. Dele saíram 1.220 garrafas que, claro, não serão mais repetidas. Santiago merece um brinde (14%).
Wine Sommelier4U – São Paulo/SP – (11) 94125-7570 – Instagran: @winesommelier4u.
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