Pró-Vinho reúne o setor e traz ações para estimular a cultura e o consumo de vinho no Brasil
Há décadas se diz que o consumo de vinhos no Brasil não passa de 2 litros anuais por pessoa, índice inexpressivo perto dos 50,5 l per capita registrados em Portugal ou dos 20 l na vizinha Argentina. Para tentar desenvolver nosso mercado e estimular a cultura do vinho no país, foi lançado ontem à noite em São Paulo o Pró-Vinho, entidade que reúne todos os segmentos do setor.
Pela primeira vez, produtores nacionais, importadoras, supermercados, restaurantes, associações de enófilos e comunicadores vão atuar em conjunto para levar ao consumidor brasileiro a mensagem de que o vinho é uma bebida saudável e vai bem com tudo.
O projeto foi idealizado há dois anos pelo especialista Márcio Marson, que já atuou em várias empresas da área. “A ideia surgiu da vivência do mercado, da percepção geral de que os diferentes segmentos do setor no Brasil não se entendem e não se comunicam”, diz ele. “O objetivo então é reunir todos os envolvidos no mundo vinícola, estudar ações conjuntas, ter um marketing e comunicação comuns e assim ampliar o consumo de vinho aqui”.
O desafio é grande. O brasileiro não toma vinho por muitas razões. Primeiro, porque não tem o hábito. Depois, como não tem a cultura, presente em países da Europa e mesmo do Novo Mundo, em que o vinho faz parte da alimentação, acha que a bebida é só para especialistas. No restaurante, tem medo de fazer feio se pedir um vinho que não combina com a comida desejada. Por último, e não menos importante, o vinho é muito caro em nosso país, especialmente pela carga de impostos cobrada pelo governo. No preço pago por uma garrafa de vinho importado, por exemplo, 65% são tributos.
Quem participa
Vencer este desafio é a tarefa a que se propõem as pessoas e entidades associadas ao Pró-Vinho. O movimento interprofissional conta com o apoio, e patrocínio, da ABBA, a Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Bebidas; Abras, a Associação Brasileira de Supermercados; Ibravin, o Instituto Brasileiro do Vinho, que reúne os produtores nacionais; e da Abrasel, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes. A divulgação é feita pela CH2A Comunicação, de Alessandra Casolato.
Integrantes destas entidades, além de representantes de importadoras, de vinícolas, especialistas, consultores e jornalistas, vão se reunir uma vez por mês para desenvolver estratégias e campanhas de marketing coletivas para atrair novos consumidores. As iniciativas serão apresentadas no site do movimento, que também entrou no ar ontem – www.provinho.org.br.
Ideias na mesa
Marson aponta algumas ideias já pensadas para aproximar as pessoas do vinho. Uma delas, potencializar as ações ligadas ao Dia do Vinho, incorporado inicialmente ao calendário das vinícolas gaúchas e que pode ser levado agora a todo o setor. O próximo acontecerá entre 17 de maio e 02 de junho.
Outra tarefa é desmistificar o mundo do vinho, mostrando que a bebida não precisa ser cercada de mistérios e de rituais para iniciados. Tudo vai bem com vinho, é o lema. Nesse sentido, deve-se valorizar as diversas maneiras de se tomar vinho, incluindo as populares sangrias ou a moda de colocar gelo no copo nos dias de calor explosivo, como os que estamos enfrentando.
Os participantes do movimento acham que, embora o consumo atual seja inexpressivo, o potencial de crescimento é grande. No mundo, o maior mercado é o dos Estados Unidos, que consomem 3,2 bilhões de litros por ano. O Brasil é o 17° do ranking. O país comercializa 338 milhões de litros de vinho e derivados por ano – mas somente 10% desse total se referem a vinhos finos, isto é, feitos com uvas viníferas.
Nosso mercado tem por onde crescer. Apesar do clima tropical, os tintos representam 83% do total consumido, contra 14% de brancos e 3% de rosé. Os jovens, que no mundo todo são alvo importante do setor, por aqui ainda não abraçam o vinho – representam 20% da população, mas nesse universo apenas 16% tomam vinho com alguma regularidade. É um público a ser alcançado.
Otimismo
No lançamento do Pró-Vinho, os participantes mostraram otimismo. Adílson Carvalhal Júnior, sócio-diretor da importadora Casa Flora e presidente do conselho da ABBA, disse que já viu muitas iniciativas semelhantes não saírem do lugar, por falta de foco, e que desta vez sente uma energia diferente. “Se a gente continuar remando cada um para um lado, ou um contra o outro, não vamos chegar a lugar nenhum”, afirmou. “Mas temos agora a grande chance de o setor dar um salto”.
Marcio Milan, superintendente da Abras, destacou que o projeto pode aproveitar a força dos supermercados, hoje o segmento que mais vende vinho no Brasil. Segundo ele, há 89 mil lojas desse tipo no país, por onde circulam 27 milhões de pessoas todos os dias. “O vinho ganha cada vez mais espaço nos supermercados e é preciso aproveitar todo esse potencial para estimular o consumo”, ressaltou.
Argumento semelhante foi apontado por Percival Maricato, diretor jurídico da Abrasel. Ele lembrou que no Brasil há perto de 1,2 milhão de bares e restaurantes e que somente uns 10% desse total sabem trabalhar o vinho. Portanto, o potencial de crescimento é grande e, com uma comunicação conjunta, os donos de restaurante terão ferramentas para explicar melhor o produto para os clientes. Para Maricato, muitos empresários aplicam margens de lucro abusivas sobre o vinho e é preciso mostrar a eles que, se as cartas tiverem preços mais acessíveis, as vendas e o consumo poderão ser muito maiores.
Talvez o testemunho mais franco tenha sido o do presidente do Ibravin, Oscar Ló. “Muitas vezes o produtor nacional viu, e em muitos casos ainda vê, o vinho importado como inimigo”, reconheceu. “Agora, não. Temos um objetivo comum, que é de divulgar a cultura do vinho e aumentar o consumo, o que será bom para todos”. Segundo Ló, com a ampliação do mercado “há espaço para o vinho nacional e para o importado”. Como se percebe, o setor está animado e disposto a trabalhar em conjunto. O vinho agradece.
Pró-Vinho: www.provinho.org.br.
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