Viña Montes apresenta a nova linha Montes Special Cuvée, que tem ótimos vinhos
Aurelio Montes pai, enólogo de primeira e um dos grandes nomes do vinho no Chile, não para. Aos 70 anos, mesmo depois de passar para o filho Aurelio Montes Jr. o comando da Viña Montes, continua em plena atividade. Dias atrás esteve na ProWein, a grande feira da Alemanha, para divulgar seus vinhos. De lá veio ao Brasil, para eventos em conjunto com a importadora Mistral, de Ciro Lilla, e em seguida foi para os Estados Unidos.
Na visita a São Paulo, na semana passada, Aurelio apresentou oficialmente aos jornalistas especializados a série Montes Special Cuvée, edição de tintos e brancos diferenciados, que ocupa a faixa entre a conhecida série Montes Alpha e os rótulos premium da casa. Os três vinhos provados, Montes Special Cuvée Chardonnay 2015, Pinot Noir 2016 e Cabernet Sauvignon 2015, são bem feitos e consistentes. Na ocasião, Ciro Lilla destacou que a Mistral comemora 25 anos de parceria com a vinícola chilena.
Sempre pioneiro
Aurelio Montes sempre foi irrequieto. Logo após se formar na Universidad Católica de Chile começou a trabalhar na tradicional Viña Undurraga, onde ficou por 12 anos, como enólogo. Na época, a vinicultura chilena perdia espaço no mercado interno e a saída foi voltar-se para o exterior. Disposto a ocupar este nicho com vinhos de qualidade, Aurelio fundou Viña Montes em 1988, com o sócio Douglas Murray na parte comercial e mais dois amigos.
De saída, a nova vinícola apresentou ao mercado um vinho premium, o Montes Alfa Cabernet Sauvignon, um dos primeiros do país nesta categoria e um reconhecido sucesso de vendas. E não ficou nisso. O site da empresa fala em “loucuras de Aurelio”. Na verdade, são demonstrações de que ele sempre teve muita visão e foi pioneiro em diversos momentos, principalmente em busca de novas fronteiras para a vinicultura do país.
A Viña Montes, por exemplo, foi a primeira a instalar-se no vale de Apalta, em Colchagua, 150 km ao sul de Santiago, cujo potencial Aurelio havia percebido anteriormente, ao passar por lá pilotando seu próprio avião. Hoje Apalta é uma das sensações da vinicultura chilena. Pela inspiração de seu fundador, Viña Montes foi a primeira a plantar uvas nas ladeiras dos cerros, a 45°, conseguindo melhor exposição solar e temperaturas mais favoráveis à lenta e completa maturação dos cachos.
A vinícola também foi pioneira em Marchigüe, outro sub-vale de Colchagua, de clima mais frio do que Apalta, pois fica perto do mar e sofre a influência das brisas frias do Pacífico. Mais tarde, inovou outra vez ao implantar vinhedos na região de Zapallar, ao norte da capital, também próxima do oceano, área nova em Aconcagua Costa, desafiando os limites até então exibidos pela vinicultura chilena.
Vinha em Chiloé
A última loucura de Aurelio, de que ele fala com grande entusiasmo, é o plantio de uvas em Chiloé, conjunto de ilhas no extremo sul do Chile, 1.200 km abaixo de Santiago. “Pensa-se que, por ficar tão ao sul o clima de Chiloé seja extremamente frio. Na verdade, lá a temperatura média é até um pouco mais alta do que em outras zonas”, diz ele. Isso porque o arquipélago se situa em uma área geograficamente protegida do frio do Pacífico, trazido pela corrente de Humboldt.
Aurelio descobriu o potencial de Chiloé em 2017, ao passear com a família pela região, em seu barco a vela – sim, além de piloto de avião, ele também navega pelos mares. Escolheu plantar uma vinha experimental na ilha Mechuque, uma das 30 que compõem o arquipélago. Lá, no verão, a temperatura máxima costuma ficar ao redor dos 23° C e as mínimas, em torno de 10° C. O solo, avermelhado, é de origem vulcânica suave.
Viña Montes tem 15 hectares plantados em Mechuque com Sauvignon Blanc, Riesling, Chardonnay, Pinot Gris, Pinot Noir e Gewüztraminer, uvas de clima frio. Insumos, só naturais – para equilibrar os componentes do solo, por exemplo, a terra sob as fileiras é coberta com cacos de conchas brancas e negras, abundantes na ilha.
O trabalho no arquipélago é difícil, pois tudo o que chega ali, equipamentos e outros materiais, precisa ser levado de barco. “Mas acho que vamos produzir bons vinhos em Chiloé”, acredita Aurélio. Segundo ele, as primeiras uvas devem ser colhidas no ano que vem e os vinhos, lançados por volta de 2022. Com certeza, serão diferentes, vindos deste terroir único.
Assim é a rotina de Aurélio pai. Com a morte, há alguns anos, do amigo e sócio Douglas Murray, ele acompanha tudo o que acontece nos diferentes setores da empresa – para ganhar tempo, agora vai de um lugar a outro de helicóptero, que há alguns anos também aprendeu a pilotar. Além dos projetos no Chile, segue de perto as atividades da Kaiken, a vinícola que a Montes tem em Mendoza, na Argentina, antes chefiada diretamente pelo filho Aurelio Jr.
A linha Special Cuvée
A produção da Viña Montes estava dividida em quatro faixas de vinhos. De entrada, a série Classic (tintos e brancos Reserva). A seguir, a linha Montes Alpha, sempre um dos pontos fortes da casa. Nos últimos anos apareceu a edição Outer Limits, oferecendo produtos fora dos limites habituais da agricultura chilena, de zonas onde antes não havia cultivo de uva, a exemplo de Zapallar. No topo, os rótulos super premium Folly (Syrah), Purple Angel (Carmenère), Montes Alpha “M” e, mais recentemente, o icônico Taita.
Segundo Aurelio Montes, comercialmente sentia-se uma lacuna entre a gama média e os rótulos mais qualificados da vinícola. Daí a ideia da linha Special Cuvée, um aperfeiçoamento da edição Montes Alpha, dentro do conceito de single vineyard. Abriga dois brancos, de Sauvignon Blanc e Chardonnay, e dois tintos, a partir de Pinot Noir e Cabernet Sauvignon, idealizados como uma seleção de uvas e grandes cuidados na vinificação.
Montes Alpha Special Cuvée Chardonnay 2015
Viña Montes – Vale de Zapallar – Chile – Mistral – R$ 241,50 – Nota 92
Branco encorpado, untuoso, quase mastigável, produzido com uvas de Zapallar, em Aconcagua Costa, a 7 km do Pacífico, onde há solos arenosos e franco-argilosos. As brisas frias do mar criam condições para a lenta e plena maturação da Chardonnay. Parte do lote (40%) amadurece por 12 meses em barricas de carvalho francês, para ganhar complexidade. Nos aromas aparecem notas de abacaxi e pêssego, bem como um amendoado interessante. Seco, gordo, amplo, amanteigado, volumoso, um clássico. Madeira e fruta estão integradas, a acidez é agradável e há frescor final. Um vinho delicioso (13,5%).
Montes Alpha Special Cuvée Pinot Noir 2016
Viña Montes – Vale de Zapallar – Chile – Mistral – R$ 261,80 – Nota 92
Outra prova de que Zapallar, em Aconcagua Costa, oferece excelentes condições para o desenvolvimento de variedades que apreciam climas frios, como a Pinot Noir. Um tinto com tipicidade de aromas, estrutura e equilíbrio. Cerca de 35% do lote amadureceram em barricas de carvalho por 12 meses e a mescla final apresenta integração entre fruta e a madeira discreta. No nariz há morango, cereja, especiarias, algumas notas florais e de especiarias. Com um tempo de copo, toques de chocolate. Na boca, nada de excessos. Corpo médio, acidez vibrante, persistência final. Um tinto fino e elegante, bom para acompanhar comida (14%).
Montes Alpha Special Cuvée Cabernet Sauvignon 2015
Viña Montes – Vale de Colchagua – Chile – Mistral – R$ 241,50 – Nota 91
Tinto de um ano quente, mas que ao final alcançou equilíbrio, sem grande estresse. As uvas vêm de Marchigüe, zona mais fria que o restante de Colchagua. A Cabernet Sauvignon predomina no corte, com 85%, temperada por 10% de Syrah e 5% de Carmenère. Do total, 65% tiveram estágio de 16 meses em barricas de carvalho novas e usadas. Mostra fruta limpa, fresca, que lembra cassis e cereja, em meio a notas de pimenta e tabaco. Um vinho potente, estruturado, com boa acidez, muito nervo e taninos maduros (14,5%).
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