Encontro Mistral 2019 mostra ícones que são o diferencial da importadora

Encontro Mistral 2019 mostra ícones que são o diferencial da importadora

Os visitantes tinham 500 vinhos para escolher

A importadora Mistral, de Ciro Lilla, realizou esta semana em São Paulo e no Rio de Janeiro seu grandioso Encontro Mistral 2019, que reuniu 65 produtores diferentes, vindos de 14 países. Nos três dias, cerca de 2.500 visitantes puderam escolher 500 vinhos de grande qualidade. Os rótulos colocados em prova são apenas parte do catálogo, confirmando que a Mistral é o Norte na distribuição de importados no Brasil. Um diferencial: ninguém concentra tantos ícones de tantos países como a empresa da família Lilla.

O evento foi organizado em um momento em que a economia brasileira está à espera de novas decisões. “Havia grande expectativa de retomada do crescimento, mas isto ainda não aconteceu”, diz Ciro. “Mesmo assim, continuamos investindo, apostando que o país vai se recuperar”. Segundo ele, este ano foi bastante atípico. Janeiro e fevereiro foram muito quentes, o que não estilmula o consumo de vinho. Depois veio o longo período do carnaval. Só a partir de abril as coisas começaram a entrar nos eixos.

O Encontro Mistral é, antes de tudo, um investimento para reforçar os laços entre produtores e o consumidor. “Os produtores adoram”, destaca Ciro. Eles participam de feiras e têm contato com consumidores no mundo inteiro e se surpreendem com o nível dos visitantes aqui, sejam jornalistas, clientes, profissionais do setor, donos de restaurante, pelas perguntas, pelo interesse e educação que demonstram.

Os estrangeiros dizem que em nenhum lugar do mundo encontram um evento tão bem organizado como aqui, com tanta gente interessada em aprender mais sobre os vinhos. A organização é realmente impecável. Os tintos e brancos são servidos na temperatura correta e em taças Riedel, o que há de melhor no mercado.

Ciro também destaca o desenvolvimento do consumidor nacional: “Antes, as pessoas chegavam às mesas e só queriam provar o vinho mais caro. Bebiam muito, por beber. Agora não. Respeitam o produtor, pedem para conhecer todos os vinhos, fazem perguntas e mostram que estão em estágio superior”.

Os Encontros são realizados a cada dois anos, organizados sempre pela equipe interna da Mistral e não por terceiros. A primeira edição aconteceu em 2003. A última estava prevista para o ano passado, mas a família decidiu adiá-la para este ano, por causa das incertezas daquela época, como a intervenção militar no Rio de Janeiro. Foi a melhor coisa.

 

Regras claras

A figura de Ciro Lilla está tão identificada com a Mistral que muita gente pensa que ele fundou a importadora. Na verdade, a empresa foi criada em 1974 pelo francês Gerard Weill e distribuía alguns poucos e selecionados rótulos da França. Na época, o industrial Lilla, apaixonado por vinhos desde os 25 anos e um dos fundadores da unidade paulista da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP), era um de seus melhores clientes.

O espanhol Cerdà, do Ànima Negra

Mais tarde, Weill vendeu a casa para o publicitário Geraldo Alonso, então dono da agência Norton. Quando Alonso morreu, os filhos não se interessaram mais pela empresa e pretendiam fechá-la. Um amigo de Ciro, o também empresário e enófilo Antonio Lapa Silveira, propôs em 1992 comprarem a Mistral em sociedade. “Para me convencer, ele dizia que teríamos o mínimo de trabalho e o máximo de prazer com os vinhos”, recorda ele, bem humorado. Os estoques estavam vazios, começaram do zero. Ciro logo se deu conta de que ou a importadora crescia, ou seria sufocada pelo mercado. Com a desistência de Lapa, seguiu em frente sozinho.

Aos poucos, conquistou novas marcas e ampliou o catálogo, com rótulos dos principais países produtores. Implantou regras claras de relacionamento com as vinícolas: “Nunca prometemos vender mais do que temos condições e nunca atrasamos um pagamento”, ressaltou Ciro mais de uma vez. Isso reforçou a imagem da Mistral junto aos fornecedores estrangeiros.

Hoje a casa tem no portfólio 3.500 rótulos, de uns 300 produtores diferentes. Junto com os 800 vinhos da Vinci, o outro braço do grupo, a família Lilla comanda certamente uma das maiores importadoras do setor no mundo. Para não inchar demais o catálogo, vive dizendo não a novos interessados em firmar parcerias.

Na condução das duas empresas e de uma indústria de máquinas para café herdada do pai, Ciro, que completa 71 anos agora em junho, conta com a ajuda dos três filhos, Otávio, Marcelo e Roberto. É uma tarefa hercúlea administrar os interesses de tantas vinícolas.

As dificuldades enfrentadas pela economia brasileira são outro desafio. “O dólar a 4 reais não ajuda, quando se trabalha com importados”, observa Otávio, o filho mais velho e braço direito de Ciro. Ainda assim, para Otávio é hora de seguir em frente: “Este ano não aconteceu o milagre que se esperava, mas tem havido melhoras discretas”.

 

Ícones, o diferencial

Os vinhos de Luis Pato

A Mistral tem prestígio no exterior pela imagem de seriedade do dono, pelo portfólio, por pagar em dia, por cumprir os compromissos. Por tudo isso, seu catálogo tem outro diferencial: a concentração de vinhos ícones das grandes regiões produtoras.

Exemplos não faltam. Da Itália, a Mistral traz estrelas como Gaja, Tasca d’Almerita e Mastroberardino. Da Espanha, nada menos que Vega-Sicilia, Dominio de Pingus, Alvaro Palacios, Pesquera e Clos Mogador. Da França vêm os rótulos de Joseph Drouhin, Chapoutier, Faiveley e Domaine Comte Georgers de Vogüé. Entre os nomes mais conhecidos de Portugal há Luis Pato, Quinta do Vale Meão, Álvaro Castro, Niepoort, Symington – estão todos na Mistral.

A mesma coisa acontece no Novo Mundo. Na Argentina, a parceria da família Lilla é com Nicolás Catena. No Chile, com a Viña Montes, de Aurelio Montes, e Lapostolle. Da Austrália a Mistral distribui os rótulos da renomada Penfolds; e da Califórnia, nos EUA, os vinhos de Paul Hobbs e da Stag’s Leap.

 

Os vinhos

Muitos desses vinhos soberbos podiam ser provados no Encontro Mistral 2019, além de muitos outros, igualmente de grande qualidade. Selecionamos aqui alguns deles, para representar o estilo das vinícolas em que são produzidos e a confiabilidade do portfólio da importadora.

 

Luis Pato Baga/Touriga 2015

Luis Pato – Bairrada – Portugal – Mistral R$ 115,70 – Nota 90

Luis Pato, engenheiro químico de formação, revolucionou a Bairrada ao aprender a dominar a Baga, a emblemática uva da região, que dava tintos rústicos, carregados de acidez e taninos. Com manejos rigorosos na vinha e cuidados na vinificação, Pato passou a apresentar vinhos equilibrados e muito elegantes. O Baga + Touriga é da linha de entrada da casa, feito para ressaltar o frescor e os aromas primários da principal casta bairradina. Lote de 60% Baga e 40% Touriga Nacional, estagia em barricas usadas de carvalho francês e americano. Traz ao nariz notas florais e de chocolate, em base de cereja. Na boca é frutado, seco, estruturado, tem acidez firme e gostoso frescor, tudo sem excessos (12%).

 

LH Zanini 2013

Vallontano – Bento Gonçalves, RS – Brasil – Mistral – R$ 127,90 – Nota 91

Luís Henrique Zanini, poeta e um dos enólogos mais festejados da Serra Gaúcha, administra a pequena Vallontano com a mulher, Ana Paula Valduga. A vinícola surgiu em 1999 e tem vinhedos na área dos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves. A proposta é produzir vinhos com intervenção mínima e que expressem bem o local onde nascem. A família entrega 60 mil garrafas de vinhos finos e espumantes por ano. Antes de montar sua própria empresa, Zanini trabalhou no Domaine de Montille, na Borgonha, um dos símbolos da vinicultura francesa voltada para o respeito ao terroir. Seu novo tinto, o LH Zanini, é um corte especial de 30% Tannat, 30% Teroldego, 30% Ancellota, 5% Alicante Bouschet e 5% Tempranillo. As uvas são primeiro passificadas em caixas de madeira por 30 a 45 dias, depois vinificadas separadamente, de forma tradicional. Ao ficar pronto, o vinho repousou por 24 meses em barricas novas e usadas de carvalho. Artesanal, há nos aromas notas florais, terrosas e balsâmicas, e fruta, a ameixa. Oferece bom corpo, equilíbrio, taninos maduros, macios, em um conjunto elegante e fino. Um dos bons tintos nacionais da nova geração (13,5 %).

 

Muac 2014

Anima Negra/Terra de Falanis – Ilha de Mallorca – Espanha – Mistral – R$ 153,50 – Nota 91

O simpático Miguel Angel Cerdà e seu sócio Pere Obrador ganharam fama com os cult wines Ànima Negra, produzidos com uvas nativas de velhos vinhedos de Felanitx, na Ilha de Mallorca. Por exemplo, redescobriram a incrível Callet. Iniciaram depois o projeto Terra de Falanis, para elaborar vinhos jovens e fáceis em diferentes microclimas mediterrâneos na própria ilha e também no território continental, em Montsant e no Priorato. O Muac é desta leva. Corte de Callet, Manto Negre e Cabernet Sauvignon, teve parte amadurecida em carvalho. Lembra ao nariz cereja, ameixa e especiarias. A cor pálida pode sugerir um vinho leve, mas tem boa estrutura, em corpo médio. É delicado, envolvente, com boa acidez e persistência. A propósito, segundo Cerdà “Muac” é o barulho de um beijo no rosto de uma pessoa (%)

 

Rasteau 2015

Chapoutier – Vale do Rhône – França – Mistral – R$ 218,80 – Nota 91

Michel Chapoutier, adepto radical da viticultura biodinâmica, promoveu profundas mudanças na centenária vinícola da família e tornou-se uma referência quando se fala em vinhos do Rhône. Seus tintos e brancos expressam com perfeição o terroir das denominações Hermitage, Crozes-Hermitage, Côte-Rotie, Saint-Joseph, Cornas, Gigondas e Châteauneuf-du-Pape. Tem presença também na pequena Rasteau, no sul do Rhône, reconhecida como AOC apenas em 2010. Até então, os produtores locais vendiam seus vinhos sob a bandeira Côtes-du-Rhône Village. A oficialização foi um reconhecimento da qualidade dos vinhos produzidos nesta área, que fica próxima a Châteauneuf-du-Pape. O tinto da Chapoutier, é 100% Grenache, de vinhedos localizados ao norte das Côtes de Ventoux, na margem esquerda do Rhône. Parcialmente afinado em barricas de carvalho por 14 meses, apresenta muita fruta. Nos aromas há licor de cassis. Em corpo médio, mostra boa acidez e frescor. Um belo vinho, de uma região não muito conhecida (14,5%).

 

Monte Meão Vinha dos Novos Touriga Nacional 2014

Quinta do Vale Meão – Douro – Portugal – Mistral – R$ 523,60 – Nota 92

Situada em Vila Nova de Foz Côa, no Douro Superior, perto da fronteira com a Espanha, a Quinta do Vale Meão é uma propriedade histórica. Foi a única inteiramente implantada por Dª. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha (1811-1896), uma das personalidades mais relevantes do setor vinícola em Portugal. Ela comprou as terras em hasta pública, em 1877, quando não havia estradas regulares na região. A sede ocupa o Monte Meão, que é praticamente abraçado pelo rio, pois ali o Douro faz uma volta de quase 360º antes de seguir seu curso em direção ao Oceano Atlântico. O morro fica no centro desse grande meandro, daí o nome de Meão. Pertence hoje à família de Francisco Javier de Olazabal, trineto de Dª. Antónia. Olazabal, o Vito, casado com Maria Luiza, filha de Fernando Nicolau de Almeida, o criador do lendário Barca Velha, era um dos herdeiros da Quinta do Vale Meão. Durante muitos anos vendeu à casa Ferreira, de que foi presidente, as uvas da propriedade, que entravam no lote do famoso tinto. Nos anos 1990 ele começou a comprar a parte dos parentes e em 1994 passou a ser o único dono da quinta, que tem 270 hectares, dos quais 65 ocupados com vinhedos. Em 1998, resolveu fazer o próprio vinho, com ajuda do filho e enólogo Francisco de Olazabal, o Xito. Lançaram o tinto premium Quinta do Vale Meão no ano seguinte e, algum tempo depois, um tinto básico, o Meandro. A nova linha Monte Meão está posicionada entre o top e o vinho de entrada. É composta pelos tintos varietais Baga, Tinta Roriz e por este Touriga Nacional. Aqui as uvas provém da Vinha dos Novos, que tem 25 anos de idade e solo granítico. Com estágio de 18 meses em carvalho usado, mostra nos aromas notas florais, a violeta, algo cítrico, e cereja bem madura. Untuoso, tem bom corpo, taninos macios, muito equilíbrio na acidez e fina elegância. Delicioso (14%).

 

Joseph Drouhin Côte de Beaune 2015

Joseph Drouhin – Borgonha – França – Mistral – R$ 509,40 – Nota 92

A maison Joseph Drouhin, fundada em 1880 em Beaune, é uma das vinícolas de maior prestígio na Borgonha. É administrada atualmente pela quarta geração da família Drouhin, com participação já da quinta, uma verdadeira paixão que passa de pai para filhos. A empresa, que se dedica ao comércio e produção de tintos e brancos, possui 77 hectares de vinhedos na Borgonha, 60% dos quais classificados como Grand cru e Premier cru, a elite das terras da região. Desde 1988 o cultivo é feito de maneira inteiramente biológica e biodinâmica. Suas caves são consideradas patrimônio histórico da França, pois abrigam as antigas adegas dos Cardeais de Beaune (do século XIII), dos Duques da Borgonha (século XIV) e dos Reis da França na cidade (século XVI). Controlando também vinhas de agricultores parceiros, a família está presente em toda a região: a Drouhin oferece tintos e brancos de nada menos que 90 das 100 AOCs da Borgonha. Um deles é este tinto vindo das Côtes de Beaune, de um vinhedo único, de 2 hectares. Maturado por 12 meses em carvalho, é macio e bem feito, a Pinot Noir em grande expressão. Lembra ao nariz pitanga, frutas de bosque e especiarias. Bem estruturado, macio, tem acidez gostosa, desce suavemente e deixa na boca sensação de frescor. Bom para beber já, com uma longa vida pela frente (13%).


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