Feira Naturebas 2019, um sucesso que cresce de ano para ano
O fenômeno se repetiu mais uma vez. Como acontece há sete anos, uma legião de consumidores, boa parte jovens, participou neste fim de semana da Feira Naturebas, organizada em São Paulo pelo casal Lis Cereja e Ramatis Russo. Mais que moda, a procura pelos vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais se consolida como um movimento que veio para ficar.
Quando começou, em 2013, o evento teve 17 expositores e 100 visitantes, na própria Enoteca Saint Vin Saint, de Lis e Ramatis. Este ano, dividido em dois dias, foram mais de 100 produtores de vinhos naturais e de alimentos orgânicos e 2 mil visitantes, que literalmente lotaram o espaço da Casa das Caldeiras, na Zona Oeste da cidade. A Feira Naturebas, maior e até agora única mostra do tipo no país, já é uma referência sobre o tema na América Latina.
Os participantes puderam provar vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais, e conversar com donos ou enólogos, de vinícolas da Argentina, Chile, Itália, França, Portugal, Alemanha, Espanha, Uruguai e de países menos conhecidos aqui, como Eslovênia, México e Peru. Sem contar os brasileiros, que compareceram em peso – nada menos que 24 produtores, um dos destaques da edição.
Pela primeira vez, a feira também fez uma homenagem a um pioneiro na divulgação dos vinhos naturais no Brasil. O escolhido, com muita justiça, foi Jacques Trefois, belga radicado há décadas no país, onde já foi sócio de importadora e desenvolveu importante trabalho de esclarecimento sobre o universo dos brancos e tintos orgânicos e biodinâmicos.
Os vinhos naturais
O mercado, especialmente o jovem, mostra sempre mais disposição de conhecer e consumir vinhos sustentáveis. Como já dissemos outras vezes em Brasil Vinhos, o fato de ser orgânico ou biodinâmico não é garantia de qualidade. Mas há muita gente séria entrando nesse caminho e, principalmente, um grande entusiasmo por esta verdadeira volta à natureza.
Antes de mais nada, um pouco de definição. Pode-se dizer que todo vinho é natural, pois nada mais é que a bebida obtida pela fermentação do suco da uva. Mas para efeitos práticos, vamos ficar com a distinção didática entre os vinhos ditos convencionais (em que se usam produtos químicos sintéticos autorizados por lei) e os naturebas, classificados em orgânicos, biodinâmicos e naturais.
Este segundo grupo reúne vinhateiros que não utilizam produtos químicos sintéticos em suas vinhas ou na adega, com um mínimo ou nenhuma intervenção, e por isso costumam ser incluídos no mundo dos vinhos naturais. Mas há distinções entre eles.
A viicultura orgânica proíbe o uso de produtos industriais sintéticos, como fertilizantes e agrotóxicos, para cuidar da vinha. Só emprega materiais orgânicos, seja para combater pragas, seja para adubar a terra. Ela busca o equilíbrio entre os vinhedos e o meio ambiente, de modo a alcançar projetos economicamente sustentáveis.
O uso de produtos químicos é aceito, desde que com parcimônia e bom senso. É permitido, por exemplo, o uso moderado de enxofre e da chamada “calda bordalesa” (sulfato de cobre, cal e água) para combater doenças graves da vinha. Na cantina, as restrições são menores. Na Europa, esses produtos são chamados também de Biológicos – ou simplesmente “Bio”.
Já a biodinâmica é mais radical. Parte do cultivo orgânico, mas amplia as restrições e se aplica tanto às uvas, quanto à vinificação. Seus princípios foram definidos a partir das propostas feitas em 1924 pelo filósofo austro-húngaro Rudolf Steiner (1861-1925), para quem o campo é um ser vivo que tem um equilíbrio natural e que é preciso manter.
Na biodinâmica, cada fazenda ou propriedade rural é uma individualidade integrada; são adotadas práticas naturais de conservação de solo; é vedado o uso de fertilizantes ou agrotóxicos químicos; a vitalidade do ambiente e das plantas é conseguida com a aplicação de preparados biodinâmicos homeopáticos à base de estrume de animais e ervas.
A determinação dos momentos mais adequados para os trabalhos agrícolas, como plantio, poda e colheita, é feita pela observação das fases da lua e das estações do ano. Na cantina busca-se uma intervenção mínima na vinificação. Só não é vetado o uso moderado de sulfitos para proteger o vinho da oxidação.
No chamado vinho natural nem isso é adotado. O conceito de vinho natural é aplicado mais ao processo de elaboração na adega do que às práticas agrícolas. Os produtores usam apenas leveduras presentes na casca da uva, são totalmente contra sulfitos e não fazem intervenções para corrigir eventuais deficiências na fermentação.
Por fim, hoje se fala até em vinhos veganos, procurados por aquelas pessoas que eliminaram de sua vida alimentos com alguma coisa de origem animal. Mesmo nos vinhos naturais há ingredientes com esta procedência. Por exemplo, a clara de ovo, muito usada no passado para clarificar os vinhos. No caso da biodinâmica isto é ainda mais evidente, pois os animais fazem parte do microcosmos da propriedade vitícola. Além disso, o estrume, ossos e chifres são utilizados como nutrientes e outros preparos. Para um vinho ser considerado vegano, tem de passar longe de tudo isso.
Vinícolas presentes
Uma coisa interessante: quase todas as importadoras que distribuem vinhos naturais no país participaram da feira. Entre elas, Vin D’Ame, Zahil, De la Croix, Cave Léman, Enoteca Saint Vin Saint, Dominio Cassis, La Charbonade, La Vinheria, Sommelier 4U, Wine Lovers, Weinkeller, Wines 4U, Europa e Taste-Vin. Cada uma delas tinha que trazer pelo menos um produtor dos vinhos oferecidos.
Como referência, para o consumidor ver o que existe atualmente nessa área, apresentamos aqui a lista de todas as vinícolas presentes na Feira Naturebas 2019 (e seus respectivos representantes), com destaque para Brasil, Chile e Argentina, pelo número de participantes. Do Chile vieram 19 produtores, de diferentes vales – Vinos del Año (Alejandro Jofre), de Curicó; Viña Maitia (David Marcel), do Maule; Viña Catrala (Felipe Rodrigues) e Tinta Tinto (Roberto Carranca), de Casablanca.
Andes Plateau (Felipe Uribe), do Maipo; Viña Casalibre (Fred Skwara), de Los Lingues; J.O. Wines (Javiera Ortuzar), de Rapel; Villalobos Wines (Martin Villalobos), de Colchagua; e Escândalo Wines (Mauricio Veloso), de Cachapoal.
Do vale de Itata havia Zaranda Vinos (Juan Ignacio Acuña), Rogue Vine (Léo Erazo) e a vinícola de Gustavo Martinez, de mesmo nome. De Bio-Bio, Terroir Sonoro (Juan Ledesma) e Roberto Henriquez. O pequeno vale de Yumbel, na zona de Bio-Bio era representado por Cacique Maravilla (Manuel Moraga Gutierrez) e Estación Yumbel (Mauricio Gonzalez). Do vale del Malleco, também no extremo sul do país, presentes Tipaume (Yves Pouzet) e Aynco (Rodrigo Moraga). Por fim, de vale do Almahue, região de Peumo, Clos de Luz (Gabriel Edwards).
Da Argentina, registro para a presença de 9 vinícolas, a maioria de Mendoza e suas sub-regiões. Família Cecchin (Alberto Cecchin) e Now Viticultores Orgánicos (Adriano Vivas) são genericamente de Mendoza; Mike, Tango Bravo (Mike T. Barrow), de Luján de Cuyo. Escala Humana Wines (Germán Massera) e Paso a Paso Wines (Norberto Paes e Sebastián Bisole) representam o vale de Uco. Tequendama (Giuseppe Franceschini), Tupungato, sub-área de Uco; Altar do Uco (Juampi Michelini), Gualtallary; Finca las Payas (Santiago Salgado), San Rafael. E Pie Grande (Sebastián Bisole), San Martin.
As italianas presentes eram Rocco di Carpeneto (Lidia Carbonetti), do Piemonte; Vigneto San Vito (Federico Orsi), de Colli Bolognesi, Emilia-Romagna; Sangervasio (Lucca Tommasini) da Toscana, e Agri Segretum (Lorenzo de Monaco), da Úmbria.
Da Alemanha havia Fürst Hohenhohe-Oehringen (Joachim Brand), da área de Württemberg; Weingut Schloss Lieser – Thomas Haag (Laura Haag), do Mosel; e DB Schmitt (Bianka e Daniel Schmitt), de Flörsheim-Dalsheim, zona da Renânia Palatinado. Da França, presença de Château du Champ des Treilles (Corine Comme), de Bordeaux; Domaine des Temps Perdus (Clotilde Davenne), da Borgonha; e Domaine des Maravilhas (Jean-Frédéric Bistagne), das Côtes du Rhone.
Da Espanha estavam Bodegas Gratias (Ana Gomes), da Manchuela; La Calandria (Luís Remacha), de Navarra; e a vinícola de Nuria Renom, da Catalunha. De Portugal vieram Quinta do Javali (António Mendes), do Douro; Bojador (Pedro Ribeiro), do Alentejo; e Quinta da Ermegeira (Ricardo Melo), da região de Lisboa.
Presença uruguaia com Viña Progreso (Gabriel Pisano) e Viñedo de los Vientos (Pablo Falabrino). Do Peru, Vinos de Mar/Vinos de Desierto (Pepe Moquillaza), de Quebrada de Ihuanco, e Bodega Murga (Alberto di Laura, Arturo Inga e Pietra Possamai), de Pisco. Por fim, o México estava representado por Bichi Wine (Noel Téllez), de Tecate, na Baja California; e a Eslovênia, por Movia Wines (Ales Kristancic).
Já os naturebas brasileiros vieram em massa. A lista do Rio Grande do Sul, a mais extensa, inclui Atelier Tormentas (Marco Danielle), de Canela; Vinha Unna (Marina Santos) e Casa Ágora (Hélio Marchioro), de Pinto Bandeira; Era dos Ventos (Henrique Zanini), Biosabores (Marina Gallian e João Batista) e a vinícola de Vanessa Medim, de Bento Gonçalves; Vinho Velho do Museu (Juan Luís Carrau), de Caxias; Vinhas do Tempo (Daniel Lopes) e Faccin Vinhos (Bruno e Antônio Faccin), de Monte Belo do Sul.
Além deles, De Lucca (Zulmir e Neusa de Lucca), de Caçapava do Sul; Vivente (Micael Eckert), de Ano Bom Alto Colinas; Cantina Micarone (Caio e Ana Maria Micarone), de Porto Alegre; Famiglia Boroto (Acir Boroto), de Garibaldi; De Cezaro (Daniel de Cezaro (Farroupilha); Negromonte (James Carl), de Capão da Canoa; Weingartner (Marimonio Weingartner), de Pinheiro Machado; Vinhedo Serena (Maurício Ribeiro), de Nova Pádua; Coopernatural (Ricardo Fridtch), de Picada Café; Mendonça Vinhos (Eduardo Mendonça), da Serra Gaúcha; e Montes Vinhos de Autor (Paulo Backes), da Serra do Sudeste.
Os outros representantes brasucas eram de São Paulo. A saber, Bellaquinta (Gustavo Borges), de São Roque; Entre Vilas (Rodrigo Ismael Veraldi), de São Bento do Sapucaí; Cantina Penzo (Flávio Penzo) e vinícola artesanal O Encantado (Guilherme Alves), ambas da cidade de São Paulo.
Alguns vinhos
Entre os (muitos) vinhos provados na Feira Naturebas mostramos alguns, de estilos diversos. Uns mais conhecidos, outros, boas surpresas.
Schloss Lieser Riesling Trocken 2016
Weingut Schloss Lieser/Thomas Haag – Mosel – Alemanha – Weinkeller – R$ 169 – Nota 91
O vinho produzido por Thomas Haag mostra a mineralidade que marca os grandes brancos do Mosel feitos com Riesling. A casa tem história rica.
Por volta de 1885, no vilarejo de Lieser, às margens do rio Mosel, ao lado da cidade histórica de Bernkastel-Kues, o poderoso industrial Eduard Puricelli mandou construir um castelo, o Schloss Lieser, para residência de sua família. Mais tarde ali foi criada a vinícola, que leva o nome da propriedade. Schloss Lieser passou por várias mãos. No início do século XX pertenceu a Guilherme II, último imperador da Alemanha e rei da Prússia, que abdicou em 1918, ao fim da I Guerra Mundial. Thomas Haag, filho do conhecido vinicultor Wilhelm Haag, tornou-se enólogo da Weingut Schloss Lieser em 1992 e a comprou em 1997. Já o castelo foi transformado em hotel de luxo. Em pouco tempo Thomas conseguiu devolver à marca o prestígio do passado. Hoje ele e a família – incluindo a simpática Laura, que esteve na Feira Naturebas 2019 – exploram 13 hectares de vinhas em alguns dos melhores crus do Mosel, como Brauneberger Juffer, Sonnenuhr e Niederberger Helden. No campo, o manejo é natural, com mínimo de intervenção. Na adega, os vinhos são produzidos com fermentação espontânea. Seu Riesling é muito bem feito. Lembra nos aromas abacaxi e pêssego, em meio a suaves notas florais e de petrolato. Na boca é seco (trocken), marcado por acidez vibrante, equilíbrio e elegância. Um branco delicioso (11%).
Importadora Weinkeller – São Paulo, SP – Tel.: (11) 4114-6789 – e-mail: https://loja.weinkeller.com.br/.
Cacique Maravilla Vino Naranja 2018
Cacique Maravilla – Vale de Yumbel – Chile – La Charbonnade – R$ 89,90 – Nota 92
Com seu amplo bigode, Manuel Moraga Cutierrez, é uma grande figura. Ele é um dos expoentes do movimento de vinhateiros do Chile que defendem o resgate da maneira ancestral de fazer vinho, como os antigos campesinos do país, quase artesanal, com intervenção mínima. Engenheiro florestal, tornou-se produtor em 2009, ao herdar uma propriedade com 16 hectares no Secano Interior de Santa Lucía de Yumbel, extremo sul chileno, zona de Bio-Bio, onde encontrou vinhedos da tinta nativa País com mais de 200 anos. Sua vinha é uma espécie de oásis em meio às extensas plantações de Pinus que nos últimos anos invadiram toda a região, ocupando muitas vezes o lugar de vinhas centenárias. Manuel tenta resistir a esse tipo de progresso e diz produzir vinhos como seu tataravô já fazia, sem irrigação e sem usar produtos químicos. Uma de suas ousadias é esse potente Vino Naranja, feito com Moscatel de Alejandria de um vinhedo mais que secular. Normalmente, os brancos são fermentados sem as cascas. Aqui não. Manuel conta que colocou as uvas para macerar por dois meses, com as peles, como se fosse um tinto, em um lagar aberto, de plástico. Ao ficar pronto, já foi para a garrafa. O resultado surpreende. É um vinho potente, de cor amarelo forte, mas com textura macia. Um dos segredos: um terço das uvas sofreu ação da botritis, em que os grãos perdem água e concentram açúcares, ganhando complexidade. Os aromas intensos trazem notas florais, a rosas, e cítricos. Estruturado, mantém o floral na boca, junto com uma boa acidez e longo final. Não é filtrado. Alguns podem chamar de exótico. Só que é muito bom (12,1%).
Importadora La Charbonnade – Canela, RS – Tel.: (54) 3282.4313 – e-mail: www.lacharbonnade.com.br.
Moscatel di Cardinale Capitulo 2 El Naranjo 2018
Finca las Payas – San Rafael – Argentina – Sommelier4U – R$ 269 – Nota 91
Santiago Salgado parece fazer vinhos de improviso, deixando as uvas à sua própria sorte. Engano. Ele é informal e trabalha numa adega quase sem recursos. Mas é muito focado e produz tintos e brancos incríveis. Ex-produtor de teatro e jornalista de rádio, deixou Buenos Aires em 2004 e foi morar em San Rafael, 250 km ao sul de Mendoza, em busca de uma vida mais saudável para a família. Para sobreviver, começou a produzir vinhos. Sem vinhas próprias, está sempre à procura de velhos vinhedos de pequenos agricultores, que conservam as castas nativas herdadas dos avós. Lembra que as uvas criollas eram plantadas misturadas e, no meio delas, tem feito descobertas do arco da velha. Uma dessas variedades quase extintas é a Canela, uva rosada, presente em algumas vinhas em pequenas quantidades, no meio de outras. Santiago só conseguiu fazer um tinto exclusivo com ela quando descobriu um agricultor com 2 fileiras da espécie em seu parreiral. Com isso ele pôde elaborar o excelente Bicho Raro Canela 2017. Nessas andanças, Santiago tornou-se conhecido como o rei da Moscatel di Cardinale, outra casta criolla – na verdade, uva branca de mesa, dessas para comer, com bagos grandes. Com ela produziu seu primeiro vinho, semelhante a este El Naranjo. Conta que não sabia vinificar e colocou as uvas com casca e tudo em bombonas de plástico, para ver no que dava. Funcionou. Este Capitulo 2 é uma versão aprimorada, mas ainda feita de maneira bastante natural, sem nenhuma intervenção. As uvas são maceradas com as cascas por 7 a 10 dias, sem controle de temperatura, como um tinto. O resultado é um branco de cor alaranjada, encorpado, com alguns taninos. Lembra um doce de casca de laranja, até com o típico amargorzinho final. Intenso na boca, mostra boa acidez e frescor. Um branco de respeito (14%).
Importadora Wine Sommelier4U – São Paulo, SP – (11) 94125-7570 – Instagram: @winesommelier4u.
Vivente Pinot Noir 2018
Vivente Vinhos Vivos – Colinas – RS, Brasil – R$ 130 – Nota 90
Micael Eckert, arquiteto de 45 anos, que os amigos chamam de Mica, era cervejeiro. Em 2004, ele e o amigo Rafael Rodrigues criaram a conhecida Cervejaria Coruja, antes produzida em Teutônia, RS, depois em Forquilhinha, SC. Eles venderam a empresa em 2015 e Micael começou a procurar outra atividade. Um pouco por inspiração de Eduardo Zenker (Arte da Vinha), descobriu o mundo do vinho. Junto com os parceiros Rafael Rodrigues e Diego Cartier, lançou-se na nova aventura, na Linha Ano Bom Alto, município de Colinas, no vale do rio Taquari, região central do Rio Grande do Sul. A Vivente apresentou os primeiros vinhos em 2018. Seus espumantes (Pet-Nat), por exemplo, são feitos pelo método ancestral, sem adição de nada, nem de açúcar. Leveduras selvagens, fermentação espontânea, tudo natural. Enquanto seus vinhedos próprios se desenvolvem, a empresa compra uvas de agricultores selecionados, boa parte delas orgânicas. Assim é produzido o Vivente Pinot Noir 2018, um tinto instigante, jovial, fresco, com muita vivacidade. Traz cereja e pitanga nos aromas. Em corpo médio, tem taninos maduros, macios e agradável final. É encontrado em restaurantes de Porto Alegre, Rio e São Paulo – mas a produção, pequena, se esgota logo.
Vinha Unna As Baccantes Cabernet Franc 2017
Vinha Unna – Pinto Bandeira, RS – Brasil – Nota 91
Vinhos naturais, viticultura biodinâmica. É assim que a vinícola comandada por Marina Santos se apresenta. Casada com Israel Dedéa Santos, com quem tem a filha Leona, ela migrou do Turismo para a viticultura. Conta que o projeto nasceu da forma de viver da família, na Linha Amadeu – uma casa de madeira na mata, plantar os próprios alimentos, sem máquinas, agrotóxicos ou adubos químicos. As vinificações começaram em 2009, mas os primeiros vinhos só foram apresentados cinco anos depois, em 2014. Na vinha, práticas orgânicas (certificadas) e biodinâmicas; na adega, vinificação natural, sem nada adicionar ou retirar do vinho. O clima úmido da Serra Gaúcha, onde se situa Pinto Bandeira, sempre foi um desafio. Estudos aprofundados mostraram que Chardonnay e Cabernet Franc são as variedades que mais bem se adaptam ao local – que Marina chama de Terroir de Chuva. Depois ela incorporou a Barbera e hoje faz experimentos também com Pinot Noir, Riesling Renano, Moscato Antigo, Malvasia di Cândia e Merlot. Sempre produções pequenas, que se esgotam logo. A Cabernet Franc continua uma especialidade, como se confirma neste tinto feito com os grãos inteiros, por maceração carbônica. Recorda nos aromas azeitona preta, cereja e algo herbáceo. Corpo médio, ótima acidez, macio, mostra elegância e frescor. Com qualidade, mas fácil de beber (12,5%).
Vinha Unna – Pinto Bandeira, RS – Tel.: (54) 98115-3900 (WhatsApp)
Facebook: www.facebook.com/Vinha-Unna.
Château du Champ des Treilles Grand Vin 2014
Château du Champ des Treilles – Bordeaux – França – De la Croix – R$ 129 – Nota 91
Tinto de Pauillac que mostra força e elegância, com uma bela história por trás. Jean-Michel Comme é hoje um adepto convicto das práticas biodinâmicas, que ele introduziu no renomado Château Pontet Canet, um 5eme cru de Pauillac, de que ele é diretor técnico. Fez a mesma coisa na propriedade que herdou por parte de mãe, o pequeno Château du Champ des Treilles, com 10 hectares e vinhas com mais de 60 anos, na apelação Sainte-Foy, do outro lado do departamento. Ele diz que é um projeto de família, dele, da mulher, Corinne, e dos filhos Thomas e Laure. Um projeto humano, no bom sentido do termo. O casal começou com a consciência do respeito ao meio ambiente e a busca de vinhos que expressassem inteiramente o terroir. No início dos anos 2000, os dois realizaram um sonho louco: plantar parcelas com 10 mil pés por hectare, para acirrar a competitividade das plantas e ter uvas com mais qualidade. Até então, isso era feito somente pelos Grands Crus do Médoc, pois onera bastante a produção. Por volta de 2004, mais um passo, a conversão para o biodinamismo. A melhoria dos vinhos mostrou que estavam no rumo certo. Mas não é fácil ser biodinâmico, ainda que em Bordeaux. Mesmo com todo o respeito ao meio ambiente, certa ocasião Corinne ficou doente, provavelmente intoxicada pelos pesticidas utilizados por um vizinho despeitado. O modo de atuar da família não foi entendido por alguns, e um dia sua caminhonete de trabalho amanheceu com o pneu cortado, vingança de um concorrente revoltado. Jean-Michel e Corinne resistiram a tudo. Hoje as coisas melhoraram e eles colhem os frutos de sua dedicação. Oferecem vinhos encantadores, como este tinto, corte de 50% Merlot, 35% Cabernet Franc, 8% Cabernet Sauvignon e 7% Petit Verdot, amadurecido em tonéis de carvalho usado. Complexo, traz ao nariz boa fruta, a cereja, em meio a notas de eucalipto, cedro e baunilha. Potente, estruturado, forma um conjunto equilibrado, com taninos macios e elegância. Bebe-se com prazer já, mas vai longe na adega (14,5%).
Importadora De la Croix – São Paulo, SP – Tel.: (11) 3097-8917 – e-mail: www.delacroixvinhos.com.br.
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