Grupo Schröder & Schÿler, de Bordeaux, tem quase 300 anos de história e vinhos expressivos, como o Château Kirwan

Grupo Schröder & Schÿler, de Bordeaux, tem quase 300 anos de história e vinhos expressivos, como o Château Kirwan

Yann Schÿler

Houve um tempo em que os grandes negociantes de vinho de Bordeaux, no sudoeste da França, tinham mais prestígio do que os produtores e donos de châteaux. É o caso da maison Schröder & Schÿler, empresa familiar que tem 280 anos de existência, inteiramente dedicada ao negócio do vinho. Há algumas semanas Yann Schÿler, presidente do grupo, e representante da oitava geração da família, esteve em São Paulo para divulgar seus produtos, celebrar 45 anos de parceria com a importadora Mistral e, claro, contar um pouco da história da casa.

Fundada em 1739, Schröder & Schÿler se apresenta como “especialista na seleção de grands crus e petits châteaux, com expertise na elaboração de vinhos e criação de marcas”. Yann contou que os primeiros integrantes da família Schÿler, de origem alemã, foram para a França trabalhar nas obras de saneamento de Bordeaux, onde havia muitos pântanos (marais).

Aos poucos, os trabalhadores juntaram dinheiro, mas eram proibidos de comprar terras. Terminado o serviço de urbanização, dedicaram-se então ao negócio do vinho e se concentravam em uma área às margens do rio Garonne. Na época, vieram também para Bordeaux comerciantes de vinho ingleses, flamengos e irlandeses. Como moravam perto de um antigo convento da Ordem dos Cartuxos, ou Chartreux em francês, os negociantes passaram a ser chamados de chartrons, mesmo nome dado depois a todo o quarteirão.

Château Kirwan, em Margaux

Os negociantes mantiveram poder até os anos 1950. Muitos produtores entregavam seus vinhos em barricas e eram eles, os negociantes, que os engarrafavam e, muitas vezes, envelheciam. Nesse meio, a Schröder & Schÿler era uma das empresas de maior atuação. Entre 1880 e 1910, por exemplo, foi responsável por engarrafar e distribuir vinhos hoje lendários, como Château Lafite e Château Margaux. Nas últimas décadas os crus classés de Bordeaux conquistaram fama, seus donos ganharam status e a situação mudou.

Além de comercializar rótulos de terceiros, como os châteaux Langoa-Barton, Fourcas Hosten e Grand Peyrou, a família Schÿler é dona do consagrado Château Kirwan, um dos Grands Crus Classés da lista oficial dos vinhos de Bordeaux em 1855.

O grupo produz ainda outros vinhos de nível na região, como as séries Private Reserve (Margaux, Médoc e Saint-Émilion) e Private Sélection (Saint-Julien, Pauillac e Pessac-Leognan); Chartron La Fleur; Bordeaux Signature; e La Croix Barton (junto com a família Barton).

Os vinhos provados

A parceria da família Schÿler com a importadora Mistral começou em 1974, época em que o mercado de importados no Brasil enfrentava muitas restrições. Os tempos mudaram, mas o trabalho com a família de Ciro Lilla continua dando bons frutos, como ressaltou Yann Schÿler. Na visita a São Paulo, ele teve encontro com jornalistas e comandou prova em que foram apresentados 14 vinhos produzidos pela maison Schröder & Schÿler ou comercializados por ela. Avaliamos aqui alguns deles, que ajudam a dar uma ideia do portfólio da empresa.

 

 

Chartron La Fleur Blanc 2017

Schröder & Schÿler – Bordeaux – França – Mistral – R$ 113,40 – Nota 90

Branco frutado e fresco, produzido com 100% Sauvignon Blanc, sem passagem por madeira. Nos aromas lembra cítricos e pêssego, com um toque floral. Na boca é seco, leve, macio, com boa acidez. Não muito persistente, mas gostoso e fácil (12,5%).

 

Château Sigognac 2015

Château Sigognac – Bordeaux – França – Mistral – R$ 213,50 – Nota 92

Cru Bourgeois equilibrado e fino, vindo do Médoc. A propriedade, com 43,5 hectares, erguida nas ruínas romanas da Villa Ausone, na planície de Saint-Yzans, pertenceu a várias famílias nobres e já exportava seus vinhos no século XVIII. Em 2009 foi comprada por Christophe Allard, que entregou a elaboração dos produtos ao experiente enólogo Eric Boissenot. O tinto é corte de 60% Merlot e 40% entre Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Petit Verdot, de vinhedos com idade média de 37 anos. Traz ao nariz cereja, especiarias e notas minerais. Mostra bom corpo, é longo, com taninos firmes, maduros, algo austero, sem perder a fineza (13%).

 

Château Grand Peyroud 2014

Schröder & Schÿler – Bordeaux – França – Mistral – R$ 256,30 – Nota 93

Tinto estupendo elaborado na margem direita do rio Dordogne, na apelação Saint-Émilion Grand Cru, com uvas de vinhas velhas, com mais de 40 anos. Mescla de 80% Merlot, 15% Cabernet Franc e 5% Cabernet Sauvignon, amadurece por 18 meses em barricas de carvalho francês (60% novas). Nos aromas complexos há figo, ameixa e especiarias. Encorpado, estruturado, tem taninos sedosos, boa acidez, equilíbrio e elegância, com final longo e delicioso (13%).

 

Château Kirwan 2009

Schröder & Schÿler – Bordeaux – França – Mistral – R$ 1.153,20 – Nota 94

Este renomado château, construído por Mark Kirwan no final do século XVIII em Margaux, listado como grand cru classé em 1855, foi comprado em 1925 pela família Schÿler. Suas instalações foram renovadas e o vinho mantém o prestígio de que sempre gozou. Produzido com seleção das melhores parcelas da propriedade, em solos pedregosos e argilosos, é lote de 56% Cabernet Sauvignon, 17% Merlot, 13,5% Cabernet Franc e 13,5% Petit Verdot. Afinado por 18 meses em foudres de carvalho francês (metade novos), apresenta aromas ricos, em que aparecem ameixa, amora, especiarias, tabaco, em meio a notas de ervas, chá e grafite. Encorpado, estruturado, maduro, mostra equilíbrio, sustentado pela boa acidez e taninos finos. Um conjunto elegante, característica dos melhores Bordeaux (13,5%).

 

 

 

 

 


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