Maldonado e a influência do Atlântico nos vinhos uruguaios
Há 20 anos, quando Paula Pivel e Álvaro Lorenzo decidiram comprar terras na Sierra de la Ballena, a Serra da Baleia, no Departamento de Maldonado, no sudeste uruguaio, não havia vinhedos na região. Apenas muita pedra e um vento forte, que sopra do Atlântico, distante uns 15 km. Hoje Maldonado, onde fica o famoso balneário Punta del Leste, é uma região vinícola em ascensão no país.
Além de Alto de la Ballena, a pequena bodega de Paula e Álvaro, estão ali a grandiosa Garzón, do bilionário argentino Alejandro Bulgheroni; Viña Edén, do brasileiro Maurício Zlatkin e sua mulher, Rosane; Sacromonte, a bela vinícola do peruano Edmont Borit; Bodega Oceánica José Ignacio, de Natalia Welker e Marcelo Conserva; Cerro Toro, da família japonesa Kambara; e bodega Sierra Oriental, da família Diz Morita.
Outras casas compraram terrenos e plantam vinhas em Maldonado. Os exemplos mais lembrados são Bodega Bouza, que tem projeto promissor junto ao cerro Pan de Azúcar, perto de Punta del Este; Familia Deicas, com vinhas na zona de Garzón; e Narbona.
Em recente viagem ao Uruguai, organizada por Uruguay Wine e Inavi, o Instituto Nacional de Vitivinicultura, visitamos a região e provamos muitos de seus vinhos bem feitos.
Ao contrário de outras áreas do país, marcadas por planícies extensas e colinas baixas, Maldonado é zona de morros graníticos. Ali se situa o pico mais alto do Uruguai, Cerro Catedral, na Serra de Carapé, com 500 m de altura. É a região naturalmente mais fria do Uruguai. Ali chove até 1.200 mm por ano, mas ventos constantes secam a umidade e solos pedregosos favorecem a drenagem das vinhas.
Nesta parte do globo as águas do Atlântico são frias, pois recebem correntes que vêm das geladas Ilhas Malvinas. Do mar para o continente sopram brisas amenas, que ajudam a temperar o clima uruguaio. Exercem importante influência sobre os vinhedos, pois fazem aumentar a amplitude térmica, favorecem a maturação lenta e completa das uvas e contribuem para preservar a acidez. O resultado são vinhos com boa fruta e frescor, com menos álcool e mais equilíbrio.
A influência do Atlântico se estende para outras regiões uruguaias, pois suas águas penetram pelo estuário do rio da Prata, passam por áreas de Atlântida e da cidade de Montevidéu, e avançam até o extremo sudoeste do país, onde se localiza a zona de Colônia.
Por este motivo, junto com as vinícolas localizadas em Maldonado vamos falar de três outras, que ficam na área banhada pela mistura das águas do oceano e do estuário do Prata. Estamos nos referindo a Bodega Narbona, em Carmelo, no Departamento de Colônia; Viñedo de los Vientos e Bracco & Bosca, situadas em Atlântida,
A proximidade do Atlântico está para os vinhos uruguaios como a altitude das encostas dos Andes está para as vinhas da Argentina e os vales transversais, no caso do Chile. Por isso a vinicultura do Uruguai cada vez mais se volta para o mar.
Curiosamente, no passado Maldonado possuía muitos vinhedos, destinados à produção de vinhos de mesa. Depois da reconversão das vinhas, iniciada em meados dos anos 1980, os parreirais locais desapareceram.
Por volta de 1992, um estudo feito pelo pesquisador espanhol Luis Hidalgo apontou que esta área tinha grande potencial para a obtenção de vinhos de qualidade. Ele chamou a atenção especialmente para a Sierra de la Ballena.
A previsão de Hidalgo só veio a dar frutos mais de uma década depois. Mas é inegável que de Maldonado hoje saem alguns dos melhores tintos e brancos uruguaios. Ali se dão bem principalmente as tintas Tannat, Cabernet Franc e Syrah. Entre as brancas, destaque para Albariño, uva de grande expressão na Galícia espanhola e, do outro lado da fronteira, no Minho português, onde é chamada de Alvarinho.
O primeiro Albariño uruguaio de alta gama foi apresentado nos anos 2000 pela Bouza. Hoja a casta é uma das especialidades também da Garzón. Eduardo Félix, o bem humorado encarregado dos vinhedos da Garzón, ressalta que antes havia somente 1 hectare de Albariño no Uruguai. Hoje, há 58 ha. e vários produtores acham que esta variedade pode exercer, nos brancos, a mesma função da Tannat nos tintos, como casta icônica do país.
Os vinhos
Na primeira reportagem sobre a recente viagem ao Uruguai, falamos dos vinhos provados nas vinícolas situadas em Montevidéu, Canelones, San José, Paysandú (no noroeste do país, fronteira com a Argentina) e Cerro Chapeu (no nordeste uruguaio, Departamento de Rivera, fronteira com o Brasil).
Nesta segunda reportagem, os olhos estão voltados para Carmelo, em Colonia, onde se forma o rio da Prata, por junção das águas dos rios Uruguai e Paraná; Atlântida, a área em que as águas do Atlântico se encontram com o estuário do Prata; e, principalmente, Maldonado, onde o Prata termina sua viagem até o Atlântico. Todas as vinícolas aqui apresentadas têm boa estrutura para receber visitantes.
Balasto 2017
Bodega Garzon – Maldonado – Uruguai – World Wine – R$ 1.000 – Nota 95
A Bodega Garzon é, no mínimo, deslumbrante. Os vinhedos se estendem pelas colinas graníticas de Pueblo Garzón, a 60 km do balneário de Punta del Leste, e formam uma paisagem arrebatadora. A adega, inaugurada em 2016, é uma construção moderna, com arquitetura arrojada, totalmente sustentável e integrada ao meio ambiente, em que todos os detalhes foram pensados. A área dos tanques de fermentação é de ponta e altamente eficiente. O setor de amadurecimento dos vinhos, com suas tulipas de concreto e foudres de carvalho francês, de cair o queixo. Com certeza é uma das cantinas mais inovadoras e bem montadas do mundo. Para implantar o projeto, o bilionário argentino Alejandro Bulgheroni não poupou recursos. Investiu cerca de 200 milhões de dólares. Ele havia comprado 5 mil hectares de terras em 2000, pretendendo inicialmente desenvolver o agronegócio e a produção de azeite. A ideia da vinícola surgiu depois, em 2008. Ele contratou o conhecido winemaker italiano Alberto Antonini e começou a implantar os vinhedos. Hoje, a empresa tem 212 hectares de vinhas, divididas em 1.200 parcelas. A propriedade fica a 14 km do Atlântico, em linha reta, e o clima sofre influência das brisas frias do mar. Os solos, entre os mais antigos do planeta, vieram da decomposição de rochas. Proporcionam mineralidade e são conhecidos como balasto – nome dado ao tinto ícone da casa. A cada edição, os enólogos Antonini e Germán Bruzzone e o viticultor Eduardo Feliz selecionam as uvas das melhores parcelas dos vinhedos e sugerem o blend. O Balasto 2017 é 50% Tannat, 40% Cabernet Franc, 5% Marselan e 5% Merlot. Fermenta em tanques de concreto, em forma de tulipa, e amadurece por 20 meses em tonéis de carvalho francês de 25 hl e 50 hl, sem tosta. Apresenta ao nariz notas de café, florais e de ervas, em meio a cereja e frutas pretas. Encorpado, suculento, mineral, tem taninos firmes, maduros, suportados por ótima acidez. É um vinho elegante, com muito frescor, delicioso, à altura dos grandes tintos do mundo (14%).
Petit Clos Albariño Block 27 2019
Bodega Garzon – Maldonado – Uruguai – World Wine – R$ 330 – Nota 92
Quando percorreu as terras compradas por Alejandro Bulgheroni em Pueblo Garzón, no início do projeto do que viria a ser Bodega Garzón, o enólogo italiano Alberto Antonini disse ao empresário que a região lhe lembrava a Galícia. O clima úmido e os solos calcários eram semelhantes aos encontrados naquela região da Espanha, onde brilha a Albariño. Recomendou então que, entre outras coisas, mandasse plantar esta casta branca. A uva se deu muito bem nas vinhas da Garzon, e hoje ocupa 40 ha. Junto com a Tannat e a Cabernet Franc, é um dos cartões de visita da casa. O branco da série Petit Clos, novidade no portfólio, vem da parcela 27, orientada ao oceano. O enólogo Germán Bruzzone fez uma experiência, maturando o Albariño em uma barrica especial de carvalho novo francês, estreita e com 2 metros de comprimento, chamada tonel lancero. Deu certo. O vinho traz nos aromas notas florais, herbáceas, cítricos e damasco. Na boca agrada pela estrutura e ótima acidez. É volumoso e mostra bom frescor final (13,5%).
Cetus Syrah 2013
Bodega Alto de la Ballena – Maldonado – Uruguai – Nota 94
Paula Pivel e Álvaro Lorenzo trabalhavam no mercado financeiro em Montevidéu (ela em um banco e ele em uma empresa do setor naval) quando decidiram montar uma vinícola e mudar de vida. Escolheram Maldonado, onde não havia vinhedos, porque tinham lido o trabalho do pesquisador espanhol Luis Hidalgo, que louvava o potencial da região para produzir vinhos de gama alta. Compraram as primeiras terras em 2000, na Sierra de la Ballena, perto de Punta del Este e a 15 km do Atlântico, local com muitas pedras e um vento constante, que sopra do mar. A vinha sobe a ladeira e lá de cima se tem uma linda vista das redondezas, com a Laguna del Sauce abaixo e o cerro Pán de Azúcar ao fundo. Os dois levaram o projeto a sério – Paula deixou o emprego e foi estudar Enologia. Montaram a pequena Alto de las Ballenas com um casal de amigos suecos. Plantaram em 2001, Merlot e Cabernet Franc, depois Tannat, Syrah e Viognier. Hoje possuem 20 hectares de terras, sendo 8 ha. com vinhedos, todos com baixos rendimentos, cerca de 5 mil kg por hectare. Entregam 45 mil litros por ano. Quase duas décadas depois, os desafios continuam. Em 2016, por exemplo, um tornado destruiu as plantações e com isso não puderam produzir vinhos na safra seguinte. Mas ao longo do tempo se firmaram como autores de ótimos vinhos. Uma curiosidade: cultivaram Syrah e Viognier pensando num corte no estilo do Rhône francês. No fim, a Viognier se saiu melhor com a Tannat e a Syrah, sozinha, deu este tinto magnífico. Afinado por 12 meses em carvalho francês, mostra ao nariz notas de chocolate, caramelo, tostados e cereja. Na boca é estruturado, untuoso, macio, com taninos sedosos. Um vinho expressivo, marcado pela fruta limpa e frescor. A empresa trocou recentemente de distribuidor no Brasil e negocia com outra importadora (13,5%).
Alto de la Ballena Viognier 2019
Bodega Alto de la Ballena – Maldonado – Uruguai – Nota 91
Paula Pivel e Álvaro Lorenzo contam com a consultoria do enólogo neo-zelandês Duncan Killiner, especialista em brancos. Não por acaso, produzem ótimos vinhos a partir da Viognier, uva aromática, provavelmente nascida na Croácia, que ganhou fama no Rhône. Aqui estagia por 6 meses em tanques de concreto, em contato com as borras. O exemplar de 2018 é bom, mas o de 2019 parece melhor, perfumado, mais estruturado. Mostra ao nariz notas florais, erva-doce, especiarias e cítricos. Tem cremosidade, acidez boa, é delicado, suavemente seco e apresenta frescor no final, que lembra limão (13,5%).
Viña Edén Cerro Negro Gran Reserva 2017
Viña Edén – Maldonado – Uruguai – R$ 200 – Nota 92
A pequena vinícola, pertencente ao brasileiro Mauricio Zlatkin e sua mulher, Rosane, fica na Ruta 12, que liga o balneário Punta del Leste a San Francisco de la Sierra e a Minas. Quando se olha para o alto do Cerro Negro, impressiona a beleza da adega, de design moderno, perfeitamente incrustada na paisagem de pedras. Mauricio, morador do Rio de Janeiro, começou o projeto do zero, em 2006, quando comprou 300 hectares de terras, a 4 km do Pueblo Edén (ao contrário do português, pronuncia-se com acento no segundo e). Começou a plantar uvas no ano seguinte, fez a primeira vinificação em 2013 e inaugurou a adega em 2016. Com 8 ha. de vinhedos, produz 45 mil garrafas de vinho por ano, comercializadas em operação própria. A região está a 25 km do Atlântico e seu clima sofre a influência do mar. Ali o índice de chuvas é alto, mas os ventos fortes ajudam a secar a umidade, proporcionando uvas sadias e maduras. Viña Edén oferece um interessante espumante Brut Nature, feito pelo método clássico, e bons tintos de Tannat. O destaque é este Gran Reserva, corte de Marselan, Merlot e Tannat, em que 60% do lote estagiam por 20 meses em tanques de concreto e os 40% restantes repousam em barricas de carvalho americano e francês. Rico ao nariz, lembra grafite, especiarias e cereja. Na boca é maduro, untuoso, macio, longo. Um vinho expressivo e elegante (14,3%).
Sacromonte Tannat Reserva 2018
Bodega Sacromonte – Maldonado – Uruguai – Nota 92
Para se chegar a Sacromonte, a partir de Punta del Este, é preciso rodar por uma estrada estreita e montanhosa. Mas ao virar a última curva, a paisagem compensa as dificuldades do acesso. Sacromonte parece um parque, com seus vinhedos que descem pela encosta, um lago, uma pequena capela estilizada, de madeira em forma de triângulo, e, no meio da vinha, quatro bangalôs luxuosos que lembram containeres e no conjunto formam um charmoso hotel rural, com restaurante. O trabalho, e o bom gosto, são do peruano Edmont Borit, que por décadas rodou o mundo (ele morou inclusive em São Paulo) como executivo de uma multinacional. Há alguns anos largou tudo, em busca de uma vida melhor. Foi viver com a família em Montevidéu e decidiu seguir os passos do avô, um enólogo francês que imigrou para o Peru e de quem herdou o nome e a paixão pelo vinho. Em 2014, Borit neto comprou 5 hectares de terras perto de Pueblo Edén, plantou uvas e começou a produzir tintos. É o vinhedo mais alto do Uruguai, a 300 metros de altura, nas encostas do Cerro Grande, na Serra de Carapé. A primeira safra foi em 2017. Hoje possui 100 hectares e entrega cinco mil garrafas por ano – pretende alcançar 20 mil no futuro. Tudo foi planejado com cuidado, buscando a total sustentabilidade. Recentemente, aproveitando uma venda de oportunidade, Borit comprou uma antiga vinícola na zona de Montevidéu, com 30 hectares de terra, sendo 9 ha. com uvas, e uma adega. Mas dá atenção especial a Sacromonte, mesmo nome da antiga vinícola peruana do avô. Ali produz apenas dois tintos, um deles de Cabernet Sauvignon, presença rara no país, pois não se dá bem em Canelones, a principal zona vinícola uruguaia. O outro rótulo é este Tannat Reserva bem feito, afinado por 19 meses em barricas novas de carvalho americano. Apresenta nos aromas notas de coco, florais e de fruta madura. Tem taninos firmes, de qualidade, boa acidez, equilíbrio e grande frescor. Um vinho pronto para beber já, com potencial para guarda (14,5%).
Luz de Luna Tannat 2014
Finca Narbona – Colonia – Uruguai – Inovini – Nota 93
De uma velha granja construída em 1909 em Carmelo, área de Colonia del Sacramento, no sudoeste uruguaio, às margens do Rio da Prata, o mega empresário argentino Eduardo “Pacha” Cantón fez a vinícola butique Narbona. Ali novo e antigo convivem harmoniosamente, com muito bom gosto. Em 1990 ele comprou 50 hectares de terras e a adega centenária, fundada por Juan de Narbona, e começou a restaurar tudo. Ergueu restaurante, loja e um pequeno hotel luxuoso, o Narbona Wine Lodge. As atividades de fazenda permanecem e tudo é feito ou colhido lá, das verduras ao azeite, do queijo ao afamado doce de leite. A partir de 1998 Pacha iniciou o plantio de uvas. Hoje são 15 hectares, a maior parte com Tannat, além de Pinot Noir, Petit Verdot, Syrah e Viognier. A empresa explora vinhas também na região de Maldonado, onde tem uma filial de seu restaurante. Na vinícola, a equipe é liderada pela jovem enóloga Valeria Chiola e por sua prima Fabiana Bracco, que responde pela parte comercial. A produção é de 80 mil garrafas por ano. Carmelo é região quente, normalmente com 2º C a mais que Canelones. Nos primeiros tempos, o empresário argentino contou com a consultoria do celebrado winemaker francês Michel Rolland, e foi dele a inspiração para modelar o Luz de Luna, o tinto top da casa, um Tannat 100%, de perfil moderno. Produzido com uvas selecionadas das melhores parcelas do vinhedo, é fermentado em foudres de carvalho de 5 mil litros, repousa por 19 meses em barricas também de carvalho francês e envelhece outros 27 meses na garrafa. No nariz há notas florais, de chocolate e de tabaco, em base frutada, a cassis e amora. Complexo, estruturado, suculento, é untuoso, tem grande massa tânica, de boa qualidade, sem perder a fineza e a elegância. Um vinho para guarda (14,6%).
Eolo Tannat Gran Reserva 2013
Viñedo de los Vientos – Atlántida – Uruguai – Wine.com.br – R$ 99,90 – Nota 93
Cabelos loiros compridos, amarrados em um rabo de cavalo, bermuda e chinelo. Pablo Fallabrino, 46 anos, é informal, ousado, e seus vinhos são como ele. Mas muito bem feitos. Pablo e a mulher, Mariana Cerutti, moram em uma casa em meio aos vinhedos a 4 km de Atlántida, Canelones, o antigo balneário situado no ponto em que as águas do Rio da Prata se encontram com o Atlântico. Os ventos fortes constantes, trazidos pelas correntes oceânicas, além de inspirarem o nome da vinícola, favorecem o lento e pleno amadurecimento das uvas. Seu avô, Angel Fallabrino, chegou da Itália em 1920, instalou-se em Melilla, na zona rural de Montevidéu, e montou uma das maiores bodegas do país, para vender vinhos de mesa. Uma de suas propriedades era esta de Atlántida, que Pablo herdou em 1995, com apenas 22 anos, implantando ali um projeto pessoal, diferenciado, que tem como mote a intervenção mínima na vinha e nos vinhos. E sempre com inspiração italiana. São 30 hectares, dos quais 12 ha. ocupados com vinhedos, em que ele cultiva principalmente variedades originárias da Itália, como Nebbiolo, Barbera, Dolcetto e Arneis, junto com Tannat, Chardonnay e Gewürztraminer. No caso dos brancos, pretende agora plantar mais castas piemontesas, como Cortese e Freisa, para substituir a acidez proporcionada pela Chardonnay. Entrega ao mercado 80 mil garrafas por ano. Em meio a tantos rótulos de caráter italiano se destaca este tinto, com 85% da emblemática Tannat uruguaia e 15% de Ruby Cabernet (cruzamento de Carignan e Cabernet Sauvignon), afinado por 3 anos em barricas de carvalho bastante usadas. Chocolate, amora e notas balsâmicas aparecem nos aromas. Na boca é amplo, gordo, maduro, com muita fruta e final persistente. Tem vida longa pela frente. A propósito, o nome vai na linha da casa. Como se sabe, na mitologia grega Éolo, filho de Posseidon, é o deus dos ventos. Por fim, deve-se ressaltar a boa relação entre preço e qualidade (14%).
Anarkia 2018
Viñedo de los Vientos – Atlántida – Uruguai – Wine.com.br – R$ 86 – Nota 91
Entre outras ousadias, Pablo Fallabrino apresenta agora em sua pequena vinícola uma nova linha de vinhos sem sulfitos. Entre eles há o Nebbiolo Crudo 2019 e o Anarkia, um Tannat 100%, com intervenção mínima, sem conservantes, nem nada. Vem de uma vinha de meio hectare que fica ao lado da casa da família. Frutado, jovial, apresenta uma carga de fruta vermelha madura, uma espécie de Tannat em pureza. Gordo, com ótima acidez e frescor, mostra vibrantes notas florais, que parecem aquelas sentidas em muitos Vinhos do Porto. Um achado, pelo preço (14,5%).
Gran Ombú Cabernet Franc 2018
Bracco & Bosca – Atlántida – Uruguai – Cantu – Nota 93
Fabiana Bracco tem presença frequente no Brasil, para divulgar os vinhos uruguaios. Dinâmica, ela trabalhou com os rótulos da Bodega Pisano e integra a equipe de Finca Narbona. Agora Fabiana também comanda sua própria vinícola, a jovem Bracco & Bosca, situada na região de Atlántida, ao sul do departamento de Canelones, a 8 km do ponto de encontro das águas do Rio da Prata e do Oceano Atlântico e a apenas 45 km de Montevidéu. É uma longa história. Os pais de Fabiana, Darwin Bracco e Mirtha Bosca, compraram 9 hectares de vinhedos em Piedra del Toro. De início, vendiam as uvas a terceiros e em 2005 criaram a vinícola, que produzia tintos baratos e sem pretensões, comercializados em garrafão. Depois da morte do pai, em 2013, a família pensava se desfazer da propriedade. Por uma dessas viradas da vida, Fabiana foi convencida a continuar o negócio, junto com o marido, Edison Viroga. Eles mudaram tudo, com foco em vinhos de qualidade. Trocaram até o nome. Ao lado da casa da família havia uma árvore grande, típica dos pampas, chamada originalmente umbu, que na linguagem dos índios quer dizer sombra. Quase foi destruída por um raio, num dia de chuva forte, mas sobreviveu. Virou nome dos vinhos da casa, grafado como ombú. Bracco & Bosca produz 60 mil garrafas de vinho por ano, vinificados na mesma adega deixada pelo pai de Fabiana, que agora mescla equipamentos antigos e novos. A família possui 20 hectares de terra, dos quais 10 ha. com vinhedos. Cultiva Tannat, Petit Verdot, Merlot, Syrah, Moscatel e Ugni Blanc, tendo como forte a Cabernet Franc, base do tinto top Gran Ombú. Com repouso de 9 meses em barricas novas de carvalho francês, é rico de aromas, em que há notas de chocolate, ervas, tabaco, ameixa e amora. Na boca se mostra encorpado, estruturado, com taninos maduros, finos. Um vinho elegante, de alta qualidade. A empresa mudou recentemente de importadora no Brasil (13%).
Gran Ombú Blend #13 2018
Bracco & Bosca – Atlántida – Uruguai – Cantu – Nota 92
Os vinhedos de Bracco & Bosca em Piedra del Toro, sob cuidados do viticultor Enrique Sartore, têm manejo orgânico – e há planos para se tornarem biodinâmicos. Os solos são formados por sedimentos e manchas calcárias. O clima quente é amenizado pelos ventos constantes que chegam do mar. Na pequena adega o trabalho conta com a ajuda do enólogo Marcelo Laitano. Fabiana Bracco lidera a equipe e comenta que o desafio é enorme: “As dificuldades são muitas e o dinheiro é pouco, pois estamos contando com nossas economias, sem recorrer a financiamentos bancários. Mas buscamos sempre fazer os melhores vinhos que nossas uvas podem proporcionar”. Um desses vinhos é o Blend #13. Fabiana diz que tem uma relação meio mística com o 13. Foi o ano em que o pai dela morreu (2013) e aconteceram várias outras coisas na família ligadas a esse número. Daí o rótulo do tinto, mescla de 50% Cabernet Franc, 40% Merlot e 10% Petit Verdot, com estágio de 9 meses em barricas novas de carvalho. Lembra ao nariz chocolate, ervas e tabaco, em base de fruta, a ameixa. Encorpado, estruturado, mostra equilíbrio pela boa acidez e frescor. Os taninos maduros tornam o conjunto redondo e macio. Há aqui força e elegância (13%).
Related Articles
La Vinheria distribui bons vinhos naturebas do sul do Chile
Com um ano de atuação, La Vinheria é um e-commerce especializado em vinhos orgânicos e naturais produzidos por pequenos produtores
Entre as ofertas para reabastecer a adega neste inverno há mais importados do que nacionais
Os dias frios chegaram e é um bom momento para reabastecer a adega. Os preços dos vinhos no Brasil estão
Nederburg Foundation Sauvignon Blanc 2016
Nederburg Foundation Sauvignon Blanc 2016 Nederburg – Cabo – África do Sul – Casa Flora/Porto a Porto – R$ 46