Bera mostra um Dolcetto D’Alba frutado e gostoso
Parece que existe um certo preconceito em relação ao Dolcetto, popular tinto do Piemonte, no noroeste da Itália, produzido com a uva de mesmo nome. Alguns o acham rústico, leve, que deve ser bebido jovem, não tem vida longa. Mas isso acontece quando tentam compará-lo com o Barolo ou o Barbaresco, os gigantes desta mesma região. Acontece que Dolcetto é Dolcetto e Barolo é Barolo. Cada um concorre em sua faixa. Os preços também são proporcionais.
Quando bem trabalhada, a uva Dolcetto pode dar vinhos deliciosos, frutados e limpos, como o Dolcetto D’Alba 2017, da vinícola Bera, novidade apresentada pela importadora paulista Vinci. Além de fácil de beber, é bastante versátil. Combina com quase tudo, com pizza, massas, carnes leves, tortas, quiches e muito mais. A propósito, Dolcetto é o vinho do dia a dia e o mais consumido no próprio Piemonte.
A uva e o vinho
Dolcetto é uma uva de ciclo curto, ou seja, tem maturação precoce, e baixa acidez natural. Amadurece quase um mês antes que a Nebbiolo, a nobre casta piemontesa que dá vida ao Barolo e ao Barbaresco. A Dolcetto apresenta algumas características interessantes: as cascas oferecem grande intensidade de cor e forte carga de taninos.
Provavelmente para não concorrer com Barolo e Barbaresco, os agricultores destinam à Dolcetto normalmente os terrenos mais elevados, de clima mais frio, onde a Nebbiolo ou a Barbera, outra casta típica piemontesa, não alcançariam o amadurecimento desejado.
Fácil de cultivar, a Dolcetto mostra alguma dificuldade durante a vinificação, pela intensa presença de taninos. A especialista inglesa Jancis Robinson, MW, em seu livro Guia de Castas (versão portuguesa da Editora Cotovia, Lisboa, 2000) ressalta que os produtores aprenderam a domar a cepa com fermentações curtas. Nestas macerações rápidas, o mosto fica pouco tempo em contato com as cascas, extraindo apenas os taninos que se deseja, sem excessos. Como há nas peles boa intensidade de cor, o vinho pode manter sua bela roupagem rubi ou violeta.
É interessante notar também que, apesar de o nome poder sugerir um vinho doce, os tintos feitos com Dolcetto são secos. Há várias explicações para a origem do nome. Jancis Robinson dá uma delas: por ter acidez baixa, em comparação por exemplo com a Barbera, a Dolcetto parecia mais suave, mais doce, ao paladar piemontês, daí a indicação.
Seja como for, os tintos produzidos com esta uva podem ser produzidos nas províncias de Cuneo e Alessandria, em sete DOCs diferentes – Dolcetto di Dogliani, Dolcetto d’Asti, Dolcetto d’Acqui, Dolcetto delle Langhe Monregalesi, Dolcetto di Ovada, Dolcetto di Diano d’Alba e Dolcetto d’Alba. No caso desta última, a zona de produção reúne 35 comunas ao redor da cidade de Alba. A legislação admite ainda o Dolcetto d’Alba Superiore – com 12 meses de repouso em carvalho e mínimo de 12% de álcool.
De modo geral são tintos leves, frutados, secos, com aromas de cerejas e ameixas. A acidez não é elevada, mas mantém o frescor. Ao se tornar mais conhecida, a Dolcetto vai ganhando algum espaço entre os consumidores, pela simplicidade e fácil entendimento. Na vizinha Ligúria, a mesma uva é conhecida por Ormeasco.
A cantina Bera
A família Bera tem antiga tradição vitícola na comuna de Neviglie, na zona da Langhe, mas somente no final dos anos 1970 começou a engarrafar seus vinhos com o próprio nome. A pequena e caprichosa vinícola é comanda por Valter Bera, com ajuda da mulher, Alida, e dos filhos Umberto e Riccardo.
A propriedade, com 30 hectares, dos quais 23 ha. ocupados pela vinha, se situa entre as cidades de Alba e Asti, à direita do rio Tanaro, que corta a região. Na estrada que vai de Neive a Neviglie, à esquerda se vê uma colina recoberta de vinhedos, tendo na parte baixa duas residências e a adega. É a azienda Bera. Os solos são argilo-limosos, com manchas de rochas em decomposição e calcárias. O clima é frio, com boa ventilação.
Valter Bera trabalha com as principais castas autorizadas no Piemonte – Nebbiolo, Barbera, Brachetto, Dolcetto, Moscato e Chardonnay. Produz grandes vinhos, como Barolo, Barbaresco, Barbera d’Asti e um branco Chardonnay. No Brasil, seus rótulos são distribuídos pela importadora Vinci, do grupo de Ciro Lilla. Na imprensa italiana, a pequena vinícola se destaca pelos espumantes brancos leves Asti e Moscato d’Asti, mas o tinto Dolcetto d’Alba também oferece boa oportunidade de conhecer o estilo da casa.
Bera Dolcetto d’Alba DOC 2017
Azienda Bera – Piemonte – Itália – Vinci – R$ 139,20 – Nota 90
Tinto frutado, bem feito, 100% Dolcetto, produzido com maceração curta e sem passagem por madeira. Lembra nos aromas cereja e morango, com notas florais e de erva seca. Em corpo médio, com boa estrutura, tem taninos firmes, maduros, acidez moderada e frescor final. Um vinho gostoso, fácil, versátil à mesa, já no ponto. É comprar e beber (13,5%).
Importadora Vinci – São Paulo/SP – www.vinci.com.br
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