Lusovini lança o Pedra Cancela Intemporal, um branco maduro espetacular, para celebrar os 20 anos da marca
Sete anos de garrafa antes de sair ao mercado. Em sua maioria, os vinhos brancos são elaborados para serem bebidos jovens, quando mantêm fruta, acidez e frescor. Mas alguns exemplares, com estrutura e complexidade, ganham com a passagem do tempo.
É o caso do branco português Pedra Cancela Intemporal, produzido no Dão, na safra de 2012, com Encruzado, Malvasia Fina e Cerceal Branco. Foi engarrafado em 2013 e lançado somente agora pela empresa Lusovini, para comemorar os 20 anos da marca. Melhorou com a idade e mostra acidez fina, volume, untuosidade e equilíbrio estupendo.
Em tempos de pandemia, o Pedra Cancela Intemporal foi apresentado à imprensa especializada brasileira na semana passada, em uma live a partir de Portugal, comandada pela enóloga Sónia Martins, presidente da Lusovini, e pelo experiente jornalista Luís Ramos Lopes, ex-diretor da Revista de Vinhos e agora da publicação Vinho Grandes Escolhas.
Para o evento, organizado com capricho pela importadora TDP, de Tiago dal Pizzol, cada participante recebeu em casa uma garrafa do vinho e um prato bem português, de bacalhau, preparado pelo ótimo restaurante paulistano Tasca do Zé e da Maria. A assessoria Ch2a cuidou da comunicação. Assim todos puderam degustar juntos, mesmo à distância.
A Lusovini – Vinhos de Portugal surgiu em 2009, criada por um grupo de sócios com famílias há muito ligadas ao mundo vinícola do país. Partiu do Dão e logo se expandiu para Bairrada, Douro, Alentejo e Vinho Verde. Desde o começo apostou nos mercados internacionais. Tem vinhedos próprios, administra marcas já existentes, que desenvolveu e modernizou, e faz parceria com conhecidos enólogos e produtores, como Anselmo Mendes. No Dão, tem sede em um amplo conjunto arquitetônico em Nelas, a Adega Pedra Cancela, onde há grande centro de distribuição dos produtos do grupo.
Ver o que ia dar
Algumas das atuais marcas geridas pelo grupo eram bastante conhecidas, como a Andresen, de Vinho do Porto, e a Pedra Cancela, iniciada no Dão, em 2000, pela família do enólogo e pesquisador João Paulo Gouveia. Sónia Martins ressalta que, ao assumir a Pedra Cancela, a Lusovini ampliou e atualizou o projeto.
Um dos vinhos mais bem sucedidos da série Pedra Cancela é o Reserva Branco, feito com Encruzado e Malvasia-Fina. Segundo Sónia, na colheita de 2012 a equipe de enologia preparou um lote especial, acrescentando Cerceal Branco à dupla anterior, mas achou que o vinho diferia do Reserva e poderia ter alguma dificuldade de apreciação pelo consumidor. “Engarrafamos em 2013 e decidimos não lançar de imediato, deixar na cave e ver o que se poderia fazer depois”, diz ela.
Em 2019, quando a Lusovini começou a planejar a celebração dos 20 anos da marca Pedra Cancela, a equipe fez várias sugestões. Ganhou o branco engarrafado sete anos antes e que, agora, está espetacular. Depois da fermentação, apenas parte do lote passou por barricas de carvalho, todas usadas. O jornalista Luís Lopes diz que o segredo então está claramente no tempo de garrafa, e foi isso que tornou o Intemporal tão diferenciado.
O nome escolhido busca passar a mensagem de que Portugal, onde os grandes vinhos sempre eram associados a tintos, também produz brancos maduros de gama alta, que nada ficam a dever aos principais rótulos do mundo.
As três castas
Luís Lopes lembra que a colheita de 2012 sucedeu à lendária safra de 2011, considerada excepcional em quase todas as regiões do país. Não se imaginaria duas vindimas de exceção seguidas, mas 2012 manteve padrão elevado. Foi um ano seco e teve verão ameno, o que ajudou as uvas a amadurecer lenta e completamente. Deu brancos finos e elegantes, ainda que menos estruturados que os 2011.
Aliás, a própria geografia do Dão, no centro do país, favorece a maturação plena das castas brancas. A região é conformada por um planalto rodeado de montanhas. As altitudes são maiores que a média do país e há grande amplitude térmica – a diferença de temperatura, na época da maturação, entre os dias quentes e as noites frias. Isso favorece o completo desenvolvimento dos cachos, sem perder a acidez.
No caso do Intemporal, três uvas bancas entraram na composição – Encruzado, Malvasia-Fina e Cerceal Branco. Ao falar sobre elas, Luís Lopes deu uma verdadeira aula. Encruzado é a grande casta branca do Dão, comparável às melhores de Portugal, ao lado da Arinto e da Alvarinho. Completas, são uvas que proporcionam aos vinhos bom teor alcoólico, volume, acidez, nervo e tensão.
O jornalista português observa que, ao contrário de castas brancas conhecidas, como a Chardonnay, registrada há séculos na França, a Encruzado só começou a ser mencionada nos anos 1940. Antes, a grande variedade branca do Dão era a Malvasia-Fina, casta aromática.
A par de suas qualidades, explica Luís Lopes, a Encruzado leva certa desvantagem inicial: quando jovem, o vinho por ela produzido geralmente é fraco de aromas. A solução adotada pelos enólogos é fermentá-lo em barricas de carvalho; deixá-lo mais tempo na madeira; ou reforçar o lote com a perfumada Malvasia-Fina.
A família das Malvasias está presente em várias regiões portuguesas. No Dão, a Malvasia-Fina, sozinha, normalmente gera vinhos com acidez e persistência medianas, mas no corte pode agregar álcool e untuosidade.
Já a Cerceal tem trajetória curiosa no país. Há três diferentes tipos de uva com nome parecido, embora com grafia distinta – a Sercial, da Ilha da Madeira; a Cercial, da Bairrada; e a Cerceal, do Dão. Esta última costuma dar origem a brancos com pouco álcool, mas com muita acidez.
Assim, na receita do Pedra Cancela Intemporal de 2012, Encruzado e Cerceal Branco aportam acidez, enquanto a Malvasia-Fina oferece untuosidade e equilibra o conjunto. A acidez é um dos componentes essenciais para permitir vida longa ao vinho, mas sem equilíbrio a qualidade seria prejudicada.
A Lusovini tinha em estoque apenas 1.200 garrafas do que veio a ser o Pedra Cancela Intemporal, escolhido para celebrar os 20 anos da marca. Pelo sucesso do produto, no entanto, pretende manter este estilo de branco em seu portfólio. Sónia Martins, enóloga e presidente da empresa, conta que vinhos de outras colheitas já estão engarrafados e em repouso nas caves, para lançamento nos próximos anos. A propósito, brancos maduros de altíssimo nível começam a ganhar fama também em outras regiões portuguesas, prova de que têm espaço e todas as condições para fazer sucesso.
Pedra Cancela Intemporal 2012
Lusovini – Dão – Portugal – TDP/Total Vinhos – R$ 999 – Nota 94
Branco delicioso, lançado pela Lusovini para comemorar os 20 anos de existência da marca Pedra Cancela. Vem da boa colheita de 2012 e permaneceu sete anos em garrafa nas adegas da empresa, antes de vir ao mercado. No lote há 60% de Encruzado, 30% de Malvasia-Fina e 10% de Cerceal Branco. Somente pequena parte da Encruzado (20%) estagiou em barricas de carvalho, usadas. Sem influência da madeira, o longo tempo de garrafa é que fez a diferença no resultado final. A cor amarelo dourado poderia sugerir um vinho mais evoluído. Não é o caso. Os aromas são limpos e no paladar o frescor se mantém. Traz ao nariz cítricos, como tangerina, pêssego, frutas secas, gengibre, mel e erva-doce, com gostosa mineralidade, que lembra pedra raspada. Na boca é amplo, largo, intenso, com acidez vibrante, compensada pela untuosidade. Aparecem mais notas aromáticas, a exemplo de guaraná e manga. Elegante, fino, mostra persistência e grande vivacidade. Ótimo para beber já, tem estrutura para brilhar por muitos anos mais (14%).
TDP/Total Vinhos – São Paulo/SP – (11) 4963-1142 – (11) 95069-0950 – www.totalvinhos.com.br.
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