Espumante Lírica Crua 84 Meses, da Vinícola Hermann, chega ao mercado depois de sete anos com as borras

Espumante Lírica Crua 84 Meses, da Vinícola Hermann, chega ao mercado depois de sete anos com as borras

Nada melhor do que brindar a chegada do novo ano com um espumante de classe. É o caso do Lírica Crua 84 Meses, mais recente lançamento da Vinícola Hermann, de Adolar e Edson Hermann, pai e filho donos também da importadora Decanter. A cuvée é duplamente especial. Ficou 84 meses, ou sete anos, em contato com as leveduras, ganhando em volume e complexidade.

Além disso, recebe no rótulo o complemento Crua porque não passou pelo dégorgement, isto é, a retirada dos sólidos deixados pelas leveduras. Çorte de 80% Chardonnay, 10% Gouveio e 10% Pinot Noir, esta Lírica espetacular fez a segunda fermentação na própria garrafa, pelo método clássico, e só chegou ao mercado no finalzinho do ano passado, ao atingir seu auge.

Adolar, apaixonado por vinhos, criou a Decanter em 1997, depois de trabalhar por 38 anos como executivo de um grupo têxtil catarinense. A família mora em Blumenau, Santa Catarina, e no Estado ele realizou antigo projeto de se tornar produtor de tintos e brancos. Em 1999 ele, o filho Edson e dois amigos fundaram a Quinta da Neve, em São Joaquim e foram os primeiros a apostar na elaboração de vinhos finos em vinhedos de altitudes elevadas.

Em Pinheiro Machado: 21 ha. de vinhedos

O sonho se ampliou no Rio Grande do Sul em 2009, quando a família Hermann comprou um vinhedo em Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste, plantado alguns anos antes por Dorina e Thomas Lindemann, casal de alemães radicados no Alentejo, em Portugal, onde eram donos da Quinta do Plansel e de uma das maiores empresas viveiristas portuguesas, iniciada pelo pai dela, Jorge Böhm.

Com a morte precoce do marido, Dorina não teve mais como tocar o vinhedo gaúcho, que ficou praticamente abandonado até ser comprado por Adolar e seu filho Edson, que eram amigos do casal – a Decanter importa os vinhos Quinta do Plansel/Dorina Lindemann.

Desde o início a Vinícola Hermann conta com a assessoria do brilhante enólogo português Anselmo Mendes, que atua principalmente no Minho, na região dos Vinhos Verdes dedicada à incrível casta branca Alvarinho. Em Pinheiro Machado a família mantém equipe chefiada pelo talentoso enólogo Átila Zavarizze, conhecido pela atuação em vinícolas catarinenses.

Serra do Sudeste, perto da Campanha Gaúcha

A propriedade na Serra do Sudeste tem 100 hectares, sendo 21,2 ha. com vinhedos, localizados a 430 m de altitude. Próxima da Campanha Gaúcha, a região tem clima subtropical fresco, apresentando verões moderados e invernos frios, com ocorrência de geadas. O índice de chuvas é relativamente alto (média de 1.380 mm por ano), mas bem espalhado, de modo a não prejudicar a colheita. O solo areno-argiloso, com afloração de rochas, tem boa drenagem e favorece a adaptação da videira.

Aos poucos, os antigos vinhedos foram recuperados e confirmaram o potencial do lugar para originar vinhos de qualidade. A vinha original, por orientação dos antigos donos, foi plantada com castas portuguesas, como Touriga Nacional, Aragonês, Alvarinho e Gouveio. O encepamento é completado por variedades internacionais, a exemplo de Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Syrah.

Sem adega própria em Pinheiro Machado, a Hermann elabora seus produtos em cantinas de vinícolas parceiras, como Cave Geisse e Quinta Don Bonifácio. Produz assim as linhas de espumantes Bossa e Lírica, e uma série de tintos e brancos varietais chamada Matiz.

 

Desde 2013

Da Serra do Sudeste vem igualmente a cuvée de prestígio Lírica Crua 84 Meses. Adolar conta que o primeiro espumante do tipo feito pela família, isto é, sem a retirada dos sólidos depositados com a morte das leveduras, ocorreu em 2013. Chegou ao mercado no final de 2015.

O vinho tinha muita estrutura e, na época, a equipe decidiu deixar parte do lote na cave, sem oferecer à venda. De tempos em tempos uma garrafa era aberta, para verificar sua evolução. No final de 2020, sete anos depois, chegou-se à conclusão de que o ápice havia sido atingido e finalmente a Lírica Crua 84 Meses foi apresentada ao consumidor.

O champagne e outros bons espumantes produzidos pelo método clássico geralmente permanecem na garrafa em contato com as lias (borras finas) por uns 3 anos. Os especiais, as chamadas cuvées de prestígio, ficam em média 5 anos e, em alguns casos, mais que isso.

As leveduras que atuam no processo de tomada de espuma cessam sua atividade quando consomem todo o açúcar presente no líquido. Se os sólidos resultantes são deixados na garrafa, provocam ao longo dos anos diversas transformações químicas e enzimáticas, trazendo novos aromas e sabores ao vinho.

O início é sempre o mesmo. Um vinho base vai para a garrafa, que recebe o licor de tiragem, com carga doce e novas leveduras, que vão transformar o açúcar em álcool e formar as bolhinhas. O gargalo é fechado com uma pequena proteção de plástico (bidule) e uma tampinha metálica, parecida com as de cerveja.

Adolar Hermann

No final do processo, as garrafas são gradativamente inclinadas, de modo que as borras se concentrem no gargalo. A ponta é então congelada e a garrafa é aberta, expelindo o toquinho de gelo, ao qual estão grudados os sólidos deixados pelas leveduras mortas. É o dégorgement, processo desenvolvido na região de Champagne, na França – por isso era conhecido por champenoise.

Como um pouco do líquido sempre sai junto com o gelo, completa-se a garrafa com o licor de expedição, em que se adiciona certa quantidade de açúcar para chegar ao estilo pretendido – extra-brut, brut, demi-sec ou doce. Aí se colocam a rolha especial e a gaiola de arame.

No caso da série Lírica Crua, como se viu, a retirada dos sólidos não acontece. Como não há o dégorgement, a garrafa é apresentada da forma em que estava na adega da vinícola, ou seja, com a tampinha metálica e, por baixo dela, o bidule. Mas o design da embalagem é diferenciado e recebe elegantes toques dourados na gargantilha e na tampinha metálica, para indicar que se trata de um vinho especial.

 

Lírica Crua 84 meses

Vinícola Hermann – Pinheiro Machado, Serra do Sudeste, RS – Brasil – Importadora Decanter – R$ 129,10 – Nota 93

A cuvée de prestígio da vinícola da família Hermann, mantida na adega por sete anos, vem de um corte de 80% de Chardonnay, 10% Gouveio – casta branca típica de Portugal – e 10% da tinta Pinot Noir. As uvas foram selecionadas das parcelas mais antigas do vinhedo de Pinheiro Machado. Depois da preparação do vinho base, a segunda fermentação foi feita na própria garrafa, pelo método tradicional ou clássico. Terminada esta etapa, a equipe decidiu preservar parte do lote, deixando o vinho sobre as borras desde 05 de setembro de 2013, provando-o de tempos em tempos enquanto envelhecia. Agora, 84 meses mais tarde, concluiu que o espumante atingiu o auge e o lançou. De coloração amarelo dourada, mostra ligeira turvação, pois não foi feito o dégorgement, a retirada dos sólidos (lias) deixados pelas leveduras. Por isso o rótulo indica Lírica Crua. Os aromas lembram pera, damasco e cítricos, em meio a notas florais, minerais, de frutas secas, pão e brioche. Sem o dégorgement, não recebeu o chamado licor de expedição, que poderia adicionar doçura. No estilo ‘nature’, é seco, mas o contato com as lias aportou certa maciez na boca. Volumoso, cremoso, com acidez vibrante, tem frescor e persistência. Mostra complexidade e elegância. Tudo muito natural, sem adição de SO2. O Lírica Crua 84 Meses foi elaborado para a família Hermann nas instalações da Cave Geisse, de Mario Geisse. Foram produzidas apenas 1.400 garrafas. Um espumante gostoso para beber já, mas com estrutura para vários anos pela frente. Recomenda-se beber frio, em taças grandes, para melhor apreciar sua qualidade (11,8%).

 

Importadora Decanter – Atendimento Geral: (47) 99983-2961 – E-commerce: (47) 3038-8875 – www.decanter.com.br.

 

 

 



Related Articles

Escorihuela Gascón mostra boa expressão de diferentes áreas de Mendoza

A vinícola argentina Escorihuela Gascón pertence ao grupo de Nicolás Catena e, embora seja a mais antiga ainda em funcionamento

Gaúcha Peterlongo lança bons tintos com a uva portuguesa Touriga Nacional e com a italiana Teroldego

A vinícola Peterlongo, de Garibaldi, na Serra Gaúcha, está lançando dois novos tintos da série Armando Memória, um produzido com

Casa da Passarella, vinhos com história

  Poucas vinícolas se cercam de tantas histórias para ilustrar seus vinhos como a Casa da Passarella, situada aos pés

No comments

Write a comment
No Comments Yet! You can be first to comment this post!

Write a Comment

Your e-mail address will not be published.
Required fields are marked*