Paul Hobbs, a arte do equilíbrio
Nos últimos anos, Paul Hobbs se transformou em um bem sucedido winemaker internacional, dividindo o tempo entre suas próprias empresas, a Paul Hobbs Winery, nos Estados Unidos, e a Vinã Cobos, em Mendoza, e outras vinícolas da Califórnia, Chile, Argentina, Hungria, França e até Armênia, para as quais presta serviço. Louvado por Robert Parker, que o escolheu duas vezes como Personalidade do Ano, foi chamado pela revista americana Forbes de “o Steve Jobs do vinho”, referência ao lendário criador da Apple.
Ele nasceu no Estado de Nova York. A família morava em Buffalo, onde na década de 1960 o pai começou a plantar uvas. Hobbs o ajudava. No último ano do curso na Universidade de Notre Dame, conheceu um professor de Botânica que trabalhava como produtor de vinhos para a Christian Brothers, uma marca conhecida da Califórnia, no Napa Valley. O professor percebeu o interesse do jovem e o incentivou a ir estudar na Universidade da Califórnia, em Davis, onde Hobbs fez mestrado em Enologia. Lá, pesquisou a influência do carvalho na maturação dos vinhos, as diferenças entre o carvalho francês e o americano. “Naquela época, na Califórnia, amadurecer os vinhos em pequenos barris de carvalho ainda era algo relativamente novo”, contou ele.
Quem primeiro reconheceu seu talento foi o cultuado produtor californiano Robert Mondavi (1913-2008). Ele ficou sabendo dos estudos acadêmicos de Hobbs sobre o uso da madeira e imediatamente o contratou para trabalhar em sua empresa, como pesquisador. Hobbs passou a fazer parte do time que desenvolveu o mítico tinto Opus One e em 1981 foi promovido a enólogo chefe da casa Mondavi, posição que ocupou por quatro anos.
Na Argentina
Em 1988 resolveu conhecer de perto o que se fazia em outros países do Novo Mundo. Foi primeiro para o Chile, onde reencontrou o argentino Jorge Catena, irmão mais novo de Nicolas Catena, com quem estudara. Jorge insistiu para que ele fosse também à Argentina. Hobbs aceitou e acabou surpreso com a qualidade dos vinhedos de Mendoza. “Fiquei mais impressionado lá do que eu havia ficado no Chile”, afirmou depois. No ano seguinte, Nicolas Catena o convidou para trabalhar na empresa da família, a Bodega Esmeralda, basicamente com vinhos brancos – na época, ele queria produzir um excelente Chardonnay.
Segundo Hobbs, os vinhos produzidos naquele período eram precários. Ele percorria os vinhedos com Pedro Marchevsky, então responsável pela parte agrícola da empresa, e trabalhava na cantina com José Galante, o antigo enólogo da casa. Não havia barricas de carvalho, então Hobbs mostrava como fazer um vinho branco básico, com a fermentação malolática, que eles nunca haviam realizado antes.
Por que, então, um vinho branco? Hobbs conta que Nicolas Catena acreditava que produzir vinhos brancos era tecnologicamente mais desafiador. Todo o projeto foi desenvolvido com um foco internacional. Ele achava que se o mundo visse que a Argentina podia produzir um vinho branco de qualidade, seria uma consequência natural que o país pudesse também produzir um vinho tinto de qualidade. Já em 1989 isso foi conseguido.
O desenvolvimento do tinto Malbec
No ano seguinte começou o desenvolvimento dos tintos e foi um processo mais longo, pois os frutos apareceram apenas em 1994, com novo manejo nas vinhas e investimentos em tecnologia. Segundo Hobbs, Nicolas Catena só queria trabalhar com Cabernet Sauvignon. Achava que a Malbec não daria bons vinhos. A situação só mudou em 1995. Um francês chamado Sig Moreau pediu a Paul Hobbs para fazer consultoria para uma vinícola do Chile. A empresa queria introduzir o carvalho americano e para isso, pretendia fazer uma degustação às cegas, comparando os vinhos deles com os de quatro ou cinco outros produtores. “No Chile nós envelhecemos Cabenet Sauvignon nos barris e eu perguntei ao Sig Moreau se poderia utilizar também um Malbec da Argentina”, lembrou o enólogo. “Faça o que você quiser, ele respondeu.”
Então o enólogo envelheceu o Malbec naqueles barris de carvalho americano. Quando Nicolas Catena experimentou esses vinhos, ficou surpreso ao ver como eram bons. Ficou realmente impressionado com a qualidade. Ele tinha excelentes vinhedos de Malbec em Lunlunta, por exemplo. Em toda a extensão do Rio Mendonza o solo era perfeito para a Malbec. A preocupação de Catena era com o envelhecimento, mas é claro que hoje se sabe que eles envelhecem muito bem.
A partir daí, Catena e Hobbs se tornaram referência em Malbec. O winemaker americano costuma dizer que o Malbec argentino tem estrutura e concentração, quase um estilo europeu: “Na minha opinião, isso se deve aos solos duros e cascalhentos de Mendoza. A estrutura do solo é ideal para a Malbec. E há a grande altitude. Os vinhedos estão a cerca de 1.000 metros acima do nível do mar, o que significa que o sol é bastante forte e deixa as cascas mais espessas, o que para a Malbec é extremamente importante.”
A Viña Cobos
Hobbs deixou a Catena em 1997 e passou a dedicar mais tempo à vinícola que fundara em 1991 na Califórnia, a Paul Hobbs Winery, em Sebastopol, no condado de Sonoma. Lá conheceu o casal mendocino Andrea Marchiori e Luis Barraud, que estava nos Estados Unidos para aperfeiçoar sua formação como enólogos na Universidade da Califórnia em Davis. Logo decidiram criar uma empresa para produzir vinhos premium na Argentina, a Viña Cobos.
O nome foi uma associação ao local, a calle Cobos, na zona de Perdriel, Lujan de Cuyo, onde instalaram a vinícola. Ali o pai de Andrea, Nico Marchiori, tinha um vinhedo especial. O objetivo da Cobos era originalmente trabalhar apenas com carvalho francês e destacar a fruta. Hobbs queria produzir da maneira mais pura, porque poucas pessoas no mundo sabiam o que era um Malbec realmente puro.
Essa, aliás, tem sido sua marca como enólogo nos diferentes projetos que desenvolveu: elaborar vinhos equilibrados, estruturados e com muita elegância. Minimalista, procura não fazer grandes intervenções. Na Califórnia, por exemplo, fermenta os vinhos com leveduras nativas e os engarrafa sem filtrar. Ganhou fama com seus Chardonnay, Cabernet Sauvignon e, mais recentemente, com a temperamental Pinot Noir. Cultiva esta uva na propriedade de 7,7 hectares que possui no vale do Rio Russian, em Sonoma.
“A Pinot Noir é uma uva tão desafiadora, que eu a plantei pessoalmente”, comentou. “Eu poderia conseguir outros produtores para plantar Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Merlot, mas Pinot Noir é algo que eu mesmo queria fazer. Eu vejo o desenvolvimento da Pinot Noir na Califórnia de uma forma muito similar ao da Malbec na Argentina.”
Recentemente, Viña Cobos passou a ter novos sócios. O grupo Nieto Senetiner comprou a parte de Andrea Marchiori e Luis Barraud na empresa. Mas Hobbs mantém seus 50% de participação e o comando da vinícola.
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